Júnia Gama - O Globo
Em uma demonstração de que pretende
deixar as desavenças com o presidente interino, Michel Temer, para trás,
o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem dado sinais de
estar envolvido nas negociações do impeachment de Dilma Rousseff, que
deve ser julgado no final de agosto. O jantar na última terça-feira à noite com
os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Renan deixou Temer
ainda mais otimista em relação à aprovação do processo de afastamento de
Dilma.
Segundo relatos, Renan teria se mostrado “engajado” na aprovação do
impeachment e chegou a fazer uma conta de votos favoráveis à aprovação
do processo. Até recentemente, Renan tratava o assunto com
distanciamento.
Aliados de Renan dizem que ele relatou a Temer que três votos de
indecisos estariam migrando a favor do impeachment: dos senadores
Romário (PSB-RJ), Cristovam Buarque (PPS-DF) e Otto Alencar (PSD-BA).
Nas contas de Renan, seriam cerca de 60 votos a favor do impeachment,
cálculo semelhante ao de auxiliares de Temer.
O clima entre Renan e Temer, segundo relatos, é de franca melhoria, e os
episódios de trocas de ataques públicos, por enquanto, tendem a ficar
no passado. A inclinação do presidente interino em nomear um indicado de
Renan para o Ministério do Turismo é mais um gesto nessa direção.
Apesar de estar reticente quanto à ida do deputado Marx Beltrão
(PMDB-AL) para a pasta, pelo fato de Beltrão ser réu no Supremo Tribunal
Federal (STF), Temer deu ao presidente do Senado a prerrogativa de
escolher o nome que comandará a pasta.
A convivência entre Renan e Temer é conturbada. Os dois caciques
disputam áreas de influência no PMDB. Um dos maiores cuidados de Temer,
neste momento, é evitar turbulências no Senado, onde será dada a palavra
final sobre o impeachment. Após a conclusão do processo, caso seja
confirmado o afastamento definitivo de Dilma, Temer espera contar com o
apoio do Senado para aprovar, rapidamente, medidas para recuperar a
economia.
Além de Renan ter ficado até o último momento ao lado do governo Dilma,
as divergências entre ele e Temer se tornaram públicas e deixaram
cicatrizes, apenas poucos meses atrás, com um troca de ofensas. Renan
disse que medidas de Temer fariam “Ulysses tremer na cova” (referência
ao ex-deputado e líder do PMDB Ulysses Guimarães) e acusou o então vice
de se preocupar apenas com indicações para cargos, quando ocupou a
articulação política do governo Dilma. Em resposta, Temer disse que o
PMDB não tinha dono, “nem coronel”.
Aliados de Renan afirmam que a mudança de postura foi conseguida com
muitas conversas que o levaram a se convencer de que, gerando
instabilidade para Temer, poderia prejudicar a si ao seu partido. O
governo Temer é visto por caciques peemedebistas como uma oportunidade
única de o PMDB recuperar sua imagem, apagando o estereótipo de partido
apenas fisiológico e sem uma grande liderança ou um projeto para o país.
extraídaderota2014blogspot
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