MIRANDA SÁ
“É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro” (Raul Seixas)
Eu ainda trabalhava como profissional de imprensa em 1999 e não esqueço que às vésperas da passagem de ano acompanhava-se o pavor que ocorria em vários países, com pessoas e seitas esperando o fim do mundo…. Estávamos na véspera do ano 2000 e falava-se de uma revelação profética de que o apocalipse ocorreria num ano de três zeros.
Isto não consta em nenhum livro sagrado das grandes religiões monoteístas e nunca se soube quem profetizou isto; mas não foi uma novidade, porque o mesmo aconteceu na chegada do ano de 1000.
A História registra o corre-corre na virada para o século 10…. Como naquele tempo havia mais medo do inferno do que hoje, os pecadores ficaram apavorados, enchendo as igrejas e os confessionários, buscando o perdão pelos pecados.
E inda a pouco tempo, em 2012, se repetiu a mesma coisa graças às crenças escatológicas do Calendário Maia, de que o fim do mundo aconteceria em 21 de dezembro, o último dia de um ciclo de 5.125 anos da volta do alinhamento de planetas do sistema solar.
Assistiu-se então um corre-corre medonho em pleno século 21 nos Estados Unidos e na Europa, regiões onde há maior número de crendices e de pessoas fascinadas pelo mistério e prisioneiras do medo. Novamente refez-se o pavor para espiar as culpas no Dia do Juízo Final…
O criminoso, o desumano, o injusto e o pecador têm a culpa gravada na cabeça, como uma tatuagem indelével na memória. Também se prende ao inconsciente dos convictos a espera messiânica do judaísmo, uma crença que atravessou o Atlântico com os portugueses trazendo para o Brasil o aguardo de dom Sebastião…
Temos igualmente armazenada no subconsciente dos cristãos a expectativa do Apocalipse, a guerra final do bem contra o mal, entre Deus e o diabo, uma doutrina fatalista nascida na Idade Média pelo papado imperialista.
E o pior é que para imprimir o pânico pela expiação da culpa nos nossos dias, vem o capitalismo selvagem travestido de propaganda editorial vender livros das profecias de Nostradamus, enchendo a mente de ideias que fazem das cabeças vazias oficinas do diabo…
A introversão da culpa é a ameaça do castigo para aqueles estimulados pela avaliação dos seus atos antissociais; seja para os religiosos que transgredem os cânones e caem o pecado, ou para os pervertidos assumidos pelo arrependimento, remorso e vergonha.
O verbete “Culpa” é um substantivo feminino, originário do latim culpa,ae que significa defeito, erro, falta; o seu conceito está no Código Penal no artigo 18, inciso II, onde se diferencia na conduta ilícita o crime doloso e o crime culposo. A culpa não é somente do pecado, mas uma transgressão à Lei.
Para que uma conduta seja considerada crime, segundo a Teoria Geral do Delito, deve ser típica, antijurídica e culpável; é preciso que se enquadre em dolo ou culpa, os elementos subjetivos que erguem a estrutura do crime. É condenável, portanto, ouvir e ver um presidente da República afirmar que a pandemia do coronavírus, com milhares de mortos, é uma “gripezinha”, e um resfriadinho”…
Crime ou psicopatia culposa dominam a mente deste Presidente, dos seus filhos e dos que lhe cercam cultuando a sua personalidade. Mostram-se incapazes de administrar o País nestes tempos de pandemia e transferem sua culpa para outrem, tendo como mentor Hommer Simpson que diz – “A culpa é minha e eu coloco ela em quem eu quiser”.
Os que votaram em Jair Bolsonaro, seja pelo ativismo dele como sindicalista militar, ou por acreditar no seu repúdio à corrupção lulopetista, deverão assumir que somos todos culpados por leva-lo à Presidência para desdenhar da morte dos seus compatriotas.
Da minha parte, contrario Raulzito: admito o “mea culpa” do Confiteor, reconhecendo o meu erro. “Mea culpa, mea máxima culpa”.
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