por Tarso Teixeira
Agitação na Casa Branca.
O general August. H. River, um dos grandes colaboradores do governo Trump na área de Defesa e Segurança Nacional, fez críticas severas à presidente da Câmara dos Representantes, Nanci Pelosi, em uma conversa particular, vazada para a imprensa.
Entretanto, a presidente do parlamento, inimiga feroz de Trump e de seu governo, não se atreveu a criticar o general. Afinal, nos Estados Unidos, atacar um homem da sua biografia, que comandou tropas internacionais, condecorado, é encrenca na certa.
A população considera o general River um herói nacional, e por isso, Pelosi se calou.
O leitor mais sagaz, a essa altura, já sabe que o general August desta história não existe. Ou melhor, existe, mas não é americano. Se fosse, um homem da biografia do general Augusto Heleno Ribeiro, ex-comandante militar da Amazônia, ex-comandante das Forças de Paz para estabilização do Haiti (Minustah), seria tratado com a deferência que os americanos costumam dar a seus heróis, e jamais seria criticado da forma baixa e solerte como foi atacado pelo presidente do nosso parlamento.
O povo brasileiro entendeu perfeitamente o que o general Heleno quis dizer, num momento particular de indignação, quando falou sobre “chantagens” do Congresso Nacional.
O presidente do parlamento, filho de um prefeito que não deixou saudades no combalido Rio de Janeiro, é hoje a grande expressão do lamentável “Centrão”, que desde o governo Sarney vive de barganhas nada republicanas para aprovar medidas do Executivo.
O ápice desta fórmula foi atingido com FHC, que deu a esta prática o nome pomposo de “governabilidade”, e que Bolsonaro sempre chamou, mais adequadamente, de “toma-lá-dá-cá”.
Incomodado por ficar exposto nas suas reais intenções, o presidente da Câmara dos Deputados atacou o general, dizendo que suas palavras ameaçavam a democracia.
Ora, o general Heleno, com risco da própria vida, ajudou a restabelecer instituições democráticas no combalido Haiti, e exerceu funções de relevo no Exército em plena vitalidade da democracia.
Não, senhores. Nem o general Heleno, nem nenhum dos generais investidos em cargo no governo, poderia jamais ameaçar a democracia, até porque colaboram com um governo democraticamente eleito.
O que põe em risco a democracia é um congresso onde alguns parlamentares sabotam medidas do governo enquanto não recebem seu quinhão do orçamento para emendas impositivas.
O que põe em risco a democracia é um senado que inclui os filhos dos senadores até 33 anos de idade nos planos de assistência médica e odontológica do Senado.
O que põe em risco a democracia, não são os homens da farda. E sim os homens dos fardos.
(Texto de Tarso Teixeira. Superintendente do INCRA no Rio Grande do Sul)
Publicado originalmente no site Diário do Poder
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