Jornalista Andrade Junior

domingo, 29 de dezembro de 2024

O governo Lula mostra o que nos aguarda: entre o autoritarismo e a estupidez

  Gabriel Wilhelms 


A essa altura do campeonato, só há duas classes de pessoas capazes de defender a criminalização das chamadas fake news e o controle do discurso nas redes sociais: quem é ingênuo ou estúpido o suficiente para não antever as consequências; e quem entende perfeitamente as consequências e as aceita de bom grado por ter uma índole autoritária. Uma das consequências de dar ao Estado o poder de ser o árbitro da verdade é que isso seja usado pelo governo para silenciar seus críticos e se furtar da responsabilidade por suas políticas e decisões. O governo Lula 3, fiel sócio da onda censória que assola o país, dá mais um exemplo do que temos adiante.


Não é que o ministro da Secom, Paulo Pimenta, o mesmo que fez a Polícia Federal investigar postagens críticas à resposta do governo durante as inundações que devastaram o Rio Grande do Sul, apontou que a alta do dólar, que tem quebrado recorde após recorde de maior cotação da história (no momento em que escrevo este artigo, está custando R$ 6,15), é fruto, vejam só, da “indústria da fake news”? Ele alude a um comentário da jornalista Daniela Lima, da Globo News, segundo a qual um perfil no X teria disseminado informações falsas a respeito de falas inverídicas atribuídas ao próximo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. A AGU não se furtou à sua nova tradição e já correu para acionar a Polícia Federal, que deve instaurar um inquérito para investigar a coisa. O real vem mantendo uma desvalorização consistente ao longo do ano, fruto, como todos sabem (ou deveriam saber), da falta de confiança em relação ao compromisso do governo com a estabilidade fiscal, mas a culpa da alta do dólar seria de uma meia-dúzia de postagens de um perfil obscuro, e já desativado, no X.


Não é uma novidade que o governo tente se furtar de sua responsabilidade e apontar fantasmas e conspiradores como artífices de seu fracasso; isso sempre aconteceu e continuará acontecendo. O que é novidade é o aditivo da fake news — que, recordemos, não é crime em nosso ordenamento jurídico. Se aceitarmos que o Estado se torne árbitro da verdade, o que agora é feito ao arrepio da lei (mas sob aplausos da alta cúpula do Judiciário), será oficializado como uma política de Estado. O dólar subiu? Culpa das fake news. A inflação está alta? Culpa das fake news. O PIB caiu? Culpa das fake news. Essa política pública fracassou? Culpa das fake news. A taxa de aprovação do governo diminuiu? Culpa das fake news.


Basta seguirmos o exemplo de Hercule Poirot e usar nossas “células cinzentas” para concluir o óbvio: o combate à dita desinformação é uma desculpa para que o governo consiga o que realmente deseja, isto é, a censura de seus críticos, bem como a manipulação da informação, de forma que ela seja mais favorável à sua imagem. Ora, não foi a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que, após o resultado pífio de seu partido nas eleições municipais deste ano, afirmou com todas as letras que as redes sociais precisam ser “regulamentadas” para que a esquerda deixe de ser “massacrada”? Aliás, esse é o partido que sempre teve a “regulamentação da imprensa” como uma de suas bandeiras.


Diante desse exemplo, insistir em que o que se intenciona é combater a mentira é puro cinismo ou franca estupidez. A própria afirmação de que as fake news são responsáveis pela alta do dólar pode muito bem ser enquadrada como desinformação: por óbvio, a mera existência de uma informação falsa não basta para que se prove causalidade, sobretudo em algo como a alta do dólar, cuja explicação não guarda nenhum mistério. Se mentir, manipular a verdade ou “desinformar” fosse de fato crime, não só os responsáveis pelo tal perfil deveriam ser responsabilizados, mas a própria jornalista pela tese de que isso colaborou para a alta do dólar, a Globo News, por permitir a divulgação da fala, e o ministro, Paulo Pimenta, por propagar ele mesmo uma desinformação.


Se apresento aqui o dilema entre ser autoritário e estúpido, destaco que essa dualidade é temporária, pois, no longo prazo, prevalece a estupidez de qualquer modo. Se o ingênuo peca por não antever as consequências hoje, o autoritário peca por não as antever no futuro. Ele parece pensar que o governo atual será eterno. Não sabe ele que o mundo gira? Não assistiu, para citar um exemplo bem recente, o surpreendente retorno de Trump à Casa Branca? O que dizer de alguém que apoia a criação de uma máquina de censura oficial pelo Estado, a ser ardilosamente usada pelo governo de ocasião, ignorando que amanhã ele pode ser (e será) a nova vítima dessa máquina? Estúpido, simplesmente estúpido.


Fontes:


https://www.poder360.com.br/poder-midia/globonews-diz-que-fake-news-impulsiona-dolar-e-planalto-concorda/


https://www.infomoney.com.br/politica/gleisi-esquerda-vai-continuar-sendo-massacrada-se-nao-regular-redes-sociais/


https://www.cnnbrasil.com.br/politica/lula-volta-a-defender-a-regulamentacao-da-imprensa/


https://www.infomoney.com.br/mercados/agu-aciona-pf-e-cvm-para-apurar-fake-news-sobre-galipolo-que-teria-afetado-o-dolar/









publicadaemhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/o-governo-lula-mostra-o-que-nos-aguarda-entre-o-autoritarismo-e-a-estupidez/

0 comments:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More