Tempo perdido - PAULA CESARINO COSTA
RIO DE JANEIRO - Perguntas desse tipo tornaram-se hábito nas grandes cidades brasileiras. "Quanto tempo vou demorar para chegar lá? Será que vou chegar a tempo?"
A (i)mobilidade é o tema do século 21. Com soluções do passado, só agora os dirigentes do país e a sociedade como um todo perceberam que não vão caber nas ruas todos os carros fabricados ou pelo menos que não será possível pô-los em movimento.
A falta de planejamento ergueu viadutos, duplicou vias e furou túneis. Deixou trilhos e trens abandonados e colocou os ônibus nas mãos de quem só pensa em lucrar.
Antes motivo de provocação e ironia com paulistas, o Rio começa a ficar preocupado quando o trânsito passa a dominar a conversa de botequim. As realidades ainda são muito distantes. São Paulo continua pior.
Um exemplo: na tarde de uma terça-feira, às 15h50, um táxi leva o passageiro para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Percorre 8 km e chega ao destino em 30 minutos.
No início da noite, às 19h, outro táxi demora o mesmo tempo para percorrer 26 km saindo do aeroporto Galeão/Antonio Carlos Jobim.
Atualmente, quem tem voo marcado, faz web check-in, acrescenta dez minutos por segurança e calcula que o trajeto pode demorar de 20 minutos a duas horas para ser percorrido. Com uma certeza: a tarde será dedicada a isso, mesmo que a viagem aérea dure apenas 45 minutos.
Alguns perderão esse avião. Outros chegarão com horas de antecedência e ficarão à espera no aeroporto. Por mais que a vida na palma das mãos faça tudo suportável, e quase confortável, resta a sensação de que o tempo não mais nos pertence.
Do alto, feixes de luzes vermelhas ou brancas pintam as artérias das cidades, ilustrando o cenário imóvel.
A liberdade hoje passou a ser o poder ir aonde quiser sem precisar de automóvel. O trânsito rouba de todos o domínio sobre a própria vida.
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