Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Sobre o PL 1904/2024 e a estratégia da esquerda

  Valterlucio Bessa Campelo

  Quem conhece um pouquinho que seja de Arthur Schopenhauer, o grandíssimo (meu preferido) filósofo nascido em Gdansk, na Polônia, em 1788, que aos 30 anos escreveu sua obra basilar “O mundo como vontade e representação”, já ouviu falar de seus relatados estratagemas para ganhar um debate incluídos no livro “A Arte de ter razão: 38 estratagemas” (1830). Um desses estratagemas, preferido pela esquerda e pela imprensa tendenciosa, é a “falácia do espantalho”, que consiste basicamente em fugir do argumento verdadeiro e apresentar em seu lugar um parecido, porém falso – o espantalho, para que seja o alvo da pancadaria. Veja o exemplo abaixo.

O político Fulano declara que as verbas do governo devem ser prioritariamente destinadas à segurança, saúde e educação; O político Sicrano, amparado pelos meios de comunicação, diz que o Fulano não se importa com a cultura nem com o meio ambiente. Pronto, está criado o espantalho, ou seja, o Fulano foi transformado num sujeito insensível às causas culturais e ambientais e, daí em diante, passa a ser massacrado pelo Sicrano que, ao cabo, sai vencedor. Ganhou a mentira, pois em nenhum momento Fulano se referiu à cultura ou ao meio ambiente, apenas enunciou as prioridades obvias para o gasto público.

Foi o que vimos nas últimas semanas acerca do PL 1904/24, que sob campanha avassaladora da imprensa, replicada à exaustão por jornalistas e políticos de esquerda, chegou a motivar manifestações de rua. Maliciosamente, a esquerda utilizou seus agentes na imprensa, onde é majoritária na proporção de 95% contra 5% segundo última pesquisa, para apedrejar o espantalho, inclusive nomeando-o. O PL do aborto (verdadeiro) foi transformado em PL do estupro (falso), e daí em diante o resultado só poderia ser o que foi. O Presidente da Câmara dos Deputados recuou e criou uma comissão para analisar o PL antes de voltar com ele para o Plenário.

O troço é tão perverso que as redes de televisão em sua totalidade, os sites do governo, os partidos políticos de esquerda e a grande maioria dos blogs e sites de notícia, partiram com tudo para cima do espantalho sem dó nem piedade, ouvindo apenas um lado da moeda. O verdadeiro PL não está sendo debatido, está sendo massacrado na forma de espantalho. Como fizeram isso? Respondo.

Toda essa gente de DNA esquerdista, inclusive alguns jornalistas pretensos cristãos (Deus tá vendo), transmitiu para o público a falácia de que o PL 1904 “condena a estuprada a penas maiores que a do estuprador” como se a pena do estuprador fosse obra do PL. É mentira, NÃO HÁ PENAS PARA VÍTIMAS. Quando o leitor ouvir ou ler alguém falando “o PL criminaliza a menor estuprada que aborta”, saiba que está de frente a um mentiroso. A menor não é alcançada JAMAIS, pois está protegida pela inimputabilidade criminal. Além disso, NÃO HÁ PENA para mulheres estupradas de qualquer idade, pois neste caso a Lei também protege a mulher (Art. 128 do Decreto Lei 2.848). Tem mais. Basta a esquerda apoiar e votar a urgência do PL 4.233/2020 que a pena para estupradores fica aumentada. Vamos lá, valentes! Apoiem, que a coisa fica resolvida, ou não é essa a questão?

Outra trapaça da esquerda é a que ouvi recentemente em um programa de entrevistas na TV. O entrevistador iniciou a sua pergunta à entrevistada, uma conhecida “bondosa” senhora esquerdista, referindo desde logo que essa é uma questão acima da ideologia. Parecia o Bonner entrevistando o Lula “O Sr. não deve nada à justiça”. Essa falácia não é claramente Schopenhaueriana, mas tem o intuito de ganhar o debate salvando a esquerda da bandalheira, enquanto reduz a discussão à falácia do espantalho, como se o aborto não tivesse o amparo canhoto em todo o mundo. Talvez essa mentira tenha servido para sossegar seu coração em conflito, mas, obviamente, o assassinato de crianças no útero pertence à esquerda e não é de hoje.

Em 1920, sob Lenin, a União Soviética foi o primeiro país do mundo a liberar o aborto. Depois de um refluxo stalinista que restringiu a prática a alguns casos específicos (Stálin preferia fuzilar os adultos), ele voltou com tudo, livre e gratuito, sob Kruschev em 1955. A nação mais livre do mundo, dos EUA, somente em 1973 reconheceu o direito ao aborto, mesmo assim, restrito ao período até a 24ª semana de gestação. Recentemente, em 2022, a competência legislativa nos EUA sobre o tema foi delegada a cada Estado, causando diferenciação conforme a localização.

Modernamente, sob o título fajuto de “direitos reprodutivos da mulher”, a violência contra o feto se espraia por todo o mundo, fazendo do assassinato de crianças uma pregação enganosa de afirmação feminista. Não bastam a liberação sexual, a pílula e os vários métodos anticoncepcionais providos pela ciência e disponibilizados pelo Estado. Para a esquerda, é necessário que a mulher decida se quer ser mãe depois de grávida e, pasmem, a qualquer tempo, mesmo depois de ter seu filho lhe chutando a barriga. Para essa gente, o limite deve ser o parto, ou seja, enquanto estiver na barriga, até os nove meses, aquele ser não é HUMANO e pode ser descartado em qualquer privada. A cidadã comum, bombardeada por enem percebe que, no final das contas, são as crianças negras, pobres e portadoras de algum problema congênito que a esquerda pretende descartar, dizendo que estão protegendo a mãe.

Marco fundamental da sanha assassina foi o surgimento nos EUA, em 1942, de uma entidade vinculada à esquerda americana, a Planned Parenthood, que iniciou suas atividades como fornecedora de serviços de saúde reprodutiva e sexual, oferecendo educação sexual, testes de DST e exames ginecológicos. Mais à frente ela se especializou mesmo foi em promover e praticar abortos e hoje é responsável por espantosos 800 assassinatos diários, o que representa 30% dos abortos praticados nos EUA. Essa entidade tem braços em todo o mundo, inclusive no Brasil, através de ONG’s financiadas para defender “o direito reprodutivo das mulheres”.

Quer saber mais? Procure qualquer documento de teses dos partidos de esquerda, especialmente do PT, e em 100% deles achará a o embuste da “defesa dos direitos reprodutivos da mulher”, uma frase bonitinha e ordinária para esconder a verdadeira, horrenda e diabólica “matar o ser humano na barriga da gestante”. Procure nos anais dos encontros, colóquios, seminários e congressos feministas e lá encontrarão o mesmo sofisma.

Voltando ao PL 1904, qualquer pessoa com dois neurônios funcionais e honestos perceberá em sua leitura que seu único objetivo é dizer para a mulher ADULTA: “Após as 22 semanas em seu ventre, há um SER HUMANO e, tal como preconizam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto de San José da Costa Rica e a própria Constituição Federal brasileira, ele deve ter seu direito à vida protegido, inclusive com a hipótese de dá-lo para adoção”. Driblar a Lei para, a pretexto de garantir direitos reprodutivos, negar a lógica e a adequação ao PL, é DESUMANIZAR o feto de 22 semanas, transformando-o em um aglomerado de células a ser jogado numa privada ou, como sugerem várias denúncias internacionais, a ser utilizado como material biológico. Se não fossem tão covardes, os abortistas diriam o que pensam: “mato porque não é um ser humano”.

Outra trapaça da esquerda é empurrar o debate para o campo religioso na tentativa de contaminá-lo com uma visão dogmática, o que descredenciaria o debatedor pró vida. Isso na esfera da imprensa, porque na Câmara dos Deputados, na reunião de líderes para formação da Comissão que analisará o PL 1904/24, os partidos de esquerda espernearam para que NENHUM cristão declarado participasse. Felizmente, nessa, Arthur Lira não capitulou.

Ainda tem a turma do “mas”. Ouvi outro dia um esquerdista candidato a prefeito, autodeclarado cristão, fugir da pergunta sobre o PL com um “Sou contra o aborto, MAS...”. Contra o aborto, uma OVA! Não tem essa de “mas” quando se trata de matar um ser humano no ventre da mãe. Em nenhum texto bíblico há amparo para essa enormidade, nenhuma moral sustenta essa posição dúbia ou complacente com o crime de aborto. Esses políticos meia boca, que vem com essa pilantragem de “mas” relativizam a vida e traem a religião que dizem professar.

Sem medo nem vergonha de ser cristão, deixo aqui duas sugestões. Aos cristãos, que por ignorância ou por fraqueza de convicção fazem concessões ao aborto, sugiro abrirem a Bíblia e ir lá em Salmos 127:3 “Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá”. Ou, em Salmos 71:6 “Desde o ventre materno dependo de ti; tu me sustentaste desde as entranhas de minha mãe. Eu sempre te louvarei!”. Achou pouco? Tente Jó 31:15 “Aquele que me fez no ventre materno não os fez também? Não foi Ele que nos formou, a mim e a eles, no interior de nossas mães?”.

Aos parlamentares, juízes, jornalistas, advogados, senhoras “bondosas” e esquerdistas militantes da causa do aborto, sugiro que assistam alguns dos inúmeros vídeos na internet que mostram o despedaçamento do corpinho, ou a entrada de uma agulha assassina no coraçãozinho de um feto para que seja retirado morto. Por precaução, preparem-se para, talvez, ouvirem o eco de um grito desesperado em suas consciências.









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