Ora, se até um neutro apóia as idéias de um dos lados, talvez esse lado tenha mais chances de estar correto, não?
Quem já assistiu ao filme “O Homem sem Sombra” sabe dos dilemas que envolvem os seres humanos. Muitos querem fazer várias coisas, mas não podem por causa de convenções sociais, poder da lei, etc.
No
filme, o personagem de Kevin Bacon torna-se invisível após um
experimento científico e aproveita para fazer de tudo que tinha vontade.
Inclusive barbarizar sexualmente sua vizinha gostosona. E tudo isso sem
poder ser punido, pois ele era invisível.
A metáfora do filme serve para explicar a sensação que alguns esquerdistas sentem ao entrarem em debate e fazerem de tudo para não serem reconhecidos como esquerdistas.
Mas
para que isso serviria? A resposta é simples: poderem argumentar com
menores consequências. Guardadas as devidas dimensões, é basicamente a
sensação que o personagem do filme “O Homem Sem Sombra” possuía.
Os
exemplos são vários, mas um dos mais gritantes ocorreu certa vez em um
fórum, onde o sujeito declarou não ser nem de esquerda nem de direita.
Em seguida, fez elogios devastadores ao Occupy Wall Street e ao mesmo
tempo críticas rancorosas em relação ao Tea Party.
A
cada um que o refutava, ele xingava, utilizando termos dos
esquerdistas, mas dizia, para a platéia: “e eu, que não sou esquerdista,
sou obrigado a reconhecer quando o pessoal da esquerda está correto”.
Em
outros momentos, o site Bule Voador alegou que o humanismo “não é de
esquerda nem de direita”. Afirmaram ainda que gostavam de se manter além
desse espectro político. Mas o que foram os vários posts publicados por
lá de idolatria ao Occupy Wall Street, ao mesmo tempo que o Tea Party
era sempre criticado?
Mas espere: como alguém pode defender as posições de esquerda mas não ser de esquerda?
Nesse
caso, seria o mesmo caso de alguém que dá o rabo mas não quer ser
chamado de gay. Ou então que consome drogas mas não quer ser chamado de
drogado. Ou até mesmo alguém que roube continuamente mas não quer ser
chamado de ladrão.
Uma das razões para esse comportamento bizarro pode estar na Estratégia das Tesouras, utilizada por Stálin, conforme afirma o texto de Olavo de Carvalho:
A articulação dos dois socialismos era chamada por Stalin de “estratégia das tesouras”: consiste em fazer com que a ala aparentemente inofensiva do movimento apareça como única alternativa à revolução marxista, ocupando o espaço da direita de modo que esta, picotada entre duas lâminas, acabe por desaparecer. A oposição tradicional de direita e esquerda é então substituída pela divisão interna da esquerda, de modo que a completa homogeneinização socialista da opinião pública é obtida sem nenhuma ruptura aparente da normalidade. A discussão da esquerda com a própria esquerda, sendo a única que resta, torna-se um simulacro verossímil da competição democrática e é exibida como prova de que tudo está na mais perfeita ordem.
Aplicando
no caso da estratégia do Esquerdismo Invisível, basta que um dos
esquerdistas no debate imponha a si próprio o rótulo de “neutro”. A
partir daí, ele defenderá as idéias de esquerda, e aumentará o poder
dessa defesa se fizer o público acreditar em sua neutralidade.
Ora,
se até um neutro apóia as idéias de um dos lados, talvez esse lado
tenha mais chances de estar correto, não? Este é o principal efeito
psicológico obtido por esta estratégia.
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