Jornalista Andrade Junior

domingo, 24 de março de 2019

Partir para o ataque é o maior erro de Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Flávio Bolsonaro

Carlos Newton

Todos sabem que a raiva é má conselheira, mas é muito difícil deixar de misturar as coisas. E há erros de avaliação que podem ser fatais e destruir até quem se julga indestrutível. É o caso dos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, por exemplo, e também do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que pode acabar prejudicando o próprio pai, porque até hoje não entendeu que nas disputas de poder a arma mais importante é a cautela, uma lição que Bolsonaro pai não conhece e, por isso, deixou de ensiná-la aos filhos.
Movidos por uma vingança bem comezinha, que jamais poderia ser considerada uma “santa ira”, Gilmar Mendes e Dias Toffoli resolveram partir para o ataque. E decidiram agir juntos nessa empreitada contra os dragões da maldade que investem contra o Supremo (na visão deles, é claro), enquanto Flávio Bolsonaro tomava idêntica iniciativa na Justiça do Rio de Janeiro, também movido pela raiva.
AMIGOS DE FÉ – Poucos sabem que os Gilmar e Toffoli são amicíssimos, algo incomum na fogueira das vaidades do Supremo, e costumam até viajar juntos para o exterior. Mas todos sabem que Toffoli é o mais desprestigiado ministro da História do Supremo, porque foi reprovado nos dois concursos que fez para juiz e realmente nunca teve notório saber. Quando tomou posse e vestiu a toga, era absurdamente um estranho no ninho do STF. Mas Gilmar Mendes decidiu adotá-lo e desde então se comporta como se fosse preceptor dele
Foi o desejo da desforra que levou os dois ministros a cometer o erro de abrir inquérito para apurar pretensas ofensas ao Supremo, e para tanto usaram supostas prerrogativas do presidente do Supremo, cargo que Toffoli ocupa hoje no sistema de rodízio. E onde se lê “ofensas ao Supremo”, por favor leia-se “o vazamento das informações de que suas respectivas mulheres foram apanhadas numa malha fina da Receita Federal junto com outras 132 personalidades de destaque”, pois a justificativa de Toffoli misturava as coisas:
Considerando a existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações (…) que atingem a honorabilidade do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares”.
SEM CONSULTAR – Movidos pela raiva, Toffoli e Gilmar sequer consultaram suas assessorias para saber se há base legal para abrir o inquérito, sem acionar previamente a Procuradoria-Geral da República. Simplesmente embrulharam e mandaram, e deu certo, porque já existe uma força-tarefa em ação, fazendo diligências em São Paulo e Alagoas.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro reuniu um grupo de deputados do PSL para dar entrada a histéricas representações contra o procurador-geral de Justiça do Estado, Eduardo Gussem, e o promotor Cláucio Cardoso da Conceição. O motivo real é a raiva, mas tem como justificativa a suposta atuação irregular dos dois na investigação aberta a partir da descoberta da movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa.
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P.S. 1 – 
O ministro-relator Alexandre de Moraes está animado em incriminar plantadores de “fake news”, mas ainda não mostrou o menor interesse no caso das mulheres dos ministros. 

P.S 2 – Gilmar e Toffoli mexeram num vespeiro, porque acirram o brio dos auditores da Receita, que vão arranjar uma forma de comprovar a movimentação atípica das duas advogadas e abrir processos contra elas. Da mesma forma, no Rio, o inquérito contra o ex-assessor Queiroz passará a ser tocado em alta velocidade, podendo incriminar o próprio Flávio Bolsonaro pela “rachadinha” e chegar até em Bolsonaro pai.  E convém lembrar que o presidente já está sendo investigado por causa da assessora Nathalia Queiroz, que trabalhava para ele na Câmara Federal, mas morava no Rio e tinha frequência abonada fraudulentamente em Brasília. Como dizíamos no início, a raiva é sempre má conselheira.  (C.N.)





































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