editorial de O Globo
A alergia à democracia une os presidentes Nicolás Maduro, da Venezuela; Evo Morales, da Bolívia; e Daniel Ortega, da Nicarágua. Aparentemente, estão decididos a eliminá-la nos seus países.
Por duas décadas, a Venezuela patrocinou com petrodólares os governos de Morales e Ortega. O dinheiro azeitou as máquinas eleitorais dos líderes boliviano e nicaraguense, ajudando-os a se manter no poder.
Com o desenlace do bolivarianismo, ficção política gestada por Hugo Chávez e morta por inanição monetária na gestão de Maduro, os presidentes da Bolívia e da Nicarágua recorreram a atalhos na política doméstica, basicamente o atropelo das regras do jogo democrático.
Morales acaba de completar 15 anos na presidência boliviana e está em campanha para novo mandato. Seria legítimo se não houvesse impedimento constitucional, confirmado em referendo há menos de dois anos, quando a maioria do eleitorado rejeitou nas urnas conceder-lhe a candidatura ao quarto mandato consecutivo, na eleição de 2019.
Em La Paz, como em Manágua, governos são hegemônicos no Legislativo e no Judiciário. Há peculiaridades determinadas por fatores políticos locais, mas, na essência, compreendem novos formatos ditatoriais. Na Venezuela, Bolívia e Nicarágua, os governos impõem sua vontade pela força, com a conivência de aliados em postos-chave do Judiciário e do Legislativo.
Morales é candidato a nova reeleição por autorização de juízes amigos, apesar da legislação e da vontade popular confirmada nas urnas. Sua campanha eleitoral é favorecida pelo uso e abuso dos cofres recheados por recursos da venda de gás ao Brasil, que há década e meia remunera a Bolívia de forma generosa — opção dos governos petistas que incensaram Morales, assim como Chávez, Maduro e Ortega, entre outros líderes autoritários.
Além disso, percebe-se na economia boliviana um alento das atividades informais, resultante da franca expansão dos negócios do narcotráfico, cujas exportações trafegam pelo território e portos brasileiros, rumo aos mercados da América do Norte e da Europa.
O narcotráfico, também, move parte da economia nicaraguense. Contestado nas ruas, Ortega recorreu ao apoio de milícias armadas para combater adversários e se manter no poder. Contam-se mais de três centenas de mortos em quatro meses de protestos.
O trio Morales, Ortega e Maduro avança para eliminar a democracia num trecho da América Latina onde sobrevivem 50 milhões de pessoas.
extraídaderota2014blogspot
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