por Miranda Sá
“Em questões mundiais qualquer um aqui pode saber tanto quanto os especialistas. ” (Noam Chomsky)
O jornalismo atual não exige muito dos profissionais de imprensa. Donos de jornal e seus executivos se preocupam mais com a aparência, esperteza e vivacidade dos comunicadores recrutados ao léo, e é por isto encontramos várias artimanhas nas notícias veiculadas.
No regime de exceção – com um censor presente nas redações – botava-se na seção de cartas as críticas que normalmente seriam censuradas. Hoje, porém em pleno Estado de Direito, com a liberdade de imprensa inegavelmente vigorando, não há razão para se inventar personagens fictícias, fingindo veracidade do texto.
Os repórteres falam de fonte que não quer se identificar, e os colunistas citam “um ministro” ou “um empresário”, ou “um parlamentar” anônimos; e, pior do que isto, são useiros e vezeiros em citar “um especialista” fantasma.
Esses “especialistas” que se multiplicam na chamada grande imprensa são invocados para falar de qualquer assunto; tal qual os animadores dos programas políticos da Globo News, com onisciência capaz de saber o que se passa na cabeça da Rainha da Inglaterra.
Tanto uns como outros me irritam profundamente, porque sou do tempo em que especialista detinha um doutorado em determinada área, com o conhecimento aprofundado de uma matéria; e não se escondiam. Encontrávamos entre eles, também autodidatas excepcionais, raros, porém autênticos conhecedores da antropologia, arqueologia, arte, astronomia, economia, farmacologia, física, química, etc.
Entre especialistas de verdade, tínhamos profissionais de artesanato, telefonia, telégrafo, música, ocupando espaços na administração pública ou nas empresas privadas.
O verbete “Especialista” dicionarizado é um substantivo de dois gêneros, indicando que ou quem se dedica a um ramo do saber ou sabe muito sobre determinada coisa na ciência ou nas artes; pessoa que conhece a fundo a maneira de criar e produzir objetos manufaturados. Diz-se também de quem tem habilidade ou prática em certa função.
São especialistas o montador de azulejos e o encanador na construção civil; mecânicos de manutenção de automóveis e aeronaves, enfermeiros e fisioterapeutas, médico perito no tratamento de certas doenças ou autópsias.
Até nos animais como os cães farejadores de narcóticos e burros, camelos, jumentos, lhamas e mulas usados em transportar cargas a longas distâncias temos especialistas. E, por falar em transportes, garimpei do escritor Pittigrilli numa das suas admiráveis crônicas, conta a história de quem foi forçado a tornar-se especialista:
“Um carteiro levou um telegrama que precisava de assinatura do recibo. O endereço, uma Sinagoga, tinha um porteiro analfabeto que precisou chamar Rabino para assiná-lo. Por este incidente, o reverendo demitiu o empregado por falta de instrução.
“Desempregado, o ex-porteiro foi à estação ferroviária e tornou-se carregador de malas. Decorou os horários e com os ganhos, comprou um carrinho para o serviço e recrutou outros colaboradores cooperativados.
“Pelo êxito nos negócios fez empréstimo bancário, constituiu uma empresa e com o tempo, várias filiais. Ficou milionário e reverenciado.
Recebendo uma homenagem da Federação das Indústrias, o porta-voz da entidade exaltou-o como um vencedor mesmo sem instrução, e enfatizou: ‘Ele é um especialista que seria muito maior tivesse estudado! …”.
“O homenageado agradeceu a peroração e respondeu humildemente: – ‘Especializei-me porque se eu tivesse estudado estaria esperando a aposentadoria como porteiro de sinagoga!”
EXTRAÍDADOBLOGDOMIRANDA
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