por Vitor Hugo Soares
“Shane”, clássico do cinema norte-americano, que nas telas do Brasil ganhou título de dramalhão “Os Brutos Também Amam”, atravessa o tempo sem perder sua força e significado referenciais. De repente, alguns de seus simbolismos ressurgem, neste incrível março de 2019: da visita do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos – para encontro histórico com seu colega Donald Trump, na Casa Branca, (dia 19) – seguida, para não esquecer, da prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB), dia 21, por agentes da PF, em novíssima etapa da Operação Lava Jato, que celebra 5 anos de existência.
Desculpem os que discordam, mas é esta a impressão causada, no rodado jornalista, desde as primeiras imagens do mandatário brasileiro, em seu melhor estilo Alan Ladd, no desembarque em Washington para a visita que, seguramente, vai dar o que falar e o que pensar durante muito tempo. Na comitiva presidencial, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, – autor do projeto anticrime entregue ao Congresso – ex-juiz federal e figura mais representativa e simbólica da maior e mais efetiva ação de combate a corruptos e corruptores no País.
Acossado, na volta da viagem, (por inimigos da Lava Jato e adversários explícitos ou mal disfarçados do governo), alvejado por tiros partidos de várias direções, dura e até grosseiramente agredido por inúmeros atiradores, a começar pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que chamou o ex-magistrado e atual ministro de estado, de “empregado de Bolsonaro”. Acusou Moro de não entender nada de política, e de “copiar e colar”, do ministro do Supremo, Alexandre Moraes (amigo do peito de Temer), o texto básico do projeto anticrime entregue ao Congresso.
A primeira resposta do ministro da Justiça veio rápida e firme: “Apresentei em nome do governo um projeto de lei inovador e amplo contra o crime organizado, contra crimes violentos e corrupção, flagelos contra o povo brasileiro. A única expectativa que tenho, atendendo aos anseios da sociedade contra o crime, é que o projeto tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso Nacional com a urgência que o caso requer. Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”, disse Moro. A segunda e mais dura reação, provavelmente, foi a que recaiu sobre as costas do ex-presidente Temer, na quinta-feira.
Tudo isto avivou no jornalista e também inveterado amante do cinema, e dos filmes de cowboy, a recordação do filme. A começar, repito, pelo jeitão Alan Ladd (Shane), de Bolssonaro, na “viagem à América”, como ele próprio designou na mensagem postada no Twitter, minutos antes do avião presidencial levantar vôo de volta à Brasília.
No Cult (dirigido por George Stevens) há mais de meio século, o desconhecido Shane, de passagem pelolugar, aceita trabalhar para o rancheiro Joe Starrett (Van Helfin), ao mesmo tempo em que toma conhecimento dos grandes e pequenos conflitos em volta. Shane é um protótipo do “herói sem passado” que, com a talentosa direção de Stevens, se transforma e ganha densidade cênica e psicológica, de arrepiar, no correr da trama. O caráter do protagonista se revela à medida que a história avança. Mais não digo, até porque o espaço terminou. Só recomendo o filme, de cowboy americano, e as cenas do western que recordam novo folhetim político do Brasil, com a prisão de Temer.
Vitor Hugo Soares é jornalista
Com Blog do Noblat
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