Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

"Vende-se terreno na Lua",

por Marcos Lisboa

Parece que muita gente anda assustada. A televisão tem sido abarrotada por propagandas defendendo a relevância da indústria, da Petrobras, do BNDES, dos auditores fiscais e do Sistema S.
Em tempos de penúria fiscal, muitos utilizam os recursos que arrecadam compulsoriamente da sociedade para defender o seu quinhão e exageram na retórica.
Defender a importância da indústria, por exemplo, não implica necessariamente preservar o modelo de crédito subsidiado e de proteções setoriais.
Devemos reconhecer o fracasso das políticas de desenvolvimento da última década, assim como o fato de gastarmos mais com servidores públicos do que outros países que têm serviços bem melhores.
Fracassaram igualmente as políticas para desenvolver o Nordeste e a Amazônia, regiões que continuam dependentes das benesses concedidas pelo restante do país depois de meio século de subsídios. As medidas paliativas não trataram as causas da desigualdade e apenas perpetuaram a pobreza.
Os grupos de interesse utilizam argumentos inflamados para desqualificar a divergência. No meio do caminho, aprovam leis que preservam seus subsídios, evitando discutir outras opções de políticas públicas.
A última coluna sistematizou os resultados surpreendentes de Theodore Schultz e Affonso Celso Pastore acerca do desempenho da agricultura no Brasil em meados do século passado.
A relevância das suas conclusões decorreu da análise cuidadosa dos dados mediada pela estatística, resultado da retórica da ciência que vai na contramão do proselitismo dos vendedores de bálsamos milagrosos.
Em 1950, Schultz observou a importância da educação para o aumento da produtividade e dos salários, antecipando os resultados da agenda de pesquisa depois conduzida por Gary Becker e Jacob Mincer.
Por aqui, porém, caímos no conto do nacional-desenvolvimentismo e descuidamos da educação. Preferimos o descontrole das contas públicas e da inflação para proteger regiões e setores selecionados sob a promessa de que o país se tornaria rico.
Recentemente, Edmilson Varejão, William Summerhill e Samuel Pessôa construíram um modelo contrafactual para estimar o custo da negligência. A nossa renda por habitante teria sido 25% maior em 1985 caso tivéssemos gasto apenas 1% a mais do PIB por ano com educação desde 1933.
Precisamos de menos propaganda e de mais debate sobre as evidências para auxiliar a política, à qual cabe negociar as soluções.
A depender da retórica dos grupos de interesse, os subsídios para setores produtivos e os incentivos para o desenvolvimento regional foram bem-sucedidos. Também não existe déficit na Previdência e a Terra continua no centro do Universo.
Marcos Lisboa
Presidente do Insper, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2005) e doutor em economia
































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