por Antônio Augusto Mayer dos Santos.
Dispondo de irrisórios oito segundos de rádio e televisão no primeiro turno, sem utilizar verba pública na campanha e carecendo de estrutura partidária, Jair Bolsonaro deitou por terra pesquisas eleitorais dissimuladas, superou infâmias de todos os matizes, uma facada no abdômen e será o 38º presidente da República por 1.460 dias a contar de 1º de janeiro.
Para exercer tal tarefa, aliás, hercúlea tarefa, o capitão reformado não fomenta ilusões nem dispõe de roteiro previamente traçado para o escabroso caminho a ser percorrido. Pelo contrário. A partir dele próprio, passando pelo seu culto vice-presidente e chegando à equipe ministerial, todos estão cientes, rigorosamente cientes, de que herdaram um país arruinado estrutural, orçamentária e politicamente. Desemprego, corrupção, muita miséria e um tribunal quase sempre a postos para surpreender negativamente formam aquela que pode ser denominada de fração básica do legado. Veículos de comunicação hostis e decadentes, partidos à espreita do surrado (mas sempre rentável) toma-lá-da-cá, congressistas eticamente invertebrados e corporações eternamente insaciáveis arrematam o espólio. Enfim, a confusão é geral, como diz a frase de Machado de Assis.
Mas esse saldo não é nenhuma surpresa. Afinal, faz muito tempo que o Brasil está calcado em escombros superlativos e a sua população, há anos massacrada por governos medíocres, vem convivendo com problemas tornados insolúveis em função da indigência de ocupantes palacianos, da astúcia de quadrilheiros que saquearam profissionalmente a Esplanada dos Ministérios, pela ausência de patriotismo de vários integrantes do Congresso Nacional e, é claro, pela inesgotável roubalheira entranhada no poder público.
Malignos e confiantes na impunidade, os desgovernos da Orcrim traçaram viagens de circunavegação em torno de empresas criminosas e amarraram suas tenebrosas transações ora com ditaduras assassinas, ora com economias fracassadas. Nocivos aos brasileiros, ao progresso e à decência, seus aplicados cleptocratas desmantelaram a administração pública, agigantaram endividamentos internos e externos, implodiram a indústria, o comércio e o campo, inviabilizaram empreendimentos nacionais e internacionais, cravaram uma recessão humilhante, desmoralizaram instituições e aniquilaram desgraçadamente os sistemas de ensino, saúde e previdência, tanto públicos quanto privados. Tinha que dar no que deu. Não há Estado nem economia que resistam a tantos ataques. A verdade, pura e simples, é que a insolvência e o desastre só não foram totais por conta do Impeachment e da Lava Jato.
Em função desses nocautes e da retumbante vitória nas urnas, os futuros governantes do país que aloja aquele que é considerado “o maior ladrão do mundo”, segundo informa o Google, sabem que os rescaldos da disputa presidencial não baixarão tão cedo do horizonte. Além da ladainha digital, ódios e chiliques remanescerão principalmente através de sequazes perfilados no Congresso Nacional e do braço paramilitar comandado décadas a fio por vândalos profissionais que funciona desde sempre sem endereço fixo e destituído de existência legal. Contudo – e aqui tomando emprestado um conhecido binômio da literatura política –, uma vez superada a hora da decisão eleitoral, os novos dirigentes nacionais, amparados na expressiva base parlamentar que as urnas lhes proporcionaram, deverão passar da conquista do poder para o exercício do poder e, com isso, turbinar um governo austero, imbuído de desenvolvimento estratégico e capaz de enfrentar o esqueleto das relações corruptas.
Se por um lado os obstáculos se anunciam inumeráveis e os desafios titânicos, de outro é possível constatar uma determinação impávida por parte da dupla Bolsonaro-Mourão e de seus ministros em superá-los. Esses homens e mulheres são, agora, depositários das genuínas expectativas da maior parcela do povo. Neste sentido, a essência que legitima o poder que lhes foi conferido não é um ponto de chegada, mas de partida. Num momento de tamanha renovação, a sociedade aguarda medidas saneadoras e novos padrões de gestão pública com elevada taxa de entusiasmo. Na prática, as pessoas estão ávidas por uma guinada nisso tudo que está aí. Enfim, serão 1.460 dias pelo Brasil. Alea jacta est.
*Antônio Augusto Mayer dos Santos, advogado e professor de Direito Eleitoral.
extraídadepuggina.org
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