Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 30 de julho de 2013

Para quem eram as armas cubanas confiscadas no Panamá?

Havana foi flagrada com as mãos na massa e terá de contar com as cortinas de fumaça que os do Foro de São Paulo e os ativistas da ALBA lançarão para enredar as coisas na OEA e na ONU. 

O escândalo das armas russas clandestinas embarcadas por Cuba em um navio da Coréia do Norte que pretendia cruzar o Canal do Panamá antes de ser paralisado e inquirido no porto de Manzanillo pelas autoridades do Panamá, está evoluindo de maneira muito estranha. Uma semana depois do começo da inspeção do Chong Chon Gang e da descoberta dos primeiros oito containers carregados de material bélico, certa imprensa, em vez de investigar os pontos mais obscuros desse tráfico de armas, está tratando de desviar a atenção para aspectos secundários, quando não ridículos.
Após ler o que escreveu ontem, por exemplo, La Prensa, do Panamá, não resta dúvida acerca dessa intenção. Esse diário conta-nos que o problema não é o que fez Havana, senão o que fez o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli. Essa publicação assegura que “a presença e participação ativa do presidente, Ricardo Martinelli, no processo”, é um problema. Que o mandatário panamenho“não só participou da apreensão [do navio], senão que publicou constantemente fotos e detalhes do procedimento em sua conta da rede social Twitter”.
Martinelli é, pois, culpado por ter alertado o mundo sobre o que o Panamá havia descoberto. Entretanto, ao fazer isso, Martinelli cumpriu com seu dever constitucional de velar pela segurança do seu país. Esse navio que levava não só dois aviões de combate russos MIG-21 desmontados mas em perfeito estado, um avião para recarregar combustível no ar, uma base de mísseis terra-ar, uma antena de radar com sua plataforma, e dois veículos para rebocar radares, levava também dois tanques repletos de gasolina especial para aviões e mais de 10.000 toneladas de açúcar, matéria esta que é um poderoso carburante. Em outras palavras, o navio coreano, que levava tudo isso em containers deteriorados, não só estava violando a legislação internacional, como era uma “bomba ambulante”, como indicou um ministro panamenho: em condições de intenso calor, esse combustível poderia ter explodido e inflamado as toneladas de açúcar causando um enorme desastre no Canal.
Muitos observadores no Panamá e no estrangeiro se perguntam, por outro lado, para onde iam realmente e quem eram os verdadeiros destinatários dessas armas pesadas, ponto que é, realmente, o principal deste affaire. La Prensa sem responder a isso assegura que o problema é o protagonismo do presidente Martinelli, e não os cubanos nem os coreanos do norte envolvidos nesse tráfico. É legítimo supor, pois, que ante as explicações incríveis de Havana - de que os aviões e mísseis eram armas “obsoletas” que a Coréia do Norte ia reparar -, a ditadura cubana está exigindo de seus agentes de influência, no Panamá e no continente americano, fazer o que for necessário para desviar a atenção e adormecer a comunidade internacional para que este assunto não revele seus segredos, não chegue ao Conselho de Segurança da ONU e Cuba ou Coréia do Norte possam, finalmente, recuperar o navio e seu carregamento.
Essas armas - os dois MIG-21 haviam sido usados recentemente, segundo os experts -, haviam sido enterradas debaixo de 220.000 sacos de açúcar para burlar a vigilância dos aduaneiros do Panamá e quem sabe de que outros países. Quem ia recebê-las e onde? Ninguém sabe nada. O que sabe-se, sim, é que sete outros navios da Coréia do Norte fizeram viagens a Cuba nos últimos quatro anos, com itinerários parecidos ao do Chong Chon Gang, segundo as autoridades panamenhas e o Instituto de Investigação para a Paz Internacional de Estocolmo. Em princípio, esses navios transportaram açúcar. Entretanto, segundo Hugh Griffiths, um expert em tráfico marítimo de armas, consultado pelo Washington Post, existe a possibilidade de que esses navios tenham podido evadir os controles do Panamá e outros países como o Chong Chon Gang queria fazer. O mais interessante é que esse navio, em junho passado, voltou a cruzar o canal e enquanto navegava no Caribe apagou seu dispositivo de localização e não sabe-se em quais portos de Cuba esteve.
A indiferença com que as autoridades e a imprensa da Colômbia olham este assunto é preocupante. O ex-presidente Álvaro Uribe afirmou que havia recebido informação de uma fonte séria, no sentido de que essas armas, ou uma parte, estavam destinadas às FARC. Diante disso, o Governo de Juan Manuel Santos e a imprensa em geral guardaram silêncio, como se a coisa fosse totalmente impensável. Mas não é.
Cada vez que as FARC aceitam falar de paz com o governo colombiano, elas tratam de reforçar seus arsenais e acrescentam sua atividade criminal. Desta vez não fez uma exceção. Pelo contrário, enquanto peroram e especulam em Havana sobre a paz eventual e futura, estão se rearmando, com ajuda de Cuba, Venezuela e Equador (último país por onde entram na Colômbia enorme quantidade de explosivos) e conseguindo re-dimensionar suas estruturas políticas. Seu comitê internacional está, segundo fontes colombianas, mais forte do que nunca e as organizações “populares”, dirigidas por tarimbados milicianos, operam agora sem dificuldade. O tumulto e ocupação da estratégica região do Catatumbo, ainda não desativada pelas autoridades, é o melhor exemplo dessa ofensiva. Isso explica o atual descaramento das FARC que acabam de propor aos camponeses do Catatumbo dotá-los de armas e de “combatentes” nessa “luta”, o que escandalizou um membro dos que dialogam com eles em Cuba. O Governo, em todo caso, engoliu esse sapo e continua nos diálogos como nada estivesse ocorrendo.
Foi precisamente nessa conjuntura de alta tensão, mas também de alto entendimento entre Bogotá e a chefatura das FARC, que estourou o escândalo do navio da Coréia do Norte carregado com material bélico cubano que pretendia passar para o Oceano Pacífico. Foi só uma casualidade? Alguém pode razoavelmente desmerecer a possibilidade de que esses oito containers, cujas séries de registro haviam sido apagadas para impossibilitar a descoberta posterior de sua origem, iam ser descarregados clandestinamente em algum lugar do litoral colombiano ou equatoriano? Não é senão que o navio da Coréia do Norte apague seu dispositivo de localização e sua localização por radar é quase impossível.
As FARC há anos fazem esforços enormes para se dotar de mísseis terra-ar para derrubar os aviões e helicópteros militares da Colômbia. Adquiriram alguns de baixo calibre que não funcionaram, por sorte. Porém, não renunciaram a isso. O contrabando que o navio carregado trazia de Cuba, faz pensar nesses delírios. E em algo muito mais audacioso, à altura do momento “histórico” que elas dizem viver: um par de aviões de combate, com combustível e tudo, desenhados para ataques em solo e suscetíveis de decolar e aterrissar em pistas médias, como é o caso dos MIG-21, teria dado, em poucos dias, um novo caráter à ameaça que as FARC representam para a Colômbia. É isso que está por trás do episódio - aparente - de umas armas “imprestáveis” que Cuba enviava a Pyongyang? 
Não é a primeira vez que Cuba exporta armas clandestinamente para promover a chamada “revolução”, nem a primeira vez que envia seus aviões MIG-21 em navios para outros países, como fez durante as guerras na Etiópia (1978) e em Angola (1987). Logo veremos como termina este novo episódio em que Havana foi flagrada com as mãos na massa. Cuba terá de contar com as cortinas de fumaça que os do Foro de São Paulo e os ativistas da ALBA lançarão para enredar as coisas na OEA e na ONU. A Colômbia deveria se envolver na investigação, pois sua segurança nacional está em jogo.

Tradução: Graça Salgueiro

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