por Brendan O'Neill, da Spiked
Como a palavra “mulher” se tornou proibida na sociedade woke
Há algumas semanas, assistimos a dois machos biológicos — ou homens, como costumávamos chamá-los — vencendo o primeiro e segundo lugares em uma prova de ciclismo feminina. Vimos o Ministério Público inglês (Crown Prosecution Service, ou CPS) contratar uma consultora de diversidade, que é trans e já havia sugerido que a palavra “mulher” em inglês (“woman”) poderia ser substituída por “womxn” — algo como “mulhxr”.
Ficamos sabendo que funcionários públicos receberam treinamento de equalitarismo, que os instruiu que a expressão “humana adulta” — que é a definição do dicionário para mulher — é uma mensagem cifrada transfóbica. Vimos a publicação de um novo estudo da King’s College London que sugere que uma maneira de evitar polêmicas relacionadas a sexo/gênero seria mudar a formulação de questões em documentos oficiais, como o censo. Por exemplo, você pode perguntar à pessoa entrevistada “você menstrua?”, em vez de “você é uma mulher?”.
Qualquer pessoa que duvide de que a palavra mulher, e toda a ideia da condição da mulher, está sendo apagada, sacrificada no altar da ideologia da transgeneridade com certeza levou um susto nos últimos dias. Enquanto homens reivindicam prêmios em esportes femininos, fica claro que os esportes femininos correm o risco de se tornar uma coisa do passado. Quando instituições poderosas, como o CPS e o funcionalismo público, flertam com a ideia de que é pecado dizer as palavras “humana adulta”, é óbvio que até falar sobre mulheres se tornou algo arriscado.
Quando alguém tão mundialmente influente quanto Michelle Obama usa a palavra impronunciável “womxn”, como aconteceu nos “Stories” de sua conta de Instagram, você sabe que não são só universitários malucos com tempo livre e cabelo pintado de roxo que entraram no túnel da fluidez de gênero. Não, do mundo dos esportes à política, do sistema judicial à burocracia estatal, a ideia de que o sexo pode ser alterado e que a linguagem deve ser alterada para evitar que a minoria trans seja ofendida se tornou a ortodoxia.
“Mulher” é um termo ofensivo?
Surpreendentemente, o uso da palavra “womxn” por Michelle Obama estava relacionado à polêmica do caso Roe versus Wade. Ela compartilhou no Instagram uma série de slides criados pela organização sem fins lucrativos When We All Vote. Um deles dizia: “Legisladores do Estado terão o poder de privar as mulherxs do direito de tomar decisões sobre seu corpo ou seus cuidados de saúde”. Existe uma ironia sombria nesse comentário, um comentário que expõe como a guerra contra a condição da mulher se tornou uma confusão.
Que os “Stories” do Instagram endossados por Michelle Obama se preocupem com as mulheres sendo privadas do direito de controlar o próprio corpo e, no entanto, implicitamente privem as mulheres do direito de usar certas palavras quando falam sobre si mesmas e de suas necessidades. “Womxn”, ou “mulhxr”, é um termo repressor, usado para fazer as massas femininas lembrarem que a categoria delas agora também inclui homens. Como o dicionário on-line Dictionary.com afirmou em 2019, o verbete “womxn” foi criado para ser “inclusivo para pessoas trans e não binárias”.
A histeria linguística do momento está impactando nossa capacidade de entender o mundo à nossa volta
É isso, amigos. Ao excluir a palavra antiga e supostamente problemática “mulher”, mesmo enquanto se preocupa que as mulheres — desculpem, mulhxr — sejam privadas da autonomia sobre seu corpo, When We All Vote involuntariamente destaca as profundas confusões e o profundo não liberalismo por trás do atual apagamento da condição da mulher.
Praticamente nenhum dia se passa sem novos relatos sobre a guerra linguística contra a condição da mulher. Então, a recente questão sobre o funcionalismo público envolve um grupo chamado A:gênero, que defende pessoas trans e intersexo que trabalham em departamentos do governo. O jornal The Times conseguiu alguns vídeos de treinamento que o A:gênero produziu, que são vistos por milhares de funcionários públicos todo ano. Um deles afirma que é impossível definir uma mulher e que dizer “humana adulta” pode ser “transfóbico”.
Atenção, esses educadores woke alertam o funcionalismo público para a “transfobia, que é cada vez mais apresentada como feminismo”. Para reforçar, estamos falando de funcionários públicos, das pessoas responsáveis pelo bom funcionamento da nação. E está sendo explicado a eles que, se você disser em voz alta o que o dicionário define sobre o que é uma mulher, você é preconceituoso. Tem sido ensinado a eles que figuras como JK Rowling, cujo grande crime de pensamento é entender a biologia, promovem o ódio disfarçado de feminismo.
“Você menstrua?”
E então temos o CPS, que contratou Sophie Cook, uma ativista trans, para ocupar um cargo importante de diversidade e inclusão. Essa é a mesma Sophie Cook que já usou o termo ofensivo TERF (trans exclusionary radical feminists, ou feminista radical transexcludente) para se referir a mulheres que acreditam que o sexo é imutável e que os direitos das mulheres devem prevalecer sobre as necessidades emocionais de homens que acham que são mulheres. Cook também defendeu o termo woke inclusivo “womxn” e perguntou em uma discussão no programa Newsnight por que algumas feministas ficam “tão ofendidas com ele”. Talvez porque esse termo limite de forma explícita sua capacidade de falar exclusivamente sobre mulheres? (Mulheres de verdade.)
O projeto The Future of Legal Gender (“O futuro do gênero legal”), da King’s College London, registrou como o ataque linguístico às mulheres pode ser desumanizante. Uma de suas propostas é que o censo poderia se fazer menos ofensivo para as pessoas trans se perguntasse “você menstrua?”, em vez de “você é mulher?”. Más notícias para as mulheres que entraram na menopausa. Elas não contam. Talvez sua existência importe menos do que os sentimentos dos homens que acham que são mulheres?
Todo esse contorcionismo linguístico tem sérias consequências no mundo real. Na semana passada, no universo dos esportes, dois homens — “mulheres trans” — ficaram em primeiro e segundo lugares na prova de ciclismo feminino ThunderCrit, que foi realizada no Velódromo Herne Hill, em Londres. Em resposta às críticas de mulheres que, com razão, perguntaram por que havia apenas uma mulher no pódio de uma corrida supostamente feminina, os organizadores da ThunderCrit disseram que não pretendiam falar com ninguém que só estivesse interessado em “impor sua narrativa”. Por que é uma “narrativa” quando as mulheres dizem que esportes femininos deveriam ser apenas para mulheres, mas não é uma “narrativa” quando a ThunderCrit decide abraçar e promover a estranha ideologia que afirma que qualquer um pode ser uma mulher se quiser?
Uma consequência ainda mais sinistra da nova misoginia linguística também veio à tona na semana passada. Foi revelado que a BBC, em um artigo sobre lésbicas que se sentiram pressionadas a fazer sexo com “mulheres trans”, mudou o gênero do suposto agressor para não ofender ninguém. Uma suposta vítima de estupro conversou com a BBC para essa reportagem e usou os pronomes “ele” e “dele” para se referir ao agressor. Mas a BBC substituiu todos os pronomes masculinos por pronomes neutros (“they” e “them”, em inglês). Uma fonte da BBC disse ao The Times: “Não consigo pensar em nenhuma outra situação em que mudaríamos as palavras de uma suposta vítima de estupro”.
A BBC protege um estuprador
Essa é uma questão muito séria. Se a emissora pública britânica está agora mais preocupada em não ofender supostos estupradores do que em falar a verdade — nesse caso, que uma mulher afirmou ter sido estuprada por um homem —, então está claro que a histeria linguística do momento está impactando nossa capacidade de entender o mundo à nossa volta, de conhecer a verdade. A vergonhosa decisão da BBC de proteger um suposto estuprador de uma ofensa reproduz os desdobramentos do sistema judicial, em que alguns policiais do Reino Unido afirmaram que vão registrar estupros como tendo sido cometidos por mulheres, se o agressor se identificar como mulher. Em pouco tempo, sem dúvida, a requerente vai ser pressionada a dizer “ela” e “dela” sobre o homem que supostamente enfiou o pênis em seu corpo. Será uma conclusão aterrorizante, mas totalmente lógica, para o desvio orwelliano na discussão de todas as coisas relacionadas à mulher.
Tudo isso aconteceu há poucas semanas no Reino Unido. Mulheres banidas do pódio em um esporte feminino. O funcionalismo público e o CPS sendo influenciados por pessoas que acreditam que existe um problema com a palavra mulher. A BBC exposta por sua interferência, por razões ideológicas, no depoimento de um suposta vítima de estupro. Tudo isso são consequências sinistras da sacralização da ideologia trans e do cancelamento de tudo e qualquer coisa que ofenda a sensibilidade trans.
A linguagem é arrogantemente reescrita pelas elites, palavras comuns são redefinidas como expressões de intolerância, é negado às mulheres o direito de se descrever como quiserem, e a própria verdade se torna um sonho distante, enquanto a precisão linguística é substituída pela novilíngua e pelo politicamente correto. Não são os estudantes de estudos de gênero que estão liderando tudo isso — é a BBC, é o governo, são as Cortes e é o establishment cultural. Uma contrarrevolta contra esse terror linguístico é absolutamente necessária.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Ele está no Instagram: @burntoakboy
Revista Oeste
publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2022/06/a-guerra-linguistica-contra-as-mulheres.html
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