Jornalista Andrade Junior

domingo, 1 de setembro de 2013

Paulistano burro


Oliver: ‘Paulistano burro’


VLADY OLIVER
Você está sendo envenenado lentamente e nem se dá conta disso. Dois meses de confrontos diários na cidade, pouca chuva e tempo seco são as condições ideais para termos uma nuvem de dispersão de alergênicos na região central da cidade capaz de envenenar um contingente considerável de seus moradores. Como a moda é debitar tudo na conta “das viroses”, o pacato cidadão faz parte da guerra e nem sabe.
Alguém aqui já se perguntou como uma família de incautos moradores de um luxuoso apartamento com vista para a Avenida Paulista convive com a bandalheira? É certo que quem trafega pela cidade todos os dias vai criando imunidade na mesma razão do envenenamento. Já para um infeliz como eu, que voltei fresquinho de dois meses fora desta savana, o contato com a dura realidade pode resultar numa catástrofe, como de fato aconteceu na terça passada. Estive no centro para um compromisso profissional e na volta já amargava os efeitos do envenenamento; forte irritação urinária, espasmos musculares, desorientação, olhos inchados, obstrução das vias respiratórias.
Minha esposa, ao me socorrer, passou a ter os mesmos sintomas. “Fomos envenenados, meu anjinho. Vou resolver essa lerda”. Comecei embalando toda a roupa exposta à contaminação, para uma lavagem apurada. Depois saí perguntando a todos os médicos que conheço qual o procedimento para uma situação como esta e todos me aconselharam a internação imediata. O caso é que o procedimento médico trata do “ciclo longo” da descontaminação, que dura de três a quatro dias e consiste em hidratar o corpo e controlar a irritação das mucosas.
Eu queria sair andando. Zombava dos colegas médicos que queriam me dar “leito e soro” enquanto eu precisava mesmo de “remédio e banheiro”. Meu pai, sem falsa modéstia, foi um dos melhores farmacêuticos que essa cidade já teve. Era médico e podia receitar o que vendia. Fez pesquisas com remédios naturais e ervas diversas, que deixou anotadas em diversos volumes catalogados, ao longo da vida. Pois é. Ele sabia que dois ingredientes de cozinha combinados, tomados na ordem correta e no intervalo adequado cortam o efeito do agente químico comum das três “armas não letais” usadas pela polícia. E eu sabia que ele sabia.
Levei quase dois dias procurando a fórmula mágica, para o desespero de minha família que queria me internar. Achei e fiquei de pé em duas horas, depois de um sofrimento infernal. É a desmoralização das bombas de efeito moral, hehehe. É claro que essa informação seria valiosíssima para os “black blocks” e outros cretininhos; poder se livrar da intoxicação sem nem ter que ir a um hospital. Fiquem querendo. Spray de pimenta e gás lacrimogênio na tigrada, senhores policiais. É o mínimo que eles merecem.

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