Balanceamento e alinhamento - DENISE ROTHENBURG
A palavra constrangimento definiu o dia de ontem no governo federal e fora dele. Seja na relação entre Itamaraty e Dilma Rousseff e o governo boliviano — por causa da fuga do senador Roger Pinto Molina —, seja entre PT e PMDB. Mas além disso, houve algo que calou fundo a base governista como um todo. O fato de Aécio Neves e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, terem mais ou menos a mesma posição em relação à crise com a Bolívia.
Para você que não leu tudo a respeito até aqui, vale registrar as posições de ontem. O governo brasileiro se mostrou constrangido em relação aos bolivianos e deu uma série de explicações. Embora as declarações da presidente Dilma a respeito do fato tenham sido fortes no sentido de preservar a relação com a Bolívia e servir de contraponto ao embaixador Eduardo Saboia, o envio do ex-ministro Antonio Patriota como futuro representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) foi visto por muitos como “cair para cima”. Patriota vai morar em Nova York, em um posto altamente cobiçado pelos diplomatas e, de quebra, ficará livre da rispidez com que a presidente Dilma muitas vezes trata seus ministros. Ou seja, houve um “balanceamento” da resposta.
Politicamente, entretanto, os petistas ficaram assustados. Não por conta da crise em si, mas pelo quase alinhamento entre as opiniões do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB. Os dois pré-candidatos a presidente da República contra Dilma Rousseff defenderam a atitude do embaixador Eduardo Saboia de ajudar o senador Roger Molina a deixar o país. Assim, os dois terminaram por transformar Dilma na posição oposta. Daqui para frente, os petistas vão anotar tim-tim por tim-tim o que dizem os dois adversários. Afinal é assim que hoje muitos deles se referem a Eduardo Campos.
Por falar em Eduardo e Aécio…
Não é a primeira vez que o tucano e o socialista têm posições semelhantes. Eles têm ideias parecidas, por exemplo, no que se refere à necessidade de um novo pacto federativo, com descentralização e valorização dos estados. Se essa identidade de pensamento e empatia continuar nesse ritmo, não dá para descartar um alinhamento entre eles mais à frente.
O PT já percebeu que os dois têm caminhado juntos em várias situações e olha com um certo ar de ciúmes para as conversas do PSB com o PSDB, especialmente, em São Paulo, onde a tendência é Geraldo Alckmin receber os dois em seu palanque pela reeleição ao governo do estado.
Nesse sentido, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), candidato a presidente do PT contra Rui Falcão, não se esquece de repetir que foi um erro o PT deixar de lado partidos como o PSB, o PDT e o PCdoB e priorizar a relação com o PMDB. Ele defende que essa aliança deve ser feita em bases mais republicanas, tirando um pouco o toma-lá-dá-cá. O problema é que o tempo vai passando e não resta outra saída ao PT que não se jogar nos braços dos peemedebistas.
Para que se entenda mais ou menos o que se passa entre PMDB e PT de um lado e PSB, PCdoB e PDT de outro, basta comparar a situação a uma relação conjugal. O PT tinha um casamento bom com os partidos menores. De repente, surge o PMDB com aquele corpão, a ampla base. Os petistas se deixaram envolver. Agora, estão na seguinte situação. O PSB se cansou e foi cuidar da vida. Hoje está repleto de pretendentes. E o PT não tem saída senão dar ao PMDB tudo o que seus líderes desejam. E os petistas estão para lá de incomodados com essa situação.
Enquanto isso, no DEM…
O líder do partido, Ronaldo Caiado (DEM-GO), já declarou apoio a Eduardo Campos e não descarta sequer levar o tema à convenção nacional do partido que for decidir o candidato a presidente da legenda. Afirma que já tem seis estados nessa direção. Ocorre que, hoje, a posição majoritária do Democratas é pró-Aécio. Vale a pena observar como andará o partido de Caiado daqui para frente.
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