Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Por que Israel não é a mesma coisa que Palestina?

 RAFAEL HITLODEU/INSTITUTOLIBERAL


Já se vão um ano e meio praticamente da “guerra assimétrica” (i.e. da ação de bandidos com pretensões políticas contra soldados devidamente uniformizados e identificados – ou seja, é assimétrica por opor os covardes fantasiados de civis aos homens e mulheres que honram a farda e por ela se expõem) entre o grupo criminoso Hamas e o Estado legitimamente constituído de Israel. Além da crueldade visual e, nos dias de hoje, praticamente em tempo real, o que mais essa guerra de Israel por sua sobrevivência tem a nos ensinar? Eu diria, modestamente, que são duas as frentes principais de análise da guerra. A primeira delas é a “frente retórica”.


Ao se dizer, como os tolos estudantes da esquerdalha universitária não cansam de repetir, “Palestina livre do rio [Jordão] ao mar [Mediterrâneo]”, repetem um jargão que somente os ignorantes podem endossar. Pelo simples fato de que nunca existiu uma Palestina; é um eufemismo para “árabe” vivendo em território de maioria judaica, religiosa ou leiga. Se algum dia existiu esse termo de iure foi apenas durante o Mandato Britânico na região, por cima dos escombros do Império Otomano na área. Basta examinar documentos numismáticos ou postais do período 1920 – 1948 para se verificar, quer nas moedas, quer nos selos que os ingleses utilizaram na região, mostram-se sempre três legendas: uma em árabe (“Palestin”), outra em inglês (“Palestine”) e outra em hebraico (“Eretz Israel”, i.e. “Terra de Israel”). O leitor percebe como, nessas inocentes peças de coleção, se conta a história da imigração e instituição de um Estado legítimo frente ao amontoado incôngruo que já existia na região?


O termo “Palestina” foi usado pelos ingleses por comodidade, e evidentemente os árabes locais nunca usariam o termo “Terra de Israel” para se referirem aos seus ocupantes judeus, que vinham se instalando pacificamente na área desde o século dezenove. Trata-se de uma convenção moderna para “árabe em solo israelense”.


O Mandato Britânico na região foi apenas parte do desastroso acordo Sykes-Picot – dois funcionários diplomáticos respectivamente da Inglaterra e da França, que desmembraram o que sobrou do Império Otomano fora da Anatólia segundo linhas arbitrárias e o fizeram, em alguns casos, bêbados. Aos que alegam que Israel é uma “invenção sionista” do “capitalismo internacional” (ah, as generalizações fáceis que atiçam os hormônios juvenis…), dever-se-ia lembrar que, além da Bíblia, temos fartos testemunhos relativos à ocupação da área que, grosso modo, corresponde ao atual Israel em documentos de vários tipos desde a Antiguidade. Se utilizarmos a régua (muitas vezes injusta e insensata, concedo) de que tem direito ao solo quem o ocupa há mais tempo, veremos que os árabes estão por “apenas” desde o século oito.


Um outro argumento usado com frequência no “front cultural anti-Israel” é o de que não haveria uma justificativa étnica para a composição do Estado israelense e, por isso, estaríamos fora da malfadada “autodeterminação dos povos”. Os defensores desse argumento alegam que os judeus askhenazis (i.e. aqueles provenientes do Leste e Centro da Europa) não podem ser considerados em sã consciência como judeus étnicos, e brandem com arrogância os estudos de Arthur Koestler sobre os khazares, religiosamente judeus, porém etnicamente indefinidos, que viveram no centro da Ásia na Idade Média. Mas convenientemente se esquecem de que o próprio Koestler (ele mesmo judeu) fez questão de dissociar o direito à existência de Israel como Estado independente e soberano da questão da proveniência dos ashkenazis. Imaginá-los como “ramo europeu” da Diáspora pós-70 EC, quando da destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos, seria o mesmo que ter de esvaziar o território nacional brasileiro em função da manifesta (e bem-vinda) miscigenação dos habitantes que o constituem.


Em suma, a trapalhada wilsoniana da “autodeterminação dos povos” levou aos argumentos tanto a favor como contra a existência do Estado de Israel. Logicamente, não podem ambos os conjuntos de argumentos estarem certos simultaneamente. Israel conquistou seu direito à existência pela coesão cultural dos próprios judeus; com a Aufklärung judaica de fins do século dezoito ao dezenove, bases culturais sólidas foram firmadas para o estabelecimento de um Estado que abrigasse os judeus em sua área de origem histórica. Intelectuais como Theodor Hertzl não têm nada a ver com os eventuais fanáticos encontrados do lado judaico (i.e., israelense).


O outro front diz respeito à aliança imunda entre a esquerdalha pós-Segunda Guerra Mundial e os árabes (curiosamente, também organizados de modo aleatório em torno de Israel… Vejam no mapa as fronteiras retilíneas de Jordânia, Síria, Iraque). Essa aliança nada mais é do que a continuidade da mesma aliança entre a Alemanha nazista e os árabes, dos quais o mais notório foi Haj Amin al-Husseini, o infame Grande Mufti de Jerusalém – tratado com honras de Estado pelos nazistas e um dos arquitetos do Holocausto. Por acaso, mentor do não menos perverso e corrupto Yasser Arafat, que durante décadas se locupletou com o rancor árabe contra Israel. O Grande Mufti (título farsesco conferido a Husseini pelo comissário britânico para a área do Mandato em 1921, Herbert Samuel) instigou desde cedo a violência anti-judaica em função da ideologia salafista de que estava imbuído desde seus dias de estudante; mas, como ocorre com frequência, ao fanatismo de raiz, junta-se a corrupção de oportunidade, e os próprios nazistas não toleraram por muito tempo a depravação pessoal de Husseini, considerando-o antes um estorvo do que uma ajuda para a causa do extermínio dos judeus. Isso vindo do próprio Himmler, que imaginava o Islã como algo notável e produtor de soldados invencíveis face ao destemor do martírio. Mesmo para os nazistas, Husseini foi mau exemplo; recomendo a leitura de David Horowitz, Unholy Alliance. Radical Islam and the American Left e ainda, entre muitos outros, David Motadel. Islam and Nazi Germany’s War. Um bom livro que entre tantos outros não poderia faltar aqui é Nazis, Islamists, and the Making of the Modern Middle East, de Barry Rubin e Wolfgang G. Schwanitz.


No pós-guerra, a resolução da ONU estabelecia tanto um Estado judeu quanto um árabe na região; os árabes, cinco países mequetrefes aliados, tentaram esmagar Israel nascente e falharam. Desde então, Israel tem se fortalecido militarmente, financeiramente e – isso deveria ser o mais importante para um analista lúcido – culturalmente. Face à mixórdia das republiquetas de clãs e de golpes sangrentos em torno de si, Israel permaneceu como a única área democrática na região. Sua cultura é a nossa cultura, diz o bom-senso do observador sensato e moderado. Somos uma civilização de origem judaico-cristã, em seus fundamentos éticos e religiosos; mesmo o ateísmo ocidental só faz sentido diante desse background.


Reconhecer isso é reconhecer a validade – diria mais, a superioridade – das instituições ocidentais frente ao despotismo milenar que anima uns e aniquila outros no Oriente Médio. Tal concessão, a esquerda não fará, pois a carga do pacote é demasiado moralizante para quem se estabeleceu sem moralidade alguma; nisso, o Grande Mufti de Jerusalém e Fidel Castro teriam se entendido perfeitamente. Para ambos, “moral” é apenas um termo usado pelo “inimigo” (judeu num caso, burguês no outro) que justifica seu extermínio. Felizmente, nunca faltaram a Israel aliados sensatos, que nutrem seus esforços de guerra contra a bandidagem salafista ou wahhabista – aos quais nós, ocidentais, jamais devemos dar quartel.


*Rafael Hitlodeu é colaborador do Instituto Liberal.




















PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/historia/por-que-israel-nao-e-a-mesma-coisa-que-palestina/

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