Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Bloomberg: Vietnã seguindo os passos de Musk e Milei?

 Rainer Zitelmann


A Bloomberg surpreendeu os leitores há alguns dias com a manchete: “Os comunistas do Vietnã se juntam a Musk e Milei para reduzir o tamanho do governo”. No artigo, lê-se: “Enquanto Elon Musk e Javier Milei, da Argentina, defendem planos ambiciosos para reduzir drasticamente o tamanho do governo, um esforço semelhante está sendo conduzido do outro lado do mundo por líderes políticos com uma ideologia completamente diferente: o Partido Comunista do Vietnã.”


O partido governante no Vietnã se autodenomina comunista, mas iniciou reformas rumo à economia de mercado já em 1986. Faz muitos anos que o Vietnã – pelo menos no que diz respeito à economia – não tem mais nada em comum com o socialismo ou o comunismo. Os comunistas do Vietnã são tão comunistas quanto a Coreia do Norte é democrática – apenas no nome.


O artigo da Bloomberg continua: “Os oficiais vietnamitas estão mirando uma redução de cerca de 20% no tamanho dos ministérios, agências governamentais e da força de trabalho civil… Os planos preveem a abolição de cinco ministérios e a fusão de ministérios como Finanças e Planejamento e Investimento. Quatro agências governamentais, incluindo o Comitê de Gestão de Capital Estatal, serão eliminadas… Ainda não está claro quantos empregos serão cortados, mas os funcionários públicos estão claramente preocupados – um vice-primeiro-ministro disse que 100.000 empregos serão afetados, enquanto um ex-parlamentar afirmou que centenas de milhares de membros do partido e empregados públicos ficarão apreensivos.” 


Esses acontecimentos no Vietnã são ainda mais notáveis quando comparados ao que está acontecendo na China. Nos anos 1980, a China também iniciou reformas de economia de mercado, sob a liderança de Deng Xiaoping. No entanto, sob a liderança de Xi Jinping, a China está, infelizmente, retrocedendo na direção de mais Estado e menos mercado. Essa mudança trouxe consequências. Enquanto o crescimento na China caiu para menos de 5% no ano passado, no Vietnã, ele subiu para mais de 7%.


Será interessante ver como o Vietnã se posicionará no Índice de Liberdade Econômica de 2024, que será publicado no próximo mês. No ano passado, o Vietnã subiu 13 (!) posições em comparação ao ano anterior, quando estava em 72º lugar. Em uma comparação de longo prazo desde 1995, o Vietnã ganhou 21 pontos, mais do que qualquer outro país de tamanho comparável no mundo (os Estados Unidos, por outro lado, perderam mais de 6 pontos no mesmo período).


Estive em Saigon e Hanói novamente em dezembro e conversei com muitos empreendedores. Fiquei impressionado com o forte espírito capitalista e empreendedor predominante entre o povo vietnamita. Minhas impressões pessoais ao conversar com as pessoas no Vietnã foram confirmadas por uma pesquisa de opinião: de 2021 a 2023, o instituto de pesquisa Ipsos MORI conduziu uma pesquisa em meu nome em 35 países para descobrir o que as pessoas de diferentes nações pensam sobre o capitalismo. No Vietnã, o instituto de pesquisa de opinião Indochina Research realizou uma pesquisa representativa entre 19 de outubro e 7 de novembro de 2022.


Na maioria dos países pesquisados, atitudes negativas em relação ao capitalismo prevaleceram. No Vietnã, em contraste, as pessoas tendem a associar o “capitalismo” a características positivas, como “progresso” (81%), “inovação” (80%), “uma ampla variedade de bens” (77%), “prosperidade” (74%) e “liberdade” (71%).


Além deste teste de associações, os entrevistados nos 35 países também foram apresentados a 18 afirmações positivas e negativas sobre o capitalismo.


No Vietnã, a declaração que atraiu maior concordância (78%) foi: “O capitalismo significa liberdade econômica.” Apenas no Japão e na Coreia do Sul essa afirmação também ficou em primeiro lugar. O segundo maior nível de concordância, 74%, foi com a afirmação: “O capitalismo melhorou as condições para as pessoas comuns em muitos países.” Em apenas um dos outros 35 países onde conduzimos a pesquisa, essa declaração ficou entre as cinco principais.


A afirmação “O capitalismo incentiva as pessoas a darem o seu melhor”, que foi a terceira mais selecionada no Vietnã, também atraiu um forte apoio (71%). Apenas em três dos 35 países pesquisados essa afirmação ficou entre as cinco principais. Em quinto lugar no Vietnã está a afirmação: “O capitalismo garante prosperidade” (64%). Novamente, há apenas um outro país entre os 35 em que essa afirmação também ficou entre as cinco principais. Em sexto lugar no Vietnã, temos a afirmação: “O capitalismo pode não ser ideal, mas ainda é melhor do que todos os outros sistemas” (59%).


Só o tempo dirá se o líder do partido do Vietnã, Tô Lâm, será capaz de implementar efetivamente as reformas propostas para reduzir o tamanho do Estado. Ainda há muito a ser feito no Vietnã: há muitas empresas estatais e a corrupção ainda é um grande problema. Podemos, portanto, apenas esperar que o Vietnã continue em seu caminho rumo a uma economia mais orientada para o mercado. Afinal, isso já resultou em uma diminuição substancial na proporção da população vietnamita que vive na pobreza, que despencou de quase 80% no início dos anos 1990 para apenas 3% atualmente.




















PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/economia/bloomberg-vietna-seguindo-os-passos-de-musk-e-milei/

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