Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 27 de março de 2019

"O Brasil de hoje",

por J.R. Guzzo

O Brasil está ficando um país positivamente arriscado para presidentes da República. Já não é normal, para o padrão médio de moralidade política vigente no mundo civilizado, haver um ex-presidente na cadeia; dois ex-presidentes presos ao mesmo tempo, então, já é coisa para se pensar em livro de recordes, por mais temporária que possa ser uma situação dessas. 
O fato é que Michel Temer, acusado pela Lava Jato de ter transformado o Estado brasileiro numa “máquina de arrecadar propinas” e alvo de dez inquéritos por ladroagens variadas, entrou no camburão da polícia e foi trancafiado no xadrez como Lula, em mais um capítulo desta espantosa crônica do crime na qual está enterrada até o fundo da alma a vida política do Brasil. 
Juntou-se a ex-governadores como o incomparável Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, seu sucessor, que conseguiu subir na vida com o nome de “Pezão”, de Beto Richa, do Paraná, há pouco encarcerado pela terceira vez seguida, e Marconi Perillo, de Goiás, que entra e sai da prisão. Isso sem contar um rico fricassée de ex-ministros ─ o último deles, justamente, Wellington Moreira Franco, parceirão de Temer em seu governo, e motivo de perplexidade geral entre os políticos por não ter sido preso antes. 
Ainda estava solto? 
A propósito: e o próprio Temer, o que estava fazendo fora de uma cela? 
É o Brasil de hoje.
A situação de Temer, é verdade, não é tão ruim quanto a do gênio político a quem devemos sua criação; por enquanto não foi julgado, ao contrário de Lula, que já está condenado em duas instâncias e cumpre pena, com 25 anos de cadeia no lombo. 
Mas é uma desgraça de primeiríssima classe ─ para ele, e, indiretamente, para todos os delinquentes que operam há anos na vida pública nacional.
Estavam achando, talvez, que a Lava Jato tinha mais ou menos parado em Lula? 
Se pensaram nisso pensaram horrivelmente errado. 
Pode ter até havido essa esperança, estimulada pela incansável ala pró-crime do STF, mas a realidade está apresentando um futuro soturno para eles todos. 
Figuras como Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e companhia fazem o que podem, mas também não são de ferro; seus protegidos, positivamente, não ajudam. 
Estão exigindo assistência permanente dos protetores, numa base quase diária. 
Gilmar, por exemplo, solta esse Beto Richa e até inventa um “salvo conduto”, proibindo que a polícia chegue perto dele. 
Mas o homem dá um trabalho insano: consegue ser preso de novo, o que vai obrigar Gilmar e seus sócios a mandarem soltar mais uma vez. 
E aí: vai ser assim pelo resto da vida? 
Quantas vezes terão de tirar o cidadão da cadeia? Cinco? Sete? Dez? 
É a mesma situação, sem tirar nem pôr, dos demais políticos dessa raça. É claro que cada caso é um caso, mas que ninguém se iluda: não haverá a menor chance de sossego, inclusive para Temer, enquanto não matarem a Lava Jato. 
Estão fazendo o diabo para isso, mas não estão conseguindo. 
Essa é a vida real. 
O resto é barulho na mídia e no picadeiro da politicada, que ficam cada vez mais indignados, mas não conseguem evitar uma única e escassa prisão.
É um problemaço. Agora não é mais o PT, apenas, que está correndo da polícia. 
A coisa ficou preta para o PSDB e o MDB. 
A quem apelar? 
Quem vai fazer a campanha “Temer Livre”? 
Quem tiraria 1 real do bolso para ajudar Temer em alguma coisa? 
E Moreira Franco, então? 
Pelo jeito, estão todos reduzidos a contar com o apoio dos “garantistas”, que se escandalizam com o que chamam de ataque “à atividade política”, mas não decidem nada. 
Ou com a ajuda do deputado Rodrigo Maia, contraparente de Moreira Franco, inimigo do projeto anticrime de Sergio Moro e investigado em dois processos por corrupção. 
Têm apoio na mídia, nos advogados milionários de corruptos, na classe intelectual, etc. 
Só que ninguém consegue se dar bem defendendo o lado do ladrão; se você tem de ficar a favor de um Paulo Preto da vida, por exemplo, a sua situação está realmente uma lástima. 
Não é assim que farão a Lava Jato morrer.

Exame






















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