por Vitor Hugo Soares
Suspense e fofocas: na terça-feira, 16, do quente e frio deste inconstante mês de julho, o site Intercept, do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, com ajuda de expressivos aliados locais, parece ter decidido apostar suas fichas nos dois elementos tradicionais de apelo jornalístico, nos enfoques para segurar o interesse informativo e político, na divulgação de dados de mensagens hacheadas escritas e áudios vazados de conversas pessoais de procuradores da força-tarefa da Lava Jato, e do juiz Sérgio Moro. Pelos indicativos, a finalidade é manter de pé o escândalo que dá sinais, cada dia mais explícitos, de perder o foco, o rumo e freios, como o caminhão – tanque de Encurralado, o filme Cult de Spielberg nos Anos 70.
Condutor deste enredo, Greenwald segue afirmando que o calhamaço obtido será divulgado “por completo”. Sem fixar dead-line, para usar a clássica expressão, corriqueira nas redações do Jornal do Brasil e da Veja, por onde passei. Portanto, sem ano, sem mês, nem dia, nem hora para o ponto final. Neste descompromisso com o tempo e hierarquia das informações (como ensinava em seus livros e no dia-a-dia no JB, o jornalista Juarez Bahia, seis vezes premiado com o Esso) provavelmente está a raiz do vale-tudo desta semana, principalmente em notícias supérfluas, como da viagem de Dallagnol à Fortaleza, para dar palestra sobre combate à corrupção. O foco desta notícia, no entulho do Intercep, foi a passagem da esposa do procurador e seus filhos pequenos (que o acompanharam na viagem) pelo Beach Park. Tudo somado a suposiç ;ões e suspeitas sobre o caráter e a idoneidade moral e profissional do chefe da força-tarefa da maior e mais efetiva ação de combate a corruptos e corruptores no País.
Neste noticiário (entre maledicências e ataques ofensivos) Dallagnol foi classificado como pouco menos que um reles interesseiro, visando obter lucros com a Lava Jato. A ponto de causar protestos indignados e reações duras, entre entidades e personalidades da vida pública, relacionadas a este triste episódio. O ministro da Justiça e da Segurança, Sérgio Moro, mesmo em gozo de licença, nos Estados Unidos, disparou severo recado, em postagem no twitter: “Sou grande defensor da liberdade de imprensa, mas essa campanha contra a Lava Jato e a favor da corrupção está beirando o ridículo. Continuem, mas convém um pouco de reflexão para não se desmoralizarem. Se houver algo sério e autêntico, publiquem por gentileza”. Precisa desenhar?
Diante do que li, vi e ouvi, esta semana, (a corrupção em si e seus responsáveis deixados de lado) fica a alarmante impressão de que o carro do Intercept começa a trafegar “na banguela”. Parece o caminhão-tanque de “Encurralado” (Duel, 71), o filme de Spielberg, que virou uma das mais cultuadas realizações da história do cinema.Relembro: Em uma estrada quase deserta, com muitas retas e margeada por altas montanhas, um homem (Dennis Weawer) dirige tranquilo seu Plymouth vermelho, até dar de cara com o caminhão-tanque enferrujado, cujo rosto do motorista nunca aparece. Ele ultrapassa o veículo, e aí começa o pesadelo.
O público espera que “algo fora do comum aconteça, mas nada acontece”, até o terrivelmente dramático fim do filme. Que não conto, mas recomendo, até como entretenimento infinitamente mais interessante que o calhau do Intercept, até aqui.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta
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