Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Voto secreto livra mandato de presidiário

Voto secreto livra mandato de presidiário
Visão do Correio :: - Voto secreto livra mandato de presidiário
Correio Braziliense -  Editorial
Há instituições que se superam. Imagina-se que tenham chegado ao limite e, por isso, ficam impossibilitadas de avançar. Mas a barreira que separa um lado do outro é elástica. Permite ir além. A observação vale para a Câmara dos Deputados. Em votação secreta, os representantes do povo mantiveram o mandato de Natan Donadon — condenado pelo Supremo Tribunal Federal em outubro de 2010 a 13 anos de prisão por formação de quadrilha e desvio de dinheiro.
A decisão não só envergonhou, humilhou e indignou os brasileiros. Sobretudo, jogou lama no Poder Legislativo. Os 233 votos contrários ao ficha suja foram insuficientes para promover a limpeza da casa. Eles enfrentaram muralha respeitável: 131 favoráveis e 41 abstenções. Somados aos 103 gazeteiros, completou-se o número responsável por passagem digna de figurar nos anais do realismo mágico dos mestres latino-americanos.

Eis a cena. A roubalheira ocorreu entre 1995 e 1998, quando Donadon exercia o cargo de diretor financeiro da Assembleia Legislativa de Rondônia. Mas, graças a chicanas, não só se mantinha em liberdade, como em pleno exercício do mandato. A Câmara, mesmo ciente da sentença, ignorou a obrigação de tomar as providências regimentais para livrar-se de mais uma chaga que lhe sangrava a imagem — corroída por sucessivas denúncias e incontáveis desmandos.
Só com a interferência do STF, mandou o condenado para trás das grades. Na sessão de quarta-feira, completou o capítulo que poderia ocorrer em Macondo, cidade em que Gabriel García Márquez deu vida aos personagens de Cem anos de solidão. Absolvido pelos pares, o deputado, algemado, entrou no camburão que o reconduziu à Papuda.
Vale a pergunta. Sem a possibilidade de se esconder atrás do voto secreto, os deputados seriam capazes de esbofetear o eleitor como o fizeram? Eles agiram como os vândalos que destroem o patrimônio público. Com máscaras que lhes garantem o anonimato, os agitadores misturam-se aos brasileiros que exercem a legítima garantia de reivindicar direitos e correção de rumos de autoridades esquecidas de que devem satisfação a quem lhes outorgou o poder.
Passou da hora de acabar com a máscara legislativa. O parlamentar é livre para votar segundo a própria consciência. Mas deve fazê-lo às claras. O cidadão que lhe deu o voto tem a prerrogativa de saber se o escolhido honrou a confiança nele depositada. Os deputados que, por ação ou omissão, absolveram Natan Donadon, agiram como cúmplices do crime. Moveram-nos a certeza da impunidade assegurada pelo voto secreto.

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