Rainer Zitelmann
Muitos alemães gostavam de ver seu país como um líder global na luta contra as mudanças climáticas. Apesar de a Alemanha ser responsável por apenas 1,5% das emissões globais de CO2 causadas pelo homem, os defensores da ação climática argumentavam que o país poderia servir de exemplo para outras nações. Esses autoproclamados “salvadores do mundo” acreditavam que, se a Alemanha liderasse, outros a seguiriam em breve.
Mas agora parece que a Alemanha se tornou mais um exemplo do que não fazer do que um modelo a ser seguido. A situação econômica do país piora a cada mês. O crescimento é inferior ao de quase todos os outros países da OCDE.
A BASF, que já foi a maior empresa química do mundo, está cortando milhares de empregos na Alemanha e redirecionando vários bilhões de euros em investimentos para a China. Na semana passada, a maior fabricante de aço da Alemanha, ThyssenKrupp, anunciou planos para cortar 11 mil empregos. A empresa havia recebido dois bilhões de euros em subsídios com a condição de que fizesse a transição para a produção de “aço verde” utilizando hidrogênio, algo totalmente antieconômico. Tanto a BASF quanto a ThyssenKrupp citaram os preços exorbitantes da energia na Alemanha e a burocracia gigantesca como razões para suas decisões.
Houve um aumento significativo no número de empresas entrando com pedidos de insolvência. A taxa atual é 66% maior do que a média para o mês de outubro nos anos de 2016 a 2019, antes da pandemia de COVID-19.
De acordo com um estudo realizado pela EY, cada vez menos empresas estrangeiras desejam investir na Alemanha. O número de projetos de investimento estrangeiro direto (IED) em novos empreendimentos e expansões no país diminuiu 12% em relação ao ano anterior. Isso representa o sexto declínio consecutivo e o menor nível de atividade de investimento desde 2013.
A EY identificou a política energética da Alemanha como um dos principais fatores de dissuasão para investidores industriais. A combinação de um ambiente recessivo, altos preços de energia e incertezas em relação ao abastecimento energético foi destacada como um fator crucial, juntamente com os altos custos trabalhistas e a complexidade burocrática, que acabam desestimulando ainda mais os investidores estrangeiros.
As estimativas do custo total da transição climática na Alemanha variam entre 1,8 trilhão de euros (ifo Institut) e 6 trilhões de euros (McKinsey). Contudo, os custos indiretos são ainda maiores. Um componente-chave da política climática alemã e europeia é a “transição da mobilidade”, que exige uma mudança obrigatória para a e-mobilidade. A União Europeia proibiu o registro de carros com motores a combustão a partir de 2035. Como resultado, a indústria automotiva alemã entrou em uma crise severa. A Volkswagen anunciou planos de demitir dezenas de milhares de funcionários e fechar várias fábricas na Alemanha. Grandes fornecedores automotivos, como ZF, Continental e Bosch, também anunciaram a dispensa de dezenas de milhares de trabalhadores.
A indústria automotiva alemã, que já foi uma líder global admirada pelo mundo inteiro, tornou-se um caso perdido. O coração da economia alemã está enfraquecendo.
A construção de moradias na Alemanha também sofreu uma queda dramática. Por um lado, o número de imigrantes que chegam ao país continua a aumentar; por outro, cada vez menos novas moradias estão sendo construídas. Existem 20 mil regulamentações de construção e inúmeras regras destinadas a tornar as construções mais “ecológicas”, o que as tornou excessivamente caras.
As origens dos atuais problemas econômicos da Alemanha remontam à administração de Angela Merkel, e não ao governo recentemente colapsado de Olaf Scholz. A boa situação econômica durante o governo Merkel não foi resultado de suas políticas, mas apesar delas. Ela se beneficiou das reformas de mercado e dos cortes de impostos implementados por seu antecessor, Gerhard Schröder. Durante seu mandato, Merkel não apenas deixou de introduzir novas reformas como também agravou problemas existentes, especialmente no campo da política energética. Como já foi observado há cinco anos, a política energética da Alemanha é a mais absurda do mundo.
A luta contra as mudanças climáticas é frequentemente citada como o principal objetivo da nossa era, a questão primordial que deveria guiar todas as decisões políticas. No entanto, a decisão da Alemanha de encerrar suas usinas nucleares levou o país a depender de energia nuclear importada e de eletricidade gerada em usinas a carvão no exterior. Além disso, apesar de proibir o fracking em território nacional, a Alemanha continua importando gás natural liquefeito (LNG) produzido por meio de fracking nos Estados Unidos. Uma política irracional repleta de contradições.
A Alemanha, pelo menos, é a campeã mundial em proteção ao clima? Não. A Alemanha ocupa um respeitável terceiro lugar no Índice de Desempenho Ambiental, mas, justamente na categoria de proteção climática, fica apenas na sétima posição (o Reino Unido está em quinto lugar).
A Alemanha queria ser campeã mundial não apenas em política climática, mas também em política de migração e social. Porém, a combinação de generosos benefícios sociais e fronteiras abertas não funcionou. Hoje, 64% dos beneficiários de assistência social, conhecidos como Bürgergeld (“renda básica”), têm origem migratória. O sistema social está sobrecarregado, e o crime está aumentando rapidamente.
Em vez de ser um modelo para o resto do mundo em políticas climática e de migração, como muitos políticos alemães esperavam, a Alemanha agora se tornou um exemplo de advertência. Mais uma vez, o modelo de uma economia planejada falhou: em uma economia de mercado, são as empresas e, em última instância, os consumidores que decidem o que será produzido. Em contraste, em uma economia planejada, as decisões são tomadas por políticos que acreditam saber mais do que milhões de empreendedores e consumidores. Nesse aspecto, o resto do mundo pode aprender algo com a Alemanha, ou seja, uma lição sobre o que não fazer.
publicadaemhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/alemanha-uma-licao-sobre-o-que-nao-fazer/
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