EFIGÊNIA BRASILINO/INSTITUTOLIBERAL
“Foi quando li pela primeira vez um dos livros que encontrei em minha casa, quando li a palavra ‘eu’. Quando compreendi a palavra, o livro caiu das minhas mãos e chorei, eu que nunca soube o que eram lágrimas. Chorei em louvor à libertação e compaixão por toda espécie humana” (Cântico, Ayn Rand).
Imagine um mundo em que o comportamento está condicionado ao interesse de um grupo de pessoas. Seu nome, sua família, suas roupas, sua profissão, seu tempo, suas escolhas, todos convergindo para um plano central, um propósito unitário: atender à coletividade.
Nesse mundo perverso, a individualidade não existe. A liberdade morreu. É proibido pensar.
É nessa distopia que Rand criou o cenário de Cântico, primeira obra da autora, com fortes características da filosofia objetivista e visão do individualismo racional. Embora a distopia pareça distante, visto que a atual democracia é permeada por certa liberdade, em inúmeros momentos nos deparamos com dilemas angustiosos vividos pela personagem principal, Igualdade 7-2521, um jovem irresignado e insubordinado em busca da ação humana, acima de qualquer imposição coletivista.
Nesse sentido, surge o maior dilema da modernidade: o EU (personificação da liberdade do indivíduo) versus o NÓS (o coletivismo). Não se trata de mero dilema de dualidade gramatical, no sentido das diferentes classes de palavras, mas de responsabilidade individual, liberdade e do direito posto, nascido conosco, de realizar as próprias escolhas e arcar com suas consequências.
De um lado, encontramos idólatras do NÓS, que defendem maior intervenção, controle, planificação e unidade. “Se não posso controlar seus pensamentos, ações, sentimentos, percepções e experiências, controlaremos o que você verá, comerá, comprará e como se entreterá”. Só assim poderemos ser privilegiados frente sua torpeza, essa é a cruzada.
A esses, nãos se deve atribuir um poder metafísico. Na verdade, são homens e mulheres embebecidos pela falsa ideia de igualdade, que espoliam a propriedade privada, como já noticiado na invasão da propriedade de uma indústria de celulose em 2023 na cidade de Aracruz, no estado do Espírito Santo. Apoiados por políticos socialistas, invadem propriedades privadas e fincam bandeiras vermelhas alegando que são os novos donos.
De outro, sofre o EU em situações comuns, como ao cursar uma faculdade e adquirir uma profissão; vê-se obrigado ao pagamento do conselho da classe de uma taxa que nunca será devolvida. Constantemente é fustigado em ambientes cujos custos são suportados pelos contribuintes. Em vez de liberdade, há forte coerção das ideias socialistas, cuja doutrina é dividir o pão com os pobres, mesmo que isso não resolva a pobreza, e mudar a língua portuguesa para a linguagem neutra, como forma de universalizar os desejos de um grupo de pressão, infringindo a liberdade individual.
Controle. Intervenção. Alienação. Repetição, essa é a equação.
Não raro essas ações estão acompanhadas de medidas arbitrárias e palavras contra o EU, como egoísta, insensível, fiados exclusivamente no lucro, porém, esquece-se que é na opressão coletiva que criamos o racional. Surge, na intervenção, a própria insensibilidade, e, na taxação, a necessidade de diminuir o desconforto através do lucro.
Isso não é um mito, é um fato. Quantas vezes as pessoas viverão sem encará-lo? Quantas vezes as pessoas idolatrarão ministérios inúteis, políticas de tabelamento de preços, inflação alta e maus governos do NÓS ao invés de entender que o EU é quem gera a riqueza para a sociedade? Se o coletivismo é tão efetivo, por que não resolve a fome? Por que não evita as guerras? Por que não cria soluções ou tecnologias?
A resposta nem sempre será simples, mas pode-se concluir que parte de apenas uma premissa: somente o indivíduo pode usar a palavra proibida. Somente o EU poderá nos resguardar de uma distopia.
*Efigênia Brasilino é associada do Instituto Líderes do Amanhã.
PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/a-palavra-proibida/
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