Branca Nunes, Revista Oeste
“Ela estava apoiada na bengala, descansando entre dezenas de jovens suecos, desfrutando de um dos primeiros dias ensolarados de primavera do ano”, começa a reportagem do jornal The New York Times, que conta como a Suécia decidiu ir na contramão da grande maioria dos países e não impor o isolamento social à população no combate à epidemia de coronavírus. “Estou tentando não me aproximar muito das pessoas”, disse Birgit Lilja, 82 anos, a personagem que aparece no início do texto, explicando que havia saído de casa para pegar pessoalmente uma nova carteira de identidade. “Eu confio que eles tomem cuidado comigo.”
A confiança é alta na Suécia – no governo, instituições e na população, conta a reportagem. Quando o governo desafiou o modelo que estava sendo usado no resto do mundo e se recusou a impor um bloqueio geral para “achatar a curva” da epidemia de coronavírus, as autoridades de saúde pública apontaram a confiança como justificativa central.
Os suecos, acreditaram, poderiam ficar em casa, seguir protocolos de distanciamento social e lavar as mãos para retardar a propagação do vírus sem a necessidade de ordens obrigatórias. Ao que tudo indica, a Suécia parece estar tendo o mesmo sucesso no controle do vírus quanto a maioria das outras nações.
A reportagem constata, contudo, que nem todas as pessoas estavam obedecendo os protocolos – o que tornava mais misterioso o aparente sucesso do país em lidar com a epidemia sem apelar para um bloqueio economicamente devastador.
No bairro de Sodermalm, em Estocolmo, os jovens lotavam os bares, restaurantes e parques. “Eles riam e se deliciavam com a liberdade”, destaca a reportagem.
“Não estou vendo estatísticas muito diferentes em outros países”, disse Johan Mattsson, 44, enquanto tomava um drinque num café da rua Skanegatan. “Estou feliz por não termos entrado em bloqueio. A vida tem que continuar”.
Enquanto outros países pisavam no freio, a Suécia manteve suas fronteiras abertas, permitiu que restaurantes e bares continuassem servindo, deixou pré-escolas e escolas primárias funcionando e não impôs limites ao transporte público ou passeios em parques locais. Cabeleireiros, estúdios de ioga, academias e até alguns cinemas permaneceram abertos.
Reuniões de mais de 50 pessoas foram proibidas. Os museus fecharam e os eventos esportivos foram cancelados. Só no fim de março as autoridades proibiram visitas a casas de repouso.
No domingo, cinco restaurantes foram fechados por não observarem os requisitos de distanciamento social. No entanto, eles não foram multados e terão permissão para reabrir depois de passarem por uma inspeção.
“Durante a crise, a Suécia teve unidades de terapia intensiva suficientes para lidar com pacientes infectados pelo coronavírus”, garantiu Lena Hallengren, ministra da Saúde e Assuntos Sociais. “Temos 250 camas vazias agora”.
Isso não quer dizer que a Suécia escapou totalmente das consequências mortais do vírus. A Autoridade Sueca de Saúde Pública admitiu que as pessoas mais velhas foram bastante atingidas e que a doença se espalhou por 75% dos 101 lares para idosos de Estocolmo.
Essa forma mais livre de lidar com a epidemia, contudo, não isolou totalmente a economia sueca, principalmente porque o país depende de exportações, observou Magdalena Andersson, ministra das Finanças. Ela disse que a economia deve encolher 7% este ano, “mas cabeleireiros, restaurantes e hotéis estão sendo menos afetados em comparação com outros países”.
Desde os primeiros sinais da pandemia, a Autoridade Sueca de Saúde Pública decidiu que um bloqueio seria inútil. “Depois de entrar em um bloqueio, é difícil sair dele”, disse Anders Tegnell, epidemiologista-chefe da Suécia. “Como você reabre? Quando?”
Cientistas como Tegnell, que se tornou uma celebridade na Suécia, e não políticos, conduziram o debate sobre a resposta ao coronavírus. Os líderes políticos raramente participam de conferências de imprensa sobre o vírus, e a Constituição sueca impede o governo de se intrometer nos assuntos de autoridades administrativas independentes, como a Autoridade de Saúde Pública.
“Basicamente, estamos tentando fazer a mesma coisa que a maioria dos países está fazendo – diminuir a propagação o máximo possível”, disse Tegnell. “Simplesmente usamos ferramentas um pouco diferentes”.
Um artigo de Daniel Hannan publicado recentemente no The Telegraph resume o que veremos nas próximas semanas: “Se a Suécia for bem-sucedida, todos os bloqueios terão sido inúteis”
extraídaderota2014blogspot
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