Almirante Padilha - VINICIUS MOTA
SÃO PAULO - O mundo está à beira da guerra nuclear, os EUA decretaram bloqueio naval e enfrentam um teste prático com um cargueiro soviético que não responde aos avisos da esquadra americana.
De Washington, o almirante George Anderson, chefe de operações navais, ordena ao comandante do cerco que siga o plano e acione os seus canhões. O secretário da Defesa, Robert McNamara, escuta a ordem de Anderson, entra em desespero e manda interromper os disparos.
São só tiros de sinalização, diz o almirante. E se os soviéticos não entenderem assim? E se tomarem esses disparos como ato de guerra, grita McNamara. E emenda: "Isso não é um bloqueio naval. Isso é linguagem. É o presidente Kennedy se comunicando com o secretário Kruschev". Assim é o filme "Treze Dias que Abalaram o Mundo", sobre a crise de outubro de 1962, dos mísseis nucleares em Cuba.
O McNamara da ficção, encarnado por Dylan Baker, sintetiza uma das artes da diplomacia, da tomada e da execução de decisões em momentos de aperto. A autoridade fala por diversos meios. Um deslize de linguagem pode lançar tudo pelo ralo.
Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff se comunicou bem com os agentes do mercado. O Banco Central informou regras, procedimentos e volumes de sua intervenção no câmbio até o final do ano. Ganhou uma batalha, embora ainda não a guerra, na campanha para recuperar a confiança, avariada por decisões intempestivas do passado.
Poderia ter escolhido fazer a mesma intervenção, mas sem revelar seus termos. Arriscaria idêntica quantidade de recursos para um resultado provavelmente nulo.
Já na política, os almirantes Padilha e Mercadante continuam com os dedos no gatilho, atirando balas de festim para todos os lados. Não há McNamara que os contenha. É a presidente Dilma se comunicando (mal) com a sociedade.
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