por Marco Antonio Villa
FOTO ANDRADE JUNIOR
No Brasil, família não rima com política. Desde o início da República essa convivência não foi saudável. Hermes da Fonseca, sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, foi acusado de falsificar atas do Governo Provisório para favorecer banqueiros do Encilhamento. Era um momento de intensa especulação financeira. \
O sobrinho do presidente teria alterado decretos sem o conhecimento do tio e dos ministros. Poucos anos depois — e por razões políticas —, Alberto Salles rompeu com seu irmão, o presidente Campos Salles. O pomo da discórdia foi a adoção da Política dos Governadores por parte do presidente que garantia apoio parlamentar no Congresso em troca da entrega dos estados aos potentados locais. \
Meio século depois Getúlio Vargas acabou pagando com a vida pelo envolvimento de um dos seus filhos — Lutero — no atentado da rua Tonelero, a 5 de agosto de 1954. Irritado com as sucessivas denúncias do jornalista Carlos Lacerda na “Tribuna da Imprensa” contra seu pai, segundo algumas versões, Lutero teria solicitado ao chefe da guarda pessoal de Vargas — Gregório Fortunato — que calasse o jornalista.
Quarenta anos depois, Pedro Collor acabou abrindo o caminho para o processo de impeachment de seu irmão. Uma divergência familiar acabou levando à interrupção do mandato presidencial de Fernando Collor em dezembro de 1992.
São apenas alguns exemplos. Mas todos conduziram a uma crise política — exceto o de Alberto Salles que levou ao rompimento da fração positivista do republicanismo histórico com a República dos coronéis, os senhores do baraço e do cutelo no dizer de Euclides da Cunha. Se a presença de famílias nos estados marcou — e marca — a história política do Brasil, não é tão comum a repetição desse fenômeno no plano presidencial. E muitos menos com tantos filhos na política como Jair Bolsonaro. Pode ser lembrado o caso da família Sarney, contudo eram somente dois filhos políticos e sem o poder explosivo dos três de Bolsonaro.
Se no período de transição seus filhos não perderam oportunidade para criar situações embaraçosas para o pai, o que poderemos esperar a partir de 1º de janeiro de 2019? Ter três filhos na política não é um bônus. Especialmente quando não tem vida própria. Foram eleitos graças ao prestígio político do pai. Dessa forma, cada fala de um deles é entendida como se fosse do presidente. Quantas vezes Bolsonaro não teve de desmentir os filhos? Isso pode acabar mal.
IstoE
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