A
educação não somente foi negligenciada no sistema educacional atual,
como também já foi quase que completamente substituída pela doutrinação
ideológica.
Embora seja humanamente impossível responder a todos os e-mails e cartas que os leitores me enviam, muitos deles são bastante interessantes e intelectualmente instigantes, tanto no sentido positivo quanto no sentido negativo.
Por
exemplo, um jovem me enviou um e-mail pedindo as fontes em que eu havia
me baseado para citar alguns fatos negativos sobre o desarmamento em um artigo recente. É sempre bom checar os fatos — especialmente se você checar os fatos de ambos os lados da questão.
Em
contraste, um outro sujeito simplesmente me criticou por tudo o que eu
havia dito nesse artigo. Ele não pediu as minhas fontes e nem quis saber
se elas existiam; ele simplesmente saiu fazendo afirmações em
contrário, como se essas suas assertivas fossem automaticamente corretas
pelo simples fato de estarem sendo pronunciadas por ele, algo que, em
sua mente, invalidaria automaticamente tudo o que eu havia escrito.
Ele
se identificou como médico, e as alegações que ele fez sobre armas eram
as mesmas que haviam sido feitas anos atrás em uma revista médica —
alegações que já foram inteiramente desacreditadas desde sua
publicação. Ele poderia ter aprendido isso caso houvesse me dado a
oportunidade de responder às suas provocações, de um modo que nos
engajássemos em um debate. Porém, ele próprio deixou claro desde o
início que sua carta não tinha o objetivo de gerar um debate, mas sim
apenas de me acusar e me denunciar.
Esse tipo de comportamento se tornou um procedimento padrão no mundo atual.
É
sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos
extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as
pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas,
tudo de maneira generalizada. Seja em debates de internet ou até mesmo
em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu
opositor falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a
frases de efeito de cunho emotivo.
Há
inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na
realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.
Décadas
de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer
idiotizante — certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso
não explica tudo. A educação não somente foi negligenciada no sistema
educacional atual, como também já foi quase que completamente
substituída pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita
por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente
baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e
não-comprovadas de sempre.
Se
as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades —
estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão
obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos
adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de
diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao
debaterem tais diferenças. No entanto, a realidade é que um estudante
pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância
até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma
visão de mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece
dentro do espectro de opiniões autorizadas e politicamente corretas que
domina o nosso sistema educacional.
No
que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é
completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente
se veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em
questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o
feminismo ou qualquer outro ismo.
Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias. Um indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista
é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu
controle — escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles
que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.
Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da
homossexualidade é comum nos campi universitários — e comparecer a
palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo
obrigatório nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao
comportamento homossexual é imediatamente rotulada de "reacionarismo",
"preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata punição.
Enquanto
porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para
denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e
presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que
similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de
grupos não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.
Até
mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada
podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem cerebral
que ocorre nas salas de aula. Recentemente, nos EUA, um aluno da Florida
Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava escrito a palavra "Jesus",
a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade. Felizmente, a
história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo
acadêmico.
A
atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um
caso isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment
universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o
estudante. Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na
academia vai muito mais além do que um simples professor adepto da
doutrinação e da lavagem cerebral.
Estamos
hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se
espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico. As
universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na
inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer
professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste
pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado
assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares. Uma
simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam
questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.
Já
houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio
de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes
permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que
estivessem afetando suas vidas. O pensamento coletivista — que hoje é
predominante no meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o
monopólio de determinadas questões apenas àquelas pessoas que são
reconhecidas como "especialistas" por seus pares.
Este
método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de
frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do
sistema educacional. Se professores universitários — teoricamente a nata
intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam
ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como
podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos
mais profundos?
Para
sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém,
estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por
sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal terceirização de pensamento
ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e
significativos.
O
fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um
aprendizado útil. O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado —
ou melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo evidenciado pelos
formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de
apresentar qualquer resquício de pensamento original.
Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você.
Thomas Sowell,
um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da
Hoover Institution da Universidade de Stanford. Seu website: www.tsowell.com.
Publicado no site do Instituto Ludwig Von Mises Brasil.
Tradução: Leandro Roque
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