Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 1 de maio de 2020

A estratégia sueca contra o coronavírus: “A vida tem que continuar”

Branca Nunes, Revista Oeste

“Ela estava apoiada na bengala, descansando entre dezenas de jovens suecos, desfrutando de um dos primeiros dias ensolarados de primavera do ano”, começa a reportagem do jornal The New York Times, que conta como a Suécia decidiu ir na contramão da grande maioria dos países e não impor o isolamento social à população no combate à epidemia de coronavírus. “Estou tentando não me aproximar muito das pessoas”, disse Birgit Lilja, 82 anos, a personagem que aparece no início do texto, explicando que havia saído de casa para pegar pessoalmente uma nova carteira de identidade. “Eu confio que eles tomem cuidado comigo.”
A confiança é alta na Suécia – no governo, instituições e na população, conta a reportagem. Quando o governo desafiou o modelo que estava sendo usado no resto do mundo e se recusou a impor um bloqueio geral para “achatar a curva” da epidemia de coronavírus, as autoridades de saúde pública apontaram a confiança como justificativa central.
Os suecos, acreditaram, poderiam ficar em casa, seguir protocolos de distanciamento social e lavar as mãos para retardar a propagação do vírus sem a necessidade de ordens obrigatórias. Ao que tudo indica, a Suécia parece estar tendo o mesmo sucesso no controle do vírus quanto a maioria das outras nações.
A reportagem constata, contudo, que nem todas as pessoas estavam obedecendo os protocolos – o que tornava mais misterioso o aparente sucesso do país em lidar com a epidemia sem apelar para um bloqueio economicamente devastador.
No bairro de Sodermalm, em Estocolmo, os jovens lotavam os bares, restaurantes e parques. “Eles riam e se deliciavam com a liberdade”, destaca a reportagem.
“Não estou vendo estatísticas muito diferentes em outros países”, disse Johan Mattsson, 44, enquanto tomava um drinque num café da rua Skanegatan. “Estou feliz por não termos entrado em bloqueio. A vida tem que continuar”.
Enquanto outros países pisavam no freio, a Suécia manteve suas fronteiras abertas, permitiu que restaurantes e bares continuassem servindo, deixou pré-escolas e escolas primárias funcionando e não impôs limites ao transporte público ou passeios em parques locais. Cabeleireiros, estúdios de ioga, academias e até alguns cinemas permaneceram abertos.
Reuniões de mais de 50 pessoas foram proibidas. Os museus fecharam e os eventos esportivos foram cancelados. Só no fim de março as autoridades proibiram visitas a casas de repouso.
No domingo, cinco restaurantes foram fechados por não observarem os requisitos de distanciamento social. No entanto, eles não foram multados e terão permissão para reabrir depois de passarem por uma inspeção.
“Durante a crise, a Suécia teve unidades de terapia intensiva suficientes para lidar com pacientes infectados pelo coronavírus”, garantiu Lena Hallengren, ministra da Saúde e Assuntos Sociais. “Temos 250 camas vazias agora”.
Isso não quer dizer que a Suécia escapou totalmente das consequências mortais do vírus. A Autoridade Sueca de Saúde Pública admitiu que as pessoas mais velhas foram bastante atingidas e que a doença se espalhou por 75% dos 101 lares para idosos de Estocolmo.
Essa forma mais livre de lidar com a epidemia, contudo, não isolou totalmente a economia sueca, principalmente porque o país depende de exportações, observou Magdalena Andersson, ministra das Finanças. Ela disse que a economia deve encolher 7% este ano, “mas cabeleireiros, restaurantes e hotéis estão sendo menos afetados em comparação com outros países”.
Desde os primeiros sinais da pandemia, a Autoridade Sueca de Saúde Pública decidiu que um bloqueio seria inútil. “Depois de entrar em um bloqueio, é difícil sair dele”, disse Anders Tegnell, epidemiologista-chefe da Suécia. “Como você reabre? Quando?”
Cientistas como Tegnell, que se tornou uma celebridade na Suécia, e não políticos, conduziram o debate sobre a resposta ao coronavírus. Os líderes políticos raramente participam de conferências de imprensa sobre o vírus, e a Constituição sueca impede o governo de se intrometer nos assuntos de autoridades administrativas independentes, como a Autoridade de Saúde Pública.
“Basicamente, estamos tentando fazer a mesma coisa que a maioria dos países está fazendo – diminuir a propagação o máximo possível”, disse Tegnell. “Simplesmente usamos ferramentas um pouco diferentes”.
Um artigo de Daniel Hannan publicado recentemente no The Telegraph resume o que veremos nas próximas semanas: “Se a Suécia for bem-sucedida, todos os bloqueios terão sido inúteis”













extraídaderota2014blogspot

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