Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 23 de junho de 2022

'O desastre da educação no Brasil',

 por J.R. Guzzo  Que esperança de progresso real se pode ter, em pleno século 21, quando o número de analfabetos aumenta?


A educação pública no Brasil vive possivelmente os piores momentos que já teve em muitos anos; está entre as mais infames do mundo e, além disso, como se vê agora, é assaltada por quadrilhas de corruptos. 

A polícia investiga a exigência e o pagamento de propinas, numa operação de tráfico de influência na distribuição de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação para as escolas municipais. 

O ex-ministro Milton Ribeiro foi preso, por suspeitas de envolvimento no esquema. 

Treze mandados judiciais de busca e apreensão estão sendo cumpridos, em quatro Estados. 

Pastores evangélicos são denunciados por sua participação no roubo. 

É um fundo de poço — se fosse possível saber se este poço tem fundo.

Tudo o que o Brasil não precisa neste momento é exatamente isso que está acontecendo. 

Com as escolas fechadas durante dois anos, por conta dos “lockdown” anti-covid, o número de crianças de 6 e 7 anos de idade que não sabem ler nem escrever aumentou de 1,4 milhão, em 2019, para 2,4 milhões, em 2021. 

É uma tragédia. 

O Brasil está produzindo analfabetos, quando necessita desesperadamente fazer o exato contrário: dar à população ensino de melhor qualidade, com a transmissão dos conhecimentos hoje indispensáveis para que os jovens possam aspirar a uma vida profissional mais digna e contribuir com o bem-estar da sociedade. 

O país está imensamente atrasado nessa área — fica, a cada pesquisa internacional sobre situação do ensino, entre os piores do planeta.

Que esperança de progresso real se pode ter, em pleno século 21, quando o número de analfabetos aumenta? 

Não se trata, aí, dos casos já perdidos — adultos que não aprenderam o suficiente e agora não têm condições de recuperar o conhecimento perdido. 

Trata-se, isto sim, de fabricar crianças analfabetas, uma garantia de que nunca estarão qualificadas para a execução dos trabalhos melhor remunerados, menos primitivos e mais promissores profissionalmente. 

É uma agressão direta à cidadania — e uma das atitudes mais eficazes que uma sociedade poderia tomar para aumentar a concentração de renda, agravar as desigualdades e produzir pobreza.

O Brasil já tem as escolas fechadas por conta da covid — dois anos de pura perda, que não pode mais ser “reposta”. 

Tem professores sem capacidade para ensinar. 

Tem uma distribuição insana dos recursos públicos destinados à educação, com bilhões de reais desviados para um ensino superior de péssima qualidade, aparelhado por professores, políticos e funcionários, e inútil na transmissão de conhecimentos capazes de ajudar a uma sociedade moderna. 

Em cima disso tudo, agora, vem a corrupção. É uma situação de xeque-mate. 

Não há como dar certo.

Publicado originalmente no O Estado de S. Paulo 

Revista Oeste

















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