Jornalista Andrade Junior

FLOR “A MAIS BONITA”

NOS JARDINS DA CIDADE.

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CATEDRAL METROPOLITANA DE BRASILIA

CATEDRAL METROPOLITANA NAS CORES VERDE E AMARELO.

NA HORA DO ALMOÇO VALE TUDO

FOTO QUE CAPTUREI DO SABIÁ QUASE PEGANDO UMA ABELHA.

PALÁCIO DO ITAMARATY

FOTO NOTURNA FEITA COM AUXILIO DE UM FILTRO ESTRELA PARA O EFEITO.

POR DO SOL JUNTO AO LAGO SUL

É SEMPRE UM SHOW O POR DO SOL ÀS MARGENS DO LAGO SUL EM BRASÍLIA.

domingo, 31 de julho de 2016

ESQUERDISTA PIRA!

por Paulo Briguet.
De 1959 para cá, os cidadãos de Cuba que tentam fugir do paraíso socialista para o inferno capitalista (utilizem a tecla SAP de ironia, por favor) são chamados pelo regime de "gusanos". Para quem quiser ter uma noção sobre como é a vida de um gusano, sugiro a leitura de dois livros: "Filho da Revolução", de Luis Manuel Garcia, e "Antes que Anoiteça", de Reinaldo Arenas. Só para começar.
Ontem eu tive a honra de ser chamado de gusano em português. Para quem não sabe, verme. Sim, uma indignada militante feminista, suposta ex-aluna da USP, chamou-me de "verme" porque escrevi contra a doutrinação ideológica nas escolas. Receber tal xingamento é a prova de que estou no caminho certo.
Na minha coluna do último sábado — texto mais lido no ranking da Folha naquele dia —, afirmei que uma minoria militante quer transformar as escolas brasileiras em campos de concentração mental. Nada mais natural, para a militante Maria Dolores Zetkin, do que se referir a um adversário ideológico utilizando um termo de guarda de campo de concentração. "Verme" é como os prisioneiros eram chamados nos campos comunistas e nazistas — afinal, inimigos da esquerda merecem ser "extirpados da face da Terra", no dizer de Saul Alinsky, guru de Hillary Clinton.
Por sinal, Zetkin tem toda pinta de ser um pseudônimo, a não ser que a militante seja descendente de Clara Zetkin, militante comunista agraciada com a Ordem de Lênin em 1932, já na ditadura de Stálin. Por sinal, o caixão de Clara Zetkin foi carregado pelos camaradas Stálin, Molotov, Voroshilov e Ordjonikdze — tudo gente boa. Alguém que se apresenta como Dolores Zetkin é mais ou menos como se eu assinasse Antônio Fidel Dzerzhinsky. Ou Paulo Guevara Alinsky.
Não me espanto que os militantes escolares estejam desesperados e pedindo a minha cabeça a cada quatro palavras. A crônica "Seu filho corre perigo", tanto na Folha quanto no Bonde (onde saiu com o título "A esquerda quer doutrinar nossos filhos"), esteve entre os meus textos mais lidos no jornal até hoje, perdendo apenas para o perfil do delegado Gerson Machado, pai da Lava Jato. Alguns Zetkins atacam o colunista, mas em número incomparavelmente os leitores compartilham e recomendam o texto. Professores, estudantes e pais de família sérios ainda são a grande maioria, e não aceitam a doutrinação ideológica nas escolas. Aliás, doutrinação é um termo muito fraco: o que existe hoje é um projeto de engenharia social à custa da saúde mental de nossos filhos.
Quando a verdade vem à tona, o militante esquerdista vai à loucura. Nem sequer uma celebridade acadêmica como Marilena Chauí consegue manter a linha: acaba dizendo que Sérgio Moro é um "agente do FBI" e por aí abaixo. Ela conseguiu ser pior do que seu companheiro Sibá Machado, que pelo menos delirou citando o órgão correto, a CIA. Daqui a pouco Sibá vai dar aula na USP.
Essa turma precisa urgentemente carpir uma data. Ou — para usar o gênero neutro, como eles gostam — carpir uma datx. É ridículx.












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Caneta mágica

Vlady Oliver:
Sou obrigado a concordar que o melhor lançamento jornalístico de hoje não é um produto jornalístico; é uma brincadeira levada ao ar pelo facebuco. A “caneta desesquerdizadora” é uma iniciativa genial, disposta a mostrar como somos manipulados pelo eufemismo calhorda que ulula nas redações de hoje. Diversão garantida, o espaço é multidisciplinar, embora o grande alvo seja mesmo aquele jornal cheio de moscas, este sim um antro de esquerdistas em botão, gentinha politicamente correta e afins.
Sobra até para este elegante condomínio, devidamente desinfetado de tendências esquerdosas e outras febres de igual teor de circunstância. É óbvio que a coisa deve ser levada na brincadeira, coisa que esquerdista em geral não sabe fazer, pois o humor é a primeira coisa que essa gente trata de patrulhar, sempre que pode. Dos cassetas ao quase inofensivo Didi, não sobrou quase nada de humorismo no período em que durou essa nova intentona comunista nas terras da tanga e dos folguedos.
É claro que estou sendo irônico e saudosista, mas a grande maioria dos atuais “iluminados pelo progressismo barato de um Lula” não verão nada além daquilo que os leva a pedir o linchamento de um Monteiro Lobato. A caneta em questão é sim uma aula de jornalismo. Eu recomendo com todas as letras, especialmente as escritas a mão sobre a calhordice reinante em nossa imprensa atual. Aprecie com moderação.














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“Toma que o apê é seu”

e outras quatro notas de Carlos Brickmann
Nada de estranho: você, caro leitor, não é dono de um imóvel; e, aproveitando a oportunidade que não existe, exige que os donos do imóvel que não é seu (e você proclamou que não é seu) lhe paguem por ele.
Pois é: Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abriu processo contra a Bancoop, Cooperativa Habitacional dos Bancários, e a empreiteira OAS, pedindo que lhe paguem, “em parcela única e imediata”, a quantia de R$ 300.817,37, referentes à cota de um apartamento no Edifício Solaris, no Guarujá – sim, sim, o mesmo do famoso triplex que mobilizou a Polícia Federal e o Judiciário.
Há algum tempo, na Europa, uma igreja cristã, situada ao lado de um prostíbulo, promovia rezas diárias (e em alto volume) contra as atividades do vizinho. E, claro, o volume das orações atrapalhava o movimento. Um dia, o prostíbulo foi destruído por um incêndio, e sua proprietária responsabilizou judicialmente as orações da igreja vizinha pelo problema, exigindo indenização. A igreja disse, na defesa, que as orações nada tinham a ver com o incêndio.
Este colunista não se lembra do resultado da disputa, mas nunca esqueceu uma frase do juiz: “Jamais imaginei julgar uma causa em que um prostíbulo culpe as preces do vizinho como causadoras de seu prejuízo; e a igreja afirmar que as orações não têm efeito nenhum”.

O barateiro
Lembra de Fernando Cavendish, da empreiteira Delta? Aquele da Festa dos Guardanapos, em Paris, com hotel fechado para seletos candidatos, como Sérgio Cabral, com mulheres exibindo as solas vermelhas de seus caros calçados Louboutin? Bem, Cavendish apresentou sua defesa no processo da Operação Saqueador, e disse que a Delta “foi responsável por uma economia milionária aos cofres públicos”. Deve ter razão: uma economia tão grande que lhe deve ter permitido financiar a farra parisiense.
Sem essa economia, a conta da festa poderia cair no velho e bom Tesouro.

Turismo
Dilma diz que, se o impeachment for aprovado, vai repousar algum tempo fora do país, no Uruguai ou no Chile. São excelentes pontos turísticos, mas Dilma esquece os amigos: por que não Venezuela e Cuba?


Atenção
O processo contra a senadora Gleisi Hoffmann, do PT paranaense, será animadíssimo – e não apenas por Gleisi ser ministra e amiga de Dilma e esposa de outro político petista de importância, o ex-ministro Paulo Bernardo; mas por esbarrar no porto cubano de Mariel, construído pela Odebrecht e financiado pelo BNDES. Pode roubar as manchetes.


Sinal de perigo
Só 37% dos alunos que acabaram recentemente o ensino médio pensam em ir para a Universidade. O número de universitários no último ano caiu 22,4%. A maior parte culpa a crise, que os obriga a trabalhar mais cedo. Resolvem seu problema, mas o desenvolvimento do país fica para trás.











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Privatizações precisam ir além da BR -

 EDITORIAL O GLOBO
Inexiste qualquer razão estratégica pela qual o Estado deva controlar uma distribuidora de combustíveis, tampouco as outras subsidiárias da Petrobras

Se uma pessoa física ou empresa enfrenta grave situação financeira e não tem mais condições de se endividar, põe bens à venda. Mas o que é simples fica complexo no caso da Petrobras, devido à carga emocional que grupos políticos criaram em torno dela, explorando a campanha nacionalista de sua criação, na década de 50.

A questão foi em parte superada na gestão FH, quando o monopólio estatal do petróleo terminou sendo quebrado. Mas o dogma ressurgiu no período do lulopetismo, inclusive com a instituição de um monopólio no pré-sal, prestes a ser rompido para destravar os bilionários investimentos requeridos por esta fronteira de exploração, promissora, mas que exige muito dinheiro.

Com o maior endividamento corporativo do mundo — meio trilhão de reais —, a empresa tem de se capitalizar por meio da venda de ativos. Em português claro, privatização — mas o termo é evitado na estatal, por esse caráter quase religioso com que o controle da companhia pelo Tesouro é tratado por certos grupos políticos.

A necessidade de vender ativos é tão óbvia que mesmo na administração anterior, de Aldemir Bendine, nomeado pela presidente Dilma para retomar o controle de uma empresa devastada por uma mistura de corrupção e gestão incompetente, foi instituído um programa de venda de participações em subsidiárias. E até estabelecida, para este ano, a meta de se arrecadar US$ 14 bilhões com essas operações, objetivo mantido pelo substituto de Bandine, Pedro Parente.

No governo petista, por ser um sacrilégio falar-se em privatizações, o objetivo era vender participações sem alienar o controle. Difícil, porque, depois das histórias relatadas na Lava-Jato, nenhum grupo privado tem grande interesse em ser sócio minoritário da estatal. Pois o risco é grande de pagar parte da conta de erros cometidos pela União na empresa.

A BR Distribuidora, líder no seu mercado, é ativo ambicionado. E a Petrobras de Parente percebeu que a empresa teria de abrir mão do controle da distribuidora, para atrair interessados. Chame-se o negócio de privatização ou do que for.

A Petrobras manterá 49% das ações de controle, venderá, portanto, 51%, e, do total do capital da empresa, ficará com 60%. Espera-se que o negócio quebre o dogma da “privatização” no grupo Petrobras.

É importante considerar-se que não existe qualquer razão estratégica para o Estado ter o controle de uma distribuidora de combustíveis. Ela ganhou força com o nacionalista Ernesto Geisel na presidência da Petrobras, antes de assumir o Planalto. No início da década de 70, Geisel transferiu, na marra, postos que seriam da Shell no Aterro do Flamengo para a BR. Não estava em jogo a segurança nacional. O mesmo vale para a Transpetro, sob a qual estão a frota de navios da empresa, terminais e dutos. Sua venda também não colocará a pátria em risco, tampouco se o controle de todas as demais subsidiárias for vendido.











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Viver de ilusões -

MERVAL PEREIRA O Globo
Já era tempo de os políticos aprenderem que jogadas de marketing gratuitas são contraproducentes, pelo menos num momento como o país vive, com alta taxa de desemprego, que não deve decrescer tão cedo, e um índice resiliente de inflação. Pois não é que o presidente interino, Michel Temer, resolveu usar a família para um golpe publicitário, e foi buscar o filho na escola, cercado de assessores e seguranças, e avisou a imprensa?

Oresultado foi um tumulto na frente da escola em Brasília, e um frustrado movimento para “humanizar” a imagem do presidente interino, que serviu apenas para mostrá-lo como político do velho estilo, que não recusa um papel desses para parecer bom pai.

Um exemplo de político moderno, que não teve nenhum acidente desses nos quase oito anos de mandato, é o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Não se ouve falar de um escândalo familiar dos ocupantes da Casa Branca, as filhas e a mulher Michelle estão sempre na mídia, mas de maneira bastante discreta e natural.

O ponto crucial está aí, na naturalidade dos atos e dos gestos cotidianos. Se, como ele mesmo admitiu aos jornalistas, somente ontem iria à escola buscar Michelzinho, para que então quis chamar a atenção para um ato completamente fora de sua rotina diária?

Qual o significado de ir buscar o filho diante das câmeras, se esse não é um ato cotidiano seu? É igual a chamar a imprensa para acompanhá-lo andando de ônibus, ou de trem, para ir a algum lugar. Se não pode repetir o gesto naturalmente no dia a dia, como fazem os ministros suecos, por que chamar a atenção para um fato anormal como se ele representasse um hábito de circular entre os populares, ou mesmo entre os pais dos coleguinhas de seu filho?

Será que a prisão do marqueteiro João Santana não quer dizer nada para os políticos brasileiros? Ninguém entendeu ainda que criar mundos fantasiosos que escondem as mazelas nacionais já não é aceitável num país que está mudando muito, apesar dos pesares?

O caso da Olimpíada é exemplar, a começar pela tentativa de autoridades locais de naturalizar os problemas, como se eles não pudessem ser evitados. Eles são a explicitação da má gestão do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas ninguém quer admitir as falhas.

Da mesma maneira, nenhum dos ex-presidentes brasileiros está disposto a aparecer na tribuna de honra do Maracanã na cerimônia de abertura. Deixaram a vaia, quase certa, para Michel Temer.

A presidente afastada, Dilma Rousseff, arranjou uma boa desculpa: diz que não quer aparecer em lugar secundário num evento que ela e o ex-presidente Lula ajudaram a trazer para o Brasil. Também o ex-governador Sérgio Cabral, outro responsável pelo evento, não deve aparecer por lá.

Somente Temer e o prefeito Eduardo Paes, por dever de ofício, vão se expor às vaias, que sem dúvida são apartidárias nesta polarização política que domina o país. Esses são sinais de nossa decadência política, que gera decisões populistas como trazer a Copa do Mundo e a Olimpíada para o país, sem que tivéssemos condições de promover esses eventos internacionais.

Construir o básico do país em todos os setores deveria ser nossa prioridade, e não viver de criar ilusões, que um dia se esfacelam diante da realidade. Pode até ser que, assim como aconteceu na Copa, os dias de competição corram sem problemas. Mas, até agora, os percalços foram muitos para receber as delegações estrangeiras com um mínimo de condições.

O que importa mesmo para o país é o depois desses megaeventos, mais que o seu decorrer, que pode transcorrer isento de transtornos (se Deus quiser). Os elefantes brancos que ficam pelo caminho, como os estádios de futebol vazios e o campo de golfe “popular”, é que são elas.









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Lula culpa o Brasil -

MARY ZAIDAN BLOG DO NOBLAT
Fingir que não é com ele, mentir para livrar a sua cara e a sua pele são traços impressos na personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sempre foi assim. Desde os palanques de São Bernardo do Campo -- quando recitava palavras de ordem óbvias diante da massa e de uma ditadura que lhe era dócil --, até à quase inacreditável petição contra o Estado brasileiro que impetrou, na quinta-feira, junto à Comissão de Direitos Humanos da ONU. Uma alma narcisa que só pensa em si. Que xinga e elogia, soca e abraça por conveniência e só age na primeira pessoa.

O mesmo Lula que em 1993 escorraçou a Câmara dos Deputados afirmando que ela abrigava “300 picaretas” dedicou loas à Casa, 10 anos depois, ao receber a Suprema Distinção Legislativa: “não existe nada mais nobre que um mandato parlamentar”.

Pouco despois de se eleger em 2002, desfilou de braços dados com José Sarney, a quem já acusara de ser “grileiro”. Adulou Renan Calheiros para ficar em pé durante o processo do mensalão; bajulou Paulo Maluf – que já fora o mal em si – para eleger Fernando Haddad, o prefeito mais impopular que São Paulo já teve.

Algumas lembranças do Lula de ocasião fazem arrepiar até a esquerda cativa que ainda hoje o aplaude. Collor de Mello que o diga. A entrevista ao Bom Dia Brasil, na TV Globo, pouco antes de ser eleito presidente da República pela primeira vez, é simbólica. Ali, elogiou, em alto e bom som, os governos de Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, que “pensavam o Brasil estrategicamente”. E discordou de bate-pronto da afirmativa do entrevistador sobre as altas taxas de inflação que os generais deixaram como herança. “Não é verdade”, assegurou.

Depois de vencer a eleição, Lula soltou ainda mais a verve. Fez do hoje condenado e preso José Dirceu o “capitão do time”, para depois puxar-lhe o tapete. Foi a público, em cadeia de rádio e TV, pedir desculpas pela traição dos seus no escândalo do mensalão, ocorrência que, meses depois, passou a negar peremptoriamente.

Quando se vê sem alternativas, escolhe a categoria de vítima, posando como perseguido da mídia e da elite. A mesma elite que lhe prestou favores pessoais e garantiu os bilhões para custear o sonho da hegemonia petista. Tudo à custa de generosas propinas nos negócios públicos.

Ainda que um pouco chamuscado, livrou-se do mensalão. E, se já podia tudo, Lula acreditou no infinito. Inventou Dilma Rousseff, enfiou-a goela abaixo do PT e dos aliados, provocando uma indigestão que nem todos os bilhões desviados de obras públicas, dos fundos de pensão e do sabe-se lá mais onde, foram suficientes para curar.

Vieram a Lava-Jato, o processo de impeachment de Dilma, a incerteza, o medo da cadeia.

O Lula que agora recorre à ONU não é mais o mesmo. Está fragilíssimo.

Por ironia da história, virou réu em Brasília – não em Curitiba -- quase que simultaneamente à sua tentativa de estender ao mundo a sua versão de mártir.

Mas suas bravatas já não ecoam. O processo que tenta impor em Genebra é um amontoado de mentiras. O cerne da peça -- o juiz Sérgio Moro age arbitrariamente para forçar delações de prisioneiros e não há tribunais para rever as sentenças – desintegrou-se em uma simples nota da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe): “O sistema processual brasileiro garante três instâncias recursais e, até o momento, menos de 4% das decisões do juiz Sérgio Moro foram reformadas”. E a tentativa de dizer que as acusações que pairam sobre si não passam de uma ação articulada de forças conservadoras para impedir a sua candidatura em 2018 beira o ridículo.

O Lula que agora recorre à ONU, seja para criar um fato novo em pré-impeachment ou facilitar uma eventual solicitação de asilo político no futuro, se mostra miúdo, debilitado, anêmico.

Ao acusar a Polícia Federal, a mesma que ele tanto elogiava durante o seu governo, e a Justiça, para a qual ele e sua sucessora indicaram 13 ministros, oito dos onze em atividade na Suprema Corte, Lula enterra-se, definitivamente, na lama.

Sua defesa age como se todas as instituições brasileiras – incluindo a imprensa, é claro -- fossem criminosas. E ele, só ele, inocente. O Lula que agora recorre à ONU é patético.


















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MANIFESTANTES QUE SAÍRAM À RUA NESTE DOMINGO, 31, QUEREM LULA NA CADEIA

MANIFESTANTES QUE SAÍRAM À RUA NESTE DOMINGO, 31, QUEREM LULA NA CADEIA

A acertada suspensão do Ciência sem Fronteira -

EDITORIAL O GLOBO
Bilhões foram gastos em bolsas para alunos estudarem no exterior em universidades medianas, enquanto, no Brasil, laboratórios e pesquisas ficaram sem recursos


A tendência do político é considerar intocáveis os gastos ditos sociais. O país é considerado de renda média, mas há grandes contingentes de eleitores pobres, sempre cortejados dos palanques. Porém, existem limites. O principal deles, a disponibilidade de dinheiro público. Quando ele escasseia, como agora, mesmo que não se queira é preciso fazer escolhas, seguir critérios. A alternativa é agravar o desequilíbrio nas contas públicas até a debacle da recessão profunda e da hiperinflação.

O governo do presidente interino Michel Temer tem mesmo de avaliar cada programa social. Até por uma fé ideológica tosca na ideia de que tudo que for feito em nome do pobre é válido — inclusive exercitar a corrupção —, petistas relaxaram na supervisão, avaliação e controle das bilionárias despesas sociais.

O Bolsa Família, não se discute que deva ser mantido. Mas sabe-se que auditorias pouco extensas têm encontrado desvios graves, como mortos inscritos no programa.

Ao avaliar o programa Ciência sem Fonteira (CsF), o Ministério da Educação concluiu que o melhor é cortá-lo, não conceder mais bolsas de estudo no exterior — sempre alardeadas na programação eleitoral da presidente Dilma Rousseff como a redenção do jovem pobre.

Numa avaliação fria, na conjuntura por que se passa de penúria na Educação, o governo acerta, e nisso tem o apoio na academia. Por exemplo, da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. Ela entende, com razão, que, no momento, é melhor destinar recursos para programas de iniciação científica já existentes e que estão em dificuldade.

Não faz mesmo sentido mandar jovens para o exterior enquanto laboratórios e cursos de pós-graduação nas universidades brasileiras são sucateados e ficam à míngua. O sociólogo Simon Schwartzman, especialista em Educação, ex-presidente do IBGE, acha que o CsF não justificava o custo. De fato.

A partir de 2011, início do programa, foram gastos nele R$ 8,4 bilhões, na concessão de mais de 100 mil bolsas para graduação e pós, em universidades de 54 países. Segundo o ministro da Educação, Mendonça Filho, cada aluno custou por ano R$ 105 mil.

Já Antônio Freitas, da Academia Brasileira de Educação, diz que a maioria dos estudantes foi para universidades medianas, enquanto excelentes laboratórios da UFRJ estão sem recursos. Um raciocínio lógico simples conclui que o governo tomou a melhor decisão. É certo que haverá críticas, principalmente do campo lulopetista. Mas a lição que fica da ascensão e queda do CsF é que gastar o dinheiro do contribuinte de forma populista, sem preocupações maiores com a avaliação dos programas, é contraproducente até para os beneficiários. Depois, o mercado de trabalho é que tratará de punir os mal qualificados. Mas aí o dinheiro público já se perdeu.












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"Ninguém quer saber do laudo" -

BERNARDO MELLO FRANCO FOLHA DE SP -
O candidato do PMDB à prefeitura do Rio, Pedro Paulo, é acusado de agredir a ex-mulher a socos e pontapés. Em vez de escolher outro sucessor, o prefeito Eduardo Paes teve uma ideia para salvá-lo. Saiu em busca de uma vice que representasse o "mundo feminino", como diria o presidente interino.

Depois de algumas recusas, ele encontrou uma candidata ao posto: a deputada estadual Cidinha Campos, do PDT. O anúncio da chapa foi desastroso. Ao lado do novo aliado, a ex-radialista tratou o registro de violência como uma questão menor.

"Este é um caso resolvido. Eu sou contra a violência doméstica, mas quando é com pessoas desvalidas, que não têm como se amparar", disse. A deputada atenuou o episódio com o seguinte argumento: "Ela [a ex do candidato] está bem, está feliz, está muito mais rica do que estava com ele. O marido dela parece que é muito mais rico que o Pedro Paulo".

Além de infelizes, as declarações de Cidinha agridem os fatos. Ao contrário do que ela disse, o caso não está "resolvido". O deputado é alvo de inquérito no Supremo, e a Procuradoria-Geral da República já pediu que as investigações prossigam.

A deputada também parece ignorar que a violência doméstica não é um problema apenas nos lares mais pobres. No ano passado, o Ligue 180 registrou 749 mil atendimentos a mulheres de todas as classes sociais. Neste mês, a modelo Luiza Brunet registrou queixa de agressão contra o ex-namorado. Ele é rico e, assim com o Pedro Paulo, filiado ao PMDB.

O caso do aliado de Paes está cercado de estranhezas. Depois de relatar a agressão e fazer exame de corpo de delito, sua ex-mulher voltou atrás em novo depoimento. O laudo do IML atesta que ela sofreu várias lesões e chegou a perder um dente ao ser espancada dentro de casa.

Para a deputada Cidinha, o eleitor do Rio não vai dar importância ao documento. "A população nunca pergunta pelo laudo. Ninguém quer saber do laudo", disse ela.












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Reagindo à desinformação -

EDITORIAL ESTADÃO ESTADÃO
O Ministério das Relações Exteriores parece mesmo empenhado em rebater a campanha de desinformação sustentada pelo PT

O Ministério das Relações Exteriores parece mesmo empenhado em rebater a campanha de desinformação sustentada pelo PT para difundir no exterior a ideia de que o processo de impeachment configura um “golpe” contra a presidente Dilma Rousseff. Ao menos três embaixadores do Brasil se manifestaram recentemente na defesa da legalidade do afastamento da petista, como resposta a críticas feitas nos países em que atuam, em geral baseadas em franca ignorância, quando não em má-fé, a respeito do funcionamento das instituições brasileiras.

Faz muito bem o governo em responder, de bate-pronto, às mentiras e distorções sustentadas por políticos e ativistas de outros países que se dispõem a plantar dúvidas sobre a lisura do processo contra Dilma e que, infelizmente, têm encontrado espaço para emplacar suas teses esdrúxulas na imprensa estrangeira.

No mais importante desses episódios até aqui, um grupo de 33 deputados democratas, correligionários do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enviou ao secretário de Estado John Kerry uma carta em que expressa “inquietação” com os recentes acontecimentos no Brasil e pede que a Casa Branca “exija o respeito à democracia constitucional brasileira”.

O manifesto, endossado por sindicatos e organizações de direitos civis, afirma que o impeachment é “politicamente motivado”, é capitaneado por políticos interessados em “conter as investigações de casos de corrupção nos quais estão envolvidos” e se presta a “substituir uma administração progressista e representativa por uma formada apenas por homens brancos e que anunciou planos para impor uma agenda social de extrema direita”.

Não é a primeira vez que políticos de outros países se arvoram em paladinos da democracia no Brasil. Há pouco mais de 10 dias, 28 parlamentares franceses divulgaram um manifesto em que chamaram de “manobra parlamentar” o processo contra Dilma, colocando em dúvida a independência e a lisura do Congresso e do Judiciário brasileiros para lidar com o impeachment.

No caso dos Estados Unidos, o embuste foi prontamente rebatido pelo embaixador do Brasil em Washington, Luiz Alberto Figueiredo Machado. Em carta aos congressistas, o diplomata, que exerceu o cargo de chanceler no governo Dilma, informou que caracterizar o impeachment como ameaça às instituições democráticas é “completamente equivocado”. Figueiredo lembra o óbvio – que o processo está sendo conduzido “rigorosamente de acordo com o que manda a lei brasileira” e sob a “supervisão vigilante do Supremo Tribunal Federal”. Para o embaixador, como para qualquer pessoa sensata, é “inaceitável” que o processo contra Dilma seja qualificado de golpe. “Tais afirmações sem base revelam falta de conhecimento do sistema legal brasileiro”, escreveu Figueiredo. Ele encerra a carta dizendo que “o Brasil tem robustas instituições e um regime democrático consolidado”, razão pela qual “rejeita qualquer tentativa de desacreditar suas instituições ou de questionar a retidão com a qual um instrumento constitucional como o impeachment é aplicado”.

A atitude exemplar de Figueiredo não foi isolada. Dois outros diplomatas brasileiros, os embaixadores da Costa Rica, Fernando Magalhães Pimenta, e da Bósnia e Herzegovina, Manoel Gomes Pereira, se apressaram a esclarecer as autoridades e a imprensa daqueles países a respeito do impeachment, deixando claro que tudo está sendo feito conforme manda a Constituição. Segundo reportagem do jornal O Globo, a iniciativa baseou-se em instruções do Ministério das Relações Exteriores.

A reação imediata e firme da diplomacia brasileira é importante por pelo menos duas razões: a primeira é que é preciso deixar claro para o resto do mundo que o Brasil tem leis e as respeita; a segunda, como consequência da primeira, é que o País, ao conduzir com tranquilidade institucional um processo político tão traumático como o impedimento de seu presidente, mostra-se digno da confiança internacional.









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Meirelles e os erros do Brasil -

 ELIO GASPARI O GLOBO
Outro dia o doutor Henrique Meirelles disse que, se o projeto de limitação dos gastos públicos não for aprovado, "o Brasil terá feito uma opção errada, grave".

"Brasil", quem, cara pálida? Se o projeto não for aprovado, os deputados e senadores terão feito uma opção errada, grave. Como o presidente Michel Temer não quer briga com o Congresso, seu ministro da Fazenda diz que o erro será do Brasil. Comporta-se como se fosse um banqueiro nascido no Afeganistão e fizesse parte de um governo presidido por um líbio.

Meirelles sabe que o governo terá dificuldades para votar o teto das despesas públicas, mas tudo indica que prevalecerá. Para a reforma da Previdência e para mudanças nas relações trabalhistas as dificuldades serão enormes. O ministro e o presidente teriam o caminho da exposição e do confronto com os adversários dessas mudanças. Boa parte desses adversários está na bancada de apoio do presidente, que se aposentou aos 55 anos como procurador do Estado de São Paulo, categoria beneficiada por penduricalhos que a maioria dos trabalhadores brasileiros nunca viu.

Pelo andar da carruagem, se Temer não conseguir fazer as reforma que defende, "o Brasil" terá feito opções erradas e, então, como o próprio Meirelles reitera, virão novos impostos. Como será impossível cobrar esses impostos do "Brasil", a conta vai para os brasileiros.

Falar mal do Brasil e dos brasileiros é um velho hábito, comum tanto ao andar de cima quanto ao de baixo. As referencias astuciosamente derrogatórias do Brasil apresentam-se com disfarces. Em alguns casos, como no de Meirelles, se algo de errado acontecer, terá sido uma opção do Brasil e não dos bípedes que estão no Congresso. Há também expressões marotas, como "só no Brasil" ou "brasileiro tem mania de...". Sempre que uma pessoa fala dos maus modos desses brasileiros fica entendido que nada tem a ver com eles. O "brasileiro" é sempre o outro.

Atualmente uma banda nacional cavalga o que teria sido uma demonstração da falta de critério dos brasileiros: os 54 milhões de votos dados a Dilma Rousseff (com Temer na vice). Durante a ditadura, essa banda demófoba prevaleceu e as eleições diretas foram canceladas. Em 1969, o presidente Costa e Silva teve uma isquemia cerebral, o vice foi defenestrado e os generais descobriram que não sabiam montar um sistema racional para escolher seu substituto.

Ganha uma viagem de ida ao Quênia quem souber como foi escolhido o general Médici.

Pode-se admitir que a política de Pindorama está contaminada por ladrões e palhaços, mas enquanto as coisas pioram lá fora, aqui as coisas estão melhorando. Em novembro, o eleitor americano, que há quatro anos escolheu entre Obama e Mitt Romney, terá no menu
Donald Trump e Hillary Clinton.

O hábito de deixar mal o próprio país para disfarçar algum preconceito é amplo e irrestrito. Franceses e italianos adoram falar mal de seus países. O general De Gaulle dizia que não era possível se governar um país que tinha 258 tipos de queijos. Benito Mussolini garantia que governar a Itália era fácil, porém inútil. Há um país fora dessa regra: nenhum americano fala mal dos Estados Unidos. A frase de Meirelles seria impossível em Washington.
















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As pragas do Egito e do Brasil -

 LUIZ ROBERTO NASCIMENTO SILVA O GLOBO
O povo está cansado das obras faraônicas como as da Copa, da Olimpíada e da transposição do São Francisco. Cansado de projetos inconsistentes, como o do pré-sal


A sabedoria popular tem nos falado das pragas do Egito que estariam assolando o Brasil. Partindo dessa intuição popular, podemos encontrar no próprio império egípcio, um dos mais longos da civilização, reflexão para nosso tempo.

No Antigo Império (3.200 a.C.-2.100 a.C.), os faraós começaram a construir pirâmides para servirem de monumentos fúnebres para eles mesmos. O império estava rico e unido nesse período, apesar de manter a imensa maioria da população em situação lastimável e apenas os sacerdotes e escribas com enormes privilégios. Como a construção da Pirâmide de Quéops, a maior delas, acabou gerando revoltas, os faraós começaram a reduzi-las de tamanho, mas enriquecendo o interior das mesmas, o que ocorreu com a de Miquerinos, a menor delas no conjunto de Gizé, por temor das reações populares.

Da mesma forma, séculos depois, a monarquia francesa, incomodada com as pressões da plebe ignara no Palácio do Louvre, onde residia, resolveu construir Versalhes, a quilômetros da capital Paris. Alguém convenceu os nobres de que, afastados, eles não ficariam expostos àquela pressão permanente da capital. E que, afastados, a população não veria os signos de ostentação, riqueza e preguiça da nobreza. Deu certo com Luís XIV, Luís XV até Luís XVI, que acabou guilhotinado na Place de La Concorde. Afastada da pressão, a monarquia se distanciou ainda mais do povo e só acordou quando a Revolução já era irreversível.

A História pode nos ser útil se soubermos examiná-la com certa irreverência e pudermos extrair as lições que elas nos oferece gratuitamente com um pouco de dedicação intelectual. Brasília, de certa forma, é uma Versalhes permanente da vida brasileira. Não há como recuar no tempo, mas, se pudéssemos, veríamos que mesmo o grande Juscelino Kubitschek talvez tivesse incentivado o crescimento do país para o centro, despregando-o do litoral por onde por séculos o desenvolvimento se realizou; sem necessariamente mudar a capital. Entretanto, esse raciocínio é hoje uma hipótese sem sentido prático, logo inútil. Temos que nos ater ao campo do possível, trabalhar para fazer Brasília tornar a ter sensibilidade para o que ocorre no restante do país.

A população brasileira está possuída de total descrença na vida política e de uma grande revolta com os privilégios da classe política que age como uma casta com regras, foros e privilégios próprios. Sabemos que nossa crise é mais política do que econômica. Do ponto de vista econômico, o presidente Temer montou uma equipe da maior qualidade, chefiada por Henrique Meirelles, que traçou um roteiro claro e possível para o equilíbrio das contas públicas e a retomada do crescimento. O futuro parece incerto e nebuloso no cenário político, que normalmente já é povoado por nuvens e que nesse momento são especialmente carregadas. Sabemos que, por isso mesmo, não adianta demonizar a classe política, nem o Congresso Nacional, porque apenas com ambos poderemos sair do imbróglio que nos encontramos de forma legítima.

O povo está cansado das obras faraônicas como as da Copa do Mundo, da Olimpíada e da transposição do São Francisco. Cansado de projetos inconsistentes, como o do pré-sal. Vamos lembrar também da Rodovia Transamazônica (1968-1974), para não sermos injustos em identificar equívocos apenas nos dias atuais. A população precisa e quer coisas simples: saúde, educação, transporte e segurança. Governos que se concentrarem nessas tarefas e governantes que exerçam suas funções com a consciência de que ocupam uma função pública e que têm que servir ao público e não a si próprios terão enorme êxito.

Prometeram a todos nós um grande legado olímpico. Ele não é claro nesse momento; ao contrário, os prejuízos dessa empreitada parecem mais nítidos que os benefícios apregoados. Vamos, entretanto, torcer que estejamos errados e que ele se materialize. Talvez o grande legado seja exatamente esse: retirar da pauta política brasileira sua tentação para o gigantismo egípcio, voltando a dirigir os investimentos públicos para a consecução dos seus objetivos fundamentais.

Luiz Roberto Nascimento Silva é advogado e foi ministro da Cultura
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Moralismo olímpico -

HÉLIO SCHWARTSMAN FOLHA DE SP
A luta contra o doping nos esportes, a exemplo da guerra contra as drogas, já está perdida. A cada Olimpíada, vemos mais e mais histórias de uso de substâncias proscritas, apesar dos crescentes esforços das agências de controle. Se antes as suspeitas de uso generalizado recaíam apenas sobre categorias específicas como o ciclismo, agora já atingem países inteiros.

Como explica John Hoberman em seu "Testosterone Dreams" (sonhos de testosterona), a contradição entre a necessidade de sempre quebrar novos recordes e o veto à ajuda farmacológica para fazê-lo é inafastável. Os argumentos por trás da ideologia antidoping —drogas fazem mal à saúde e dão ao competidor que as utiliza uma vantagem indevida sobre os demais— não vão muito longe.

Para manter-se fiel a essa lógica, drogas que melhoram a performance, mas não causam efeitos adversos importantes deveriam ser liberadas. Só que há várias dezenas delas nas listas de substâncias proibidas no esporte. De modo análogo, se todos os atletas de uma competição decidissem tomar a mesma droga, seu uso seria justo. Até onde se sabe, competidores não têm autonomia para fazer isso sem sofrer sanções. No fundo, o movimento antidoping se assenta mais num sentimento moralista, que busca uma suposta pureza no esporte, do que em bases racionais.

Para Hoberman, a questão do doping suscita uma discussão mais ampla sobre o papel da medicina e seu arsenal farmacológico. No modelo mais tradicional, médicos devem limitar-se a preservar ou restaurar funções normais do organismo que foram perdidas. No paradigma mais libertário, é o paciente que determina o que é problema para ele e, orientado pelo médico, define a que tipo de intervenção vai se submeter.

Pessoalmente, defendo o modelo mais centrado na autonomia. É o que vem avançando nas sociedades ocidentais, embora o pessoal do esporte ainda se agarre ao primeiro.

















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Cortes a prazo -

 MÍRIAM LEITÃO O Globo
O Banco Central divulgou a ata de sua última reunião do Copom e ficou claro para a maior parte dos analistas do mercado que os cortes das taxas de juros não serão imediatos. Ainda que haja algumas interpretações conflitantes sobre a data do início do ciclo de redução, já se sabe que não será na próxima reunião, em agosto. O ritmo de queda da Selic depende da capacidade do governo de aprovar o ajuste nas contas públicas.

O BC argumentou que a expectativa de mercado para a inflação está acima do centro da meta em 2017 e há incertezas em relação ao ajuste fiscal. Na ata, o Copom reconhece que houve avanços no combate à inflação nos últimos meses, que as pressões dos preços administrados estão menores e que a inflação de serviços está cedendo. Mas pondera que, diante do tamanho da recessão que atinge o país, o processo de “desinflação” está abaixo do esperado:

“Em relação à inflação, os membros do Comitê também concordaram que houve progressos. Entretanto, a desinflação em curso tem procedido em velocidade aquém da almejada”, disse o Banco Central. Disse também que “uma maior persistência inflacionária requer uma persistência maior da política monetária”. Esse trecho descartou o corte de juros na próxima reunião de agosto.

Como já havia afirmado no comunicado após a reunião da semana passada, o cenário de referência do Banco Central, que mantém a Selic estável em 14,25% e o dólar em R$ 3,25, já demonstra a inflação no centro da meta de 4,5% no ano que vem. O problema é quando os técnicos do banco rodam o modelo com as premissas do Boletim Focus, estimando um corte de 3,25 pontos da Selic até o final de 2017 e o dólar em R$ 3,50, a inflação projetada sobe para 5,3%. Ou seja, ainda acima do centro.

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco acredita que o BC fará dois cortes na Selic de meio ponto, nas reuniões de outubro e novembro, para fechar o ano em 13,25%. O banco acredita que haverá um período mais favorável para os alimentos — que têm puxado o IPCA para cima nos últimos meses — e também que as expectativas de mercado vão continuar caindo nas próximas semanas. De fato, o Boletim Focus divulgado na segunda-feira mostrou uma ligeira redução das expectativas, de 5,3% para 5,29%. Apesar de pequeno, foi a quarta semana seguida de redução nas projeções. O Itaú acredita em 0,25% de queda na reunião de outubro, e outro corte de meio ponto no encontro de novembro.

O consultor econômico da Acrefi Nicolas Tingas também avalia que a Selic começará a cair em outubro, mas em doses menores, de 0,25%. Já a economistachefe para América Latina da Coface, Patrícia Krause, apostava em queda nas taxas apenas em janeiro do ano que vem e depois da ata ficou mais pessimista, projetando corte no segundo trimestre. Um dos problemas, segundo Krause, é que o calendário político deste ano vai atrasar a aprovação de medidas do ajuste fiscal. Ainda haverá a votação do impeachment, em agosto, e em outubro, eleições municipais. Na Ata, o BC voltou a dizer que a aprovação do ajuste é fundamental para a queda da inflação.

“Todos os membros do Comitê enfatizaram que a continuidade dos esforços para aprovação e implementação dos ajustes na economia, notadamente no que diz respeito a reformas fiscais, é fundamental para facilitar e reduzir o custo do processo de desinflação. Não houve consenso sobre a velocidade desses ajustes, o que sugere que constituem, ao mesmo tempo, um risco e uma oportunidade”, disse o Copom, temendo também que haja alta de impostos com impacto sobre os preços.

O economista José Márcio Camargo acha que o BC endureceu na nota e que nas entrelinhas quer dizer que enquanto não houver mais certeza de que a inflação chegará a 4,5% os juros não vão ser reduzidos.

Diferenças de interpretação e de projeção à parte, a maioria achou que a ata elevou o tom da preocupação com os riscos inflacionários. Ela fez isso mesmo, mas em alguns outros pontos ressaltou que houve uma forte “desinflação” e que a capacidade ociosa na economia pode levar a uma queda mais forte da taxa de inflação. Diz, contudo, que o cenário depende do ritmo do ajuste fiscal. Se ele for mais lento, será mais reduzida a velocidade de declínio da inflação. É essa incerteza que terá que ser enfrentada nos próximos meses.










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Assim ou assado -

MONICA DE BOLLE ESTADÃO
Falta saber usar o bônus de confiança que o mercado depositou nessa equipe, e a ousadia de dizer às claras que, entre assim e assado, há algo mais do que palavras


Pode ser assim, pode ser assado. Pode ser que a inflação ceda rapidamente porque há muita ociosidade – termo que os economistas usam para se referir à taxa de desemprego ou à utilização da capacidade produtiva do País quando essas se distanciam do nível considerado compatível com o potencial da economia –, assim como pode ser que demore a cair por conta da conhecida inércia inflacionária, praga nossa desde sempre. Pode ser que o ajuste fiscal pretendido e repetido à exaustão ajude a reduzir os juros caso se concretize, assim como pode ser que nada faça de útil para a política monetária caso jamais ocorra, ou mesmo caso venha a se materializar de modo menos alvissareiro do que dizem por aí. O ajuste fiscal, diz o Copom, é ao mesmo tempo um risco e uma oportunidade. Pergunto-me se algum dia isso já foi diferente.

Muito tem se falado do novo Banco Central, da melhoria da comunicação, da transparência, de como a nova equipe tem mais chances de trazer a inflação à meta do que a que antes lá estava. A comunicação, por certo, deixou de lado o laconismo, a economia exagerada de palavras que marcou a era Tombini. O comunicado divulgado após a última decisão do Copom em julho, e, em seguida, a ata da reunião recém-publicada, revelam novo estilo. Explica-se, para que não restem dúvidas, que tudo pode acontecer, inclusive nada – no caso, o nada na área fiscal.

É evidente que saber como pensa o Banco Central, ainda que seja exatamente aquilo que já imaginávamos, é um alívio. No entanto, as dúvidas sobre quando a autoridade monetária deverá reduzir as taxas de juros permanecem tão altas quanto antes de se trocar o comando da instituição.

Em momento de mudanças e algum otimismo frente à crise que nos assola, em instante de angústias ainda sufocantes perante o altíssimo nível do desemprego no País, diante das dificuldades financeiras das empresas e das famílias, não seria a hora oportuna para o Banco Central mostrar-se mais audacioso? Reconheço que a pergunta nada tem de fácil. Também reconheço que falar de longe – no meu caso, de bem longe – é sempre tarefa das mais simples. Contudo, valem algumas considerações.

Em outubro de 2015, eu e outros economistas discutimos a hipótese de a política monetária estar refém de uma situação fiscal fora de controle. Na ocasião, alguns de nós argumentamos que enquanto não fosse resolvido o problema das contas públicas, a política monetária perdera o sentido e a potência. Ou seja, podia-se fazer o que fosse com os juros que nada mudaria na economia brasileira. A inflação era apenas um dos sintomas mais evidentes de nossa aguda patologia fiscal.

Suponhamos que esse seja o diagnóstico correto para o que vivemos hoje, isto é, que a inflação esteja inexoravelmente atrelada aos rumos da política fiscal – e da política, pois da política depende a política fiscal, ao contrário do que costuma ocorrer com a política monetária. Se isso for verdade, a inflação só haverá de cair de forma persistente, sem sustos, quando a economia brasileira começar a se recuperar, logo que a sustentabilidade fiscal estiver garantida. Antes disso, o máximo que se pode esperar é uma queda por uma razão ruim: a recessão catastrófica que conosco ainda está e seus efeitos sobre a tal ociosidade – os milhões de desempregados que não têm poder de compra, por exemplo.

Diante de tal quadro, caberia ao Banco Central ir além da transparência e da retranca. Caberia ao Banco Central uma reflexão mais aprofundada sobre a possibilidade de reduzir os juros já, desafogando famílias, empresas, o próprio governo.

Não defenderia essa tese não fosse a situação brasileira tão alarmante e fora do comum. Infelizmente, a situação brasileira é tão fora do comum que os modelos usados pelos economistas para fazer previsões já não funcionam há tempos. Os comunicados assim e assado do Banco Central revelam isso com clareza inequívoca.

A nova era da política monetária brasileira começou bem, com mais elucidações, explicações. Falta saber usar o bônus de confiança que o mercado depositou nessa equipe. Falta a ousadia de dizer às claras que, entre assim e assado, há algo mais do que palavras.









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Eleição atípica -

DORA KRAMER ESTADÃO
Acostumado nos últimos tempos ao ritmo de montanha-russa dos acontecimentos políticos, o Brasil assistirá neste ano a uma campanha eleitoral completamente diferente do habitual. A começar pelo acirramento dos ânimos do eleitorado, em decorrência dos escândalos e corrupção e do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

Fosse só a beligerância entre “nós” e “eles” (ou vice-versa) teríamos mais do mesmo vivido desde a última disputa presidencial. Este apenas garantirá o caráter nacional dos temas a serem debatidos nas capitais e grandes cidades. A novidade está em outros que vão distinguir das demais a eleição que escolherá prefeitos e vereadores no próximo dia 2 de outubro.

De onde, o imprevisível é a única certeza sobre o que ocorrerá num ambiente em que as empresas estão proibidas de financiar candidatos e o manejo do dinheiro “por fora” estará sob a estreita vigilância das autoridades e, por que não dizer, da sociedade.

Isso entre outras peculiaridades: redução do período de campanhas (de 90 para 45 dias), corte de dez dias na transmissão do horário eleitoral, ausência de estrelas do marketing, limite para participação de candidatos em debates, isolamento do PT por falta de parceiros dispostos a compartilhar o desgaste, ecos do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, o PMDB na Presidência três décadas depois do governo José Sarney, investigações produzindo prisões nunca dantes imaginadas e empenho inédito dos maiores partidos numa reforma política que minimize o prejuízo da carência de recursos antes fartos por parte das empresas.

Agora acrescentemos a conjunção de fatores adversos: a crise econômica sem precedentes para duas gerações de brasileiros economicamente ativos, a radicalização das manifestações políticas na proporção direta da condenação à conduta dos políticos que leva ao aumento do descrédito na atividade e à falsa impressão de que existe alternativa boa ao sistema representativo. Esse tipo de cenário é terreno fértil para semeadura de ilusionistas de extrato populista e, não raro, pendores autoritários.

Temas muito complexos para uma simples eleição municipal? Podem até ser, mas são inevitáveis como consequência da conturbação em todos os setores e servirão como uma espécie de ensaio geral da disputa presidencial de 2018. Notadamente em relação ao financiamento das campanhas, restrito, pela nova regra, ao Fundo Partidário, à gratuidade (para os partidos) do horário eleitoral no rádio e na televisão e às doações de pessoas físicas, estas limitadas a 10% dos ganhos declarados no Imposto de Renda e ao teto de R$ 80 mil.

Antes mesmo do teste para saber qual o novo perfil das campanhas desprovidas dos costumeiros milhões, os maiores partidos já preparam a redução da concorrência na distribuição do dinheiro do Fundo e do tempo de televisão. O caminho seria a aprovação de emenda constitucional que impediria o acesso dos pequenos partidos a esses benefícios. A ideia seria reduzir para, no máximo, 12 as 35 legendas hoje existentes e barrar a criação de outras 29 que aguardam registro no Tribunal Superior Eleitoral.

Mas isso valeria apenas a partir de 2018. Neste ano, suas excelências vão ter que se virar. Para arrecadar e para convencer o exasperado eleitor sem a ajuda das miragens do marketing. Não por outro motivo que a escassez de recursos – sem falar na abundância de vigilância – está havendo desistência de candidatos que em outros tempos nada teriam a perder se mantendo na disputa. Por outra poderiam até ter a ganhar. Sobras de campanha. Eles e os respectivos partidos.

Gato comeu. E a tão prometida proposta de acabar com a reeleição? Nunca mais se ouviu falar. 










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Precisaremos de anos de trabalho para corrigir os estragos de Dilma -

ALEXANDRE SCHWARTSMAN FOLHA DE SP
A proposta de criação do teto para as despesas federais é a principal iniciativa do governo na área fiscal. É também a única iniciativa do governo na área fiscal, mas seria a principal mesmo se houvesse outras. A razão é simples: há mais de duas décadas os gastos do governo vêm crescendo a um ritmo de 6% ao ano acima da inflação.

Como o PIB não cresce (nem crescerá) à mesma taxa, a tendência é que a despesa ocupe um pedaço crescente do produto. Assim, em 1997 o gasto equivalia a 14% do PIB; já em 2016 deve atingir 20% do PIB. Se esse ritmo for mantido pelos próximos dez anos, adicionaremos algo como 3% do PIB ao dispêndio federal. Tem, portanto, razão o ministro da Fazenda ao afirmar que, "se não for aprovado o teto dos gastos de despesas (...), só resta aumentar imposto (sic)".

Há, claro, quem defenda essa alternativa, mas não parecem se dar conta das consequências. O Brasil já apresenta uma das maiores cargas tributárias entre países com renda média (é o 25º no ranking de carga tributária, mas apenas 68º em renda per capita ).

Além disso, ela é extraordinariamente complexa: segundo o Banco Mundial, uma empresa brasileira típica requer 2.600 homens-hora/ano dedicados à tarefa de pagar impostos, algo como duas vezes e meia mais do que na Bolívia (a segunda colocada), ou quase 15 vezes mais do que a média dos países da OCDE. Podemos até enveredar por essa via, mas à custa de maior ineficiência e crescimento ainda mais baixo.

O caminho passa, pois, pela contenção das despesas. Em tese, valendo a regra do teto, inverteríamos a dinâmica das últimas décadas: o gasto passaria a crescer menos do que o PIB, em algum momento levando ao ressurgimento dos superavit primários. Mais à frente esses chegariam ao valor necessário para conter a elevação persistente da dívida pública e o país retornaria a uma rota de sustentabilidade fiscal, condição necessária (ainda que não suficiente) para o crescimento mais forte.

Mesmo, porém, que o teto funcione a contento, resta ainda saber quanto tempo seria necessário para que esse cenário de sonho se tornasse realidade. Obviamente há muitas variáveis envolvidas nessa resposta, como o crescimento da economia nos próximos anos, a taxa real de juros e a resposta das receitas do governo ao ciclo econômico, assim como o sucesso das iniciativas de concessões e privatizações.

Contudo, por mais complexa que seja a interação dessas variáveis, é possível simular diversos cenários para termos uma noção de como se comportaria o endividamento do governo partindo de diferentes premissas acerca do crescimento, juros etc. A conclusão, seja das simulações que fiz, seja das realizadas por outros economistas (seguindo metodologias bastante similares), é que a estabilização da dívida demandaria, no mínimo, de 4 a 6 anos, avançando sobre pelo menos mais um mandato presidencial.

A essas dificuldades somam-se os problemas de fazer o teto funcionar sem a reforma da Previdência, que adiariam ainda mais o horizonte de controle da dívida, conforme explorado recentemente por Cassiana Fernandez e Cristiano Souza.

Tivemos a chance de tratar disso já em 2005, mas havia Dilma Rousseff no meio do caminho. Agora precisaremos de anos de trabalho para corrigir os estragos; se os corrigirmos...








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Ajuste fiscal ameaçado

- EDITORIAL ESTADÃO
Projeto de lei enviado ao Congresso pelo presidente em exercício Michel Temer, concedendo reajuste e bonificações a servidores da Receita Federal, indica que autoridades federais não estão imunes a chantagens


Além de lançar dúvidas sobre a real intenção de seu governo de colocar em prática uma rigorosa política fiscal que aponte para a redução do imenso déficit público, o projeto de lei enviado ao Congresso pelo presidente em exercício Michel Temer, concedendo reajuste e bonificações a servidores da Receita Federal, indica que autoridades federais não estão imunes a chantagens. É uma má lição, que tende a estimular servidores de outras carreiras do funcionalismo com razoável poder de mobilização a também pressionar o governo para obter ganhos salariais. E isso já está acontecendo.

No caso dos servidores da Receita, a concessão de bonificações a auditores e analistas fiscais implicará aumento de R$ 6,479 bilhões nos gastos com pessoal até 2019. Além desses benefícios, os funcionários da Receita terão também reajuste de 21,3% no salário-base, a ser pago ao longo dos próximos quatro anos, o que implicará despesas adicionais de R$ 2,097 bilhões até 2019. Em resumo, apenas com esses servidores o governo gastará mais R$ 8,576 bilhões. São 30.667 auditores fiscais, dos quais 20.383 (ou 66,5%) aposentados ou pensionistas; e 13.778 analistas tributários, sendo 6.612 (ou 48%) inativos.

Basta uma simples conta para concluir que, em média, cada um dos funcionários da Receita beneficiados, na ativa ou aposentado, em quatro anos ganhará praticamente R$ 193 mil além dos vencimentos que já recebe normalmente. São remunerações bem maiores do que os salários recebidos pela imensa maioria dos trabalhadores da iniciativa privada, que, além de ganharem menos, estão sujeitos à perda de renda real quando conseguem manter-se no emprego ou ao risco de cair no desemprego, que atinge mais de 11 milhões de brasileiros que precisam trabalhar.

Não é apenas a imensa disparidade entre os rendimentos e benefícios acumulados pelos servidores da Receita – que ademais gozam da vantagem da estabilidade no emprego – e a remuneração média dos assalariados do setor privado que esses fatos e números deixam claro. Do ponto de vista político-administrativo, o que assusta é a docilidade com que – no momento em que proclama, com toda a razão, a necessidade de árduo ajuste das finanças públicas que pode exigir aumento de impostos – o governo se rendeu à chantagem dos funcionários da Receita, que paralisaram alguns serviços para exigir a concessão dos benefícios que acabaram obtendo.

Se quiser reforçar a confiança que vinha conseguindo instilar nos agentes econômicos por meio de medidas adequadas de contenção do déficit público, o governo não pode continuar concordando em oferecer vantagens a diferentes carreiras do funcionalismo, como já fez com os do Poder Judiciário e acaba de fazer com auditores e analistas da Receita. Precisa mostrar disposição de cortar despesas ou de resistir ao aumento delas, sobretudo na folha de pagamentos. Gastos com pessoal tendem a crescer em termos reais por conta da acumulação de vantagens pelos funcionários. Fazê-los crescer ainda mais depressa, com a concessão de benefícios adicionais, é um sinal ruim.

É, também, um forte argumento para que outras categorias iniciem novas ações de pressão sobre o governo para também conseguir benefícios salariais, até com mais ousadia do que a demonstrada pelos funcionários da Receita. Este é o caso dos auditores fiscais do trabalho, que, por não terem sido incluídos no projeto que beneficia os servidores da Receita, marcaram greve a partir do próximo dia 2 de agosto. Nesta semana, já iniciaram o que chamam de “operação-padrão” em pelo menos 12 Estados.

Por meio de seu sindicato nacional, os auditores do trabalho se dizem “agredidos” pelo tratamento que o governo lhes tem dispensado, com o adiamento do projeto de lei aumentando seus vencimentos. Fazem ameaças e dizem que, se empregados e empregadores tiverem perdas com seu movimento salarial, a culpa será do governo. “Não somos palhaços”, proclamou o presidente do sindicato, Carlos Silva. Deve pensar que palhaços somos nós, os contribuintes, que pagamos seus salários.











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sábado, 30 de julho de 2016

"Habeas corpus preventivo",

editorial do Estadão
Diante do amplo elenco de ilicitudes de que Lula é suspeito de ter praticado desde que assumiu a Presidência em 2003, a tentativa de ocultar a propriedade de imóveis como o de Atibaia é café pequeno

Se Lula da Silva for preso proximamente pela Polícia Federal, não importa por qual motivo, parecerá ao mundo que é vítima de retaliação pelo fato de ter “denunciado” o Estado brasileiro ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo “abuso de poder” que teria sido praticado contra ele pelo juiz federal Sérgio Moro e pelos procuradores da Operação Lava Jato. 
Pois foi certamente por esse motivo esperto – a garantia de uma espécie de habeas corpus preventivo com aval internacional – que o chefão do PT foi apresentado como vítima de perseguição política. 
No mesmo dia, a Operação Lava Jato tornou público um laudo pericial da Polícia Federal que revela a existência de fortes indícios de que o casal Lula-Marisa Letícia tenha dado instruções específicas aos encarregados de realizar a instalação de uma “cozinha gourmet”, no valor de R$ 252 mil, no aprazível sítio de Atibaia que ambos negam veementemente ser de sua propriedade. 
E, no dia seguinte, Lula da Silva tornou-se réu, acusado de obstrução da Justiça.
Diante do amplo elenco de ilicitudes de que Lula é suspeito de ter praticado desde que assumiu a Presidência em 2003, a tentativa de ocultar a propriedade de imóveis como o de Atibaia é café pequeno.
Não se compara à responsabilidade que lhe é atribuída, por óbvia, de ser o chefe da quadrilha que por mais de uma década aparelhou o Estado, cooptou aliados a peso de ouro e assaltou os cofres públicos, especialmente os das empresas estatais, com o objetivo de perpetuar um projeto de poder e enriquecer políticos, funcionários públicos e empresários inescrupulosos.
Alegam os filopetistas, de modo especial os intelectuais e artistas que gostam de parecer paladinos da justiça social, que o lulopetismo inaugurou uma era de conquistas populares e de desenvolvimento econômico, e que para fazê-lo teve de se submeter ao constrangimento de alianças indesejáveis, mas necessárias ao ato de governar. Ou seja: os fins justificam os meios. 
Mas o que na verdade resultou provado com o catastrófico desenlace da aventura lulopetista é que os meios explicam o fim do sonho de um projeto de poder que pode ter até nascido com as melhores intenções, mas que ao longo do caminho se deixou perder pela soberba, pela incompetência e pela corrupção.
Hoje, os brasileiros sofrem com o legado de desesperança que receberam de Lula e de sua desafortunada sucessora. 
Depois de ter frustrado todas as expectativas criadas por um perverso populismo que dividiu o País entre “nós” e “eles”, Lula vê agora frustrada sua própria expectativa de ter repouso virginal no panteão dos grandes heróis internacionais das causas populares. 
E reage com a mesma falta de escrúpulos que o levou aos descaminhos da moralidade na tentativa de se safar das consequências legais de seus trambiques. Pouco se lhe dá se, assim procedendo, enxovalha a imagem do Brasil no principal foro político internacional. 
Pois, recorrendo ao Comitê de Direitos Humanos da ONU, Lula pode querer denegrir o juiz Moro, mas o que de fato faz é tentar comprometer o Estado brasileiro, insinuando que suas instituições são inermes diante do arbítrio de um funcionário. 
Com essa atitude mendaz, Lula quer fazer crer ao mundo que a Lava Jato transformou o País numa republiqueta refém do “abuso de poder” de uma autoridade judicial que peca pela “clara falta de imparcialidade” e se dedica a sucessivos “atos ilegais” movida pela obsessão de condená-lo.
Esse é o inescrupuloso estilo lulopetista de se safar de dificuldades: atirar para todos os lados, não importa quem possa ser atingido. É assim que Lula e sua tigrada se têm comportado desde o início do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, acionando suas relações nos círculos e foros esquerdistas internacionais para veicular a versão de que o Brasil está sendo vítima de um “golpe”.
É improvável que a “denúncia” de Lula progrida. Entre outros motivos, porque antes de o Comitê da ONU se manifestar sobre a petição, será necessário que Lula prove ter esgotado todos os recursos legais no Brasil para se livrar do “abuso de poder”. 
E mesmo que se configure a improvável hipótese de que a “denúncia” seja aceita para julgamento, a análise do processo pode se estender por cerca de dois anos. 
Para Lula, isso pouco importa. O que ele quer é manter a Polícia Federal longe de sua porta.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O MEU, O TEU E O SEU

por Percival Puggina
Por alguma fragilidade pessoal não sou leitor assíduo das páginas policiais, cuja importância reconheço. Causa-me mal-estar o mergulho matutino nas águas turvas e geladas do submundo que, em nosso país, disputa tamanho e poder com a nação e suas instituições. Dedico minhas expectativas cívicas às páginas de política e economia porque, em grande parte, é dali e da Educação que algo bom pode vir. Foi inevitável, porém, prestar atenção às notícias sobre o violento ataque à Escola Estadual Érico Veríssimo. Se praticado por alunos, foi ato de furto e vandalismo. Se por facções criminosas, terrorismo. Nesta hipótese, é inevitável a analogia. Terrorismo pode ser definido, grosso modo, como "emprego sistemático da violência para desestruturar a sociedade e buscar poder". Ações semelhantes na intenção e variadas na forma, acontecem nas grandes cidades brasileiras. Anunciam um estado paralelo, atemorizam a todos, delimitam território e visam a um objetivo político. (Note-se que a lei brasileira sobre terrorismo exclui (!) as motivações políticas. Mais adiante, neste texto, se compreenderá o motivo.)  Dito isso, colho o resultado pessoal do indesejado mergulho no submundo e suas motivações. Encapelam-se os sentimentos! Impossível silenciar ante o encontro do que vejo com o que sei. Entre os muitos motivos que desencadearam as forças do mal em nosso país existem alguns envoltos em conspiração de silêncio. Há que rompê-la. Refiro-me à quantos, de modo intencional e velado, vêm condicionando a nação para ser estuprada pela criminalidade com cuja conduta, no delírio da utopia, se acumpliciam e colaboram.
 Refiro-me aos que, no contrapelo dos países civilizados, onde a criminalidade envolve grande risco porque fortemente combatida, postam-se ao lado dos bandidos e contra sua repressão, ajudando a transformar o crime em operação segura e rentável. Exibem-se como defensores e garantidores de direitos humanos. Percebem os criminosos como agentes de um processo de transformação na sociedade - ela sim, declarada perversa - onde nós, as vítimas, não temos direito à proteção e desmerecemos consideração. Estão na mídia, no mundo acadêmico e nos poderes de Estado, em sublime contemplação da própria bondade.
O que pode levar alguém, numa sociedade onde as ações criminosas correm livres e soltas, a afirmar que "já temos presos em excesso", que "prender não resolve", que "cadeia não recupera", que "é inútil agravar as penas", que "regime disciplinar diferenciado desrespeita direitos humanos"? Por que iria alguém dedicar-se a tutelar bandidos e hostilizar polícia? Que razão teriam essas pessoas para, enfim, deixarem tudo como está?
Se o leitor destas linhas não for turista de língua portuguesa viajando em nosso país, se for da aldeia e conhecer os caboclos, saberá que quase todas as teses erradas e extravagantes disseminadas no Brasil procedem da mesma usinagem política. A de que trato aqui é uma das tantas e se resume no que descrevo a seguir. 1) A criminalidade seria produto do sistema econômico, da economia de mercado, da empresa privada e, principalmente, do direito de propriedade. Não havendo propriedade privada, desapareceriam a cobiça e o roubo, pois o Estado disporia tudo em partes iguais para todos. 2) A lei penal, que enche as prisões, teria sido concebida para proteger a propriedade privada, sendo, pois, uma lei contra-revolucionária e opressora. Essa usinagem política anseia por um mundo sem pronomes possessivos, especialmente no singular.
Assim, o sujeito que nos ameaça com uma arma, que dispara contra suas vítimas, que rouba a pensão da velhinha e o nosso carro, que invade terras e imóveis (chamam a isso "ocupação") é visto como agente da transformação social e como um carente necessitando proteção contra a maligna ordem penal burguesa, que cobra respeito ao meu, ao teu e ao seu. (...)















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Uma mulher de vice para exorcizar o passado

Ricardo Noblat:
O que será mais patético? Um candidato a prefeito à caça de uma mulher para ser vice em sua chapa, pretendendo com isso livrar-se da pecha de espancador de mulher?
Ou uma mulher que aceita o convite dele e que em seguida afirma com a maior desfaçatez que a violência doméstica é uma “discussão menor” para o movimento feminista?
O deputado Pedro Paulo, candidato do PMDB a prefeito do Rio, tanto se esforçou que conseguiu uma mulher para chamar de vice – a deputada estadual pelo PDT Cidinha Campos.
E ela, que antes recusara o convite, sem constrangimento algum disse um monte de sandices na primeira entrevista que deu já na condição de vice.
No país onde nos 10 primeiros meses do ano passado, segundo dados do governo federal, do total de 63.090 denúncias de violência contra a mulher, 31.432 corresponderam a denúncias de violência física (49,82%), Cidinha afirmou:
– Eu sou contra a violência doméstica, mas quando é com pessoas desvalidas, que não têm como se socorrer, que não têm como se amparar.
No país que está em sétimo lugar no ranking dos países com o maior número de assassinato de mulheres, Cidinha afirmou também:
– Quando você se separa, o pau come, a vingança é o caminho mais curto.
Pedro Paulo separou-se da ex-mulher Alexandra Marcondes depois de espancá-la com murros e chutes que a deixaram cheia de hematomas e com um dente quebrado.
A queixa foi registrada em delegacia, e há um laudo oficial que comprova o espancamento. Pressionada, Alexandra está disposta a dizer que foi uma briga boba e que ela também o arranhou.
O candidato tem o laudo de outro perito, que nunca examinou Alexandra, mas que contesta o primeiro laudo. E, de quebra, uma vice à vontade no papel que concordou em desempenhar.
– Ela (Alexandra) está bem, está feliz, ela está muito mais rica do que quando estava com ele. O marido dela parece que é muito mais rico do que o Pedro Paulo – comentou Cidinha.
A vice adiantou o que Alexandra dirá em breve, possivelmente em um programa de propaganda eleitoral de Pedro Paulo no rádio e na televisão:
– O que é importante saber é que a mulher disse que não apanhou, ele disse que não bateu, e ele está sendo crucificado. (…) Ela vai dizer que o laudo não é verdade, vai dizer: eu me bati nesse lugar.


















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Um atrapalho no trabalho

José Nêumanne:
Publicado no Blog do Nêumanne
Em 2003, primeiro ano de seu primeiro governo, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Cabaceiras, cidade às margens do Rio Taperoá e que já serviu de cenário para filmes que retratam o sertão nordestino, embora não fique propriamente neste, mas no chamado Cariri, parte de um bioma único no mundo, a caatinga. A paisagem do semiárido é inóspita e única. Do helicóptero, que pousou no leito seco do rio, Lula desceu no meio da poeira com o prefeito, o governador e os principais líderes governistas e da oposição daquele município e do Estado da Paraíba. Muita gente do local e das cidades vizinhas acorreu para vê-lo. E Lula atendeu a todos de forma cativante e carismática, trocando ideias com crianças do grupo escolar, fardadas de gala para a ocasião.
Em 13 de julho de 2016, ele desembarcou de um Gulfstream G200, jato executivo de muito luxo e alta performance, para um encontro com militantes contra o impeachment de Dilma no aeroporto Oscar Laranjeira, em Caruaru, maior cidade do agreste pernambucano. Conhecida por promover uma festa junina muito frequentada, a terra natal do mestre Vitalino, célebre artesão de barro cozido, fica a meio caminho entre Cabaceiras e Caetés, vilarejo onde Lula nasceu. Segundo relato dos repórteres da revista VEJA daquela semana, Thiago Bronzatto e Daniel Pereira, não havia militantes à sua espera: todos estavam reunidos no lugar da recepção onde seria servido o almoço gratuito. E o portão do aeródromo foi fechado para que o vexame não fosse registrado por jornalistas abelhudos. A visita se resumiu a um encontro com membros da CUT e do MST, o prefeito e alguns políticos fiéis num auditório com capacidade para 70 pessoas. Dali mesmo cancelou um compromisso em Crato, Ceará, que fica razoavelmente perto. Lá receberia o título de doutor honoris causa da Universidade Regional do Cariri. Preferiu voar para Brasília.
À Capital foi com o intuito de pregar uma peça no vice-presidente no exercício da Presidência, Michel Temer, que enfrentava uma rebelião de parte de sua base na Câmara dos Deputados, a cuja presidência concorriam 16 pretendentes. A ideia original de Lula era apoiar o candidato do DEM, Rodrigo Maia (RJ), para sair como grande vitorioso sobre o “vice golpista”, que apoiava Rogério Rosso (PSD-DF). Este tinha sido o relator da Comissão de Impeachment, que abriu o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, iniciando o calvário dela. A bancada petista não engoliu a afronta de votar num colega que apoiou o impeachment e lançou o dissidente do PMDB, Marcelo Castro, que tinha votado contra o processo, cumprindo ordens de Dilma e desafiando Temer, que descarregou os próprios votos em Maia. Este obteve 120 votos e enfrentou Rosso no segundo turno. Castro, ex-ministro da Saúde da petista, teve 70. Somados aos 22 de Luiza Erundina (PSOL-SP) e 16 de Orlando Silva (PCdoB-SP), a esquerda conseguiu frustrantes 108, pouco mais de um quinto dos 513 deputados federais. No segundo turno, o líder máximo petista reforçou a votação contra o Centrão, criado por Eduardo Cunha e representado por Rosso, levando o filho do ex-prefeito César Maia do Rio a uma votação vitoriosa consagradora de 218 votos. Lula foi buscar lã e saiu tosquiado numa Casa de leis da qual já foi senhor e suserano.
Dias antes, o senador aliado Roberto Requião (PMDB-PR) convidara colegas para ouvir dele seus melhores argumentos sobre a permanência de Dilma e do PT no governo federal. Cristovam Buarque (PDT-DF), tido como indeciso, preferiu encontrar-se na ocasião com uma funcionária da diplomacia americana residente na França. O líder de Dilma, Humberto Costa (PT-PE), preferiu “não constranger” o prócer. E só foram seis.
A pesquisa Datafolha calculou em 50% a porcentagem dos brasileiros a favor de Temer ficar no governo e em só 32% (menos de um terço) os adeptos da tese de que a saída de Dilma é mesmo um golpe. Nela o ex-presidente liderou no primeiro turno em quatro cenários: disputando com Aécio, Alckmin e Serra, do PSDB, ou Marina Silva, da Rede. Isso dá um quinto dos votos, menos do que a votação tradicional do PT, mesmo antes de suas enxurradas nas urnas. E Lula perderia no segundo turno para qualquer um dos quatro.
Em pesquisa mais recente, publicada por Ricardo Noblat, no Globo de segunda-feira 25 de julho, o resultado ainda é mais contundente. Segundo o Instituto Paraná, apenas 15,2% responderam aos pesquisadores que querem vê-lo de volta à Presidência. Para 34,15%, seria preferível que ele se aposentasse na política. E 47,7% querem que ele seja preso. Os números impressionam, pois o próprio Datafolha registrou, há somente cinco meses, que Lula foi considerado o melhor presidente brasileiro de todos os tempos por 37% dos entrevistados, superando de longe seu antecessor, Fernando Henrique, com 15%.
Parte do milionário capital eleitoral de Lula foi triturado pelas denúncias de corrupção do PT durante seus oito anos de governo e os cinco anos, quatro meses e 12 dias da gestão da discípula e afilhada que elegeu, Dilma Rousseff. A roubalheira que provocou a maior crise política e o caos econômico com desemprego e quebradeira de empresas, embora ainda não tenha apagado de todo as boas lembranças dos tempos de bonança em suas gestões, demoliu seu prestígio pessoal e sua reputação de vencedor.
Tem sido cada vez mais difícil para Lula convencer mesmo seus mais fiéis prosélitos de que ele é mesmo o homem mais honesto de todos os tempos em todos os lugares, como insiste em afirmar. Afinal, ele vive sob o temor da prisão que pode ser decretada em primeira instância seja por Sergio Moro, o juiz da Lava Jato, seja na Operação Zelotes, na Justiça Federal, em Brasília, e na Justiça estadual de São Paulo, por ocultação de patrimônio imobiliário: um apartamento no Guarujá e um sítio em Atibaia.
Na semana passada, o promotor Ivan Cláudio Marx, o mesmo que arquivou processo penal contra Dilma pelas pedaladas, voltou a denunciá-lo em processo por obstrução de justiça. Este tinha sido devolvido à primeira instância depois de despacho no mesmo sentido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, quando estava na última instância.
A defesa de Lula pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o livrasse do juiz Sergio Moro, por ser este seu acusador, e não julgador. O presidente Lewandowski podia ter simplesmente se negado a receber o pedido, mas preferiu mandá-lo de volta a Teori Zavascki, relator da Lava Jato. Este só voltará de férias em agosto, tido como o mês do desgosto.
Este deve ter sido o ânimo com que Lula leu a notícia do Estadão de sábado 23 de julho de que Moro respondeu à interpelação do STF garantindo que a interceptação dos áudios de conversas telefônicas de Lula com ministros do governo Dilma podiam motivar a prisão dele. Pois, conforme o juiz federal, esta “revelou uma série de diálogos do ex-presidente nos quais há indicação de sua intenção de obstruir as investigações, o que por si só poderia justificar, por ocasião da busca e apreensão, a prisão temporária dele, tendo sido optado, porém, pela medida menos gravosa da condução coercitiva. A medida de condução coercitiva, além de não ser equiparável à prisão, nem mesmo temporária, era justificada”.
Lula e seus advogados poderiam ter dormido sem essa, como dizia minha avó. Se é que eles têm dormido desde que o ex se tornou para os brasileiros que perdem seus negócios e seus empregos um “atrapalho no trabalho”, como definia o título de um livro do beatle John Lennon.












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