Oiapoque mais perto do Chuí - VINICIUS TORRES FREIRE
Novo IDH mostra que cidades estão menos desiguais; renda e educação média ainda são díspares
A DESIGUALDADE entre as cidades brasileiras diminuiu bem entre 1991 e 2010, mostra o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU. Dado que os municípios mais civilizados continuaram a melhorar, quase todo mundo progrediu, pois.
A melhoria foi muito mais rápida entre 2000 e 2010, na maior parte anos de Lula, embora nem todo progresso se deva à ação de governos ou do governo durante o qual os resultado foram colhidos.
Note-se ainda que os resultados brasileiros nem são assim excepcionais. Basta considerar os rankings internacionais de índices sociais.
Desde 1980, a classificação brasileira fica ali pelo meião. Em geral, 45% dos países estão numa situação pior do que a nossa; 45% fazem melhor figura. Temos estado nessa faixa de 10%, lá pelo meio da distribuição, subindo aos poucos. Por agora, estamos no limite da faixa dos 45% mais civilizados.
Isso não implica desprezar melhorias ou desmerecer os esforços de quem resolveu problemas.
Progressos científicos, tecnológicos e administrativos, além de melhorias da produtividade média (que barateiam produtos, de remédios básicos a comida) e até mesmo avanços democráticos se difundem por boa parte do planeta. Subimos em parte porque acompanhamos a maré mundial.
No entanto, na maior parte dos casos alguém tem de trabalhar ("técnica" ou "politicamente") a fim de implementar e aproveitar os meios disponíveis. De outro modo, ficamos para trás.
Dito isto, os dados mostram que o acesso das crianças (5 a 13 anos) à educação melhorou bastante, assim como diminuiu a desigualdade de oportunidade dos meninos que vivem em cidades primitivas e mais avançadas. Isto é, ao menos em termos quantitativos. Qualidade de atendimento é outra história.
Ainda há horrores de iniquidade quando se medem a formação no ensino médio entre jovens de 18 a 20 anos e a diferença de renda média por cabeça. Em termos absolutos, nossa taxa de formação no ensino médio é ainda equivalente a uns 60% daquela da OCDE, as quase três dúzias de países mais civilizados do mundo. Ou seja, o desempenho fraco é ainda mais desastroso por causa da desigualdade.
Quanto à renda per capita, um fato simples e importante é que imensos pedaços do Brasil nem ao menos são conectados ao mercado nacional, a uma economia mais ou menos moderna. Isto é, as pessoas que vivem nessas cidades e periferias ainda estão abaixo da condição de serem exploradas pelo capital, para dizê-lo com sarcasmo amargo. Nem ao menos são mais reserva de mão de obra barata (como dizia FHC, são "inempregáveis").
Essas pessoas estão submetidas a indignidades revoltantes porque não têm escola (se há, não há professores, e, se esses existem, são ruins). Porque nossa infraestrutura econômica é primitiva: as pessoas moram longe. Não há estrada e transporte decente para integrar populações a mercados (ou criá-los). Aliás, pedaços imensos do país não tinham luz no ano 2000, outro dia.
Ressalte-se que não se trata ainda de desigualdades produzidas diretamente pela economia de mercado, mas de exclusão primitiva. Entre outras tantas coisas, a gente precisa estudar melhor a geografia da nossa grossa incivilidade.
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