Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Cuide-se de quem fala em “luta política”.

   Percival Puggina


  Décadas de vida e centenas de debates políticos me proporcionaram boa experiência em lidar com interlocutores esquerdistas. Ao escrever sobre eles devo dividi-los em dois grupos: o das raras e brilhantes exceções e o dos seguidores da regra geral que consiste em tentar vencer sem ter razão.  Confrontar opiniões com o primeiro grupo era instigante e proveitoso; com os demais, um exercício de comiseração para com a miséria moral alheia, que tem tudo a ver com o que chamam “luta política”. Ela justifica tudo, menos a si mesma porque são termos antagônicos: ou é política ou é luta.

Mesmo assim, procure no Google a expressão “luta política”. Vai encontrar mais de meio milhão de referências em português, um milhão e meio em inglês (political fight) e quase dois milhões em espanhol (lucha política). Achou muito? Dê uma olhada nos textos em que as expressões aparecem e verá que em sua totalidade são de viés esquerdista. A conexão de “política” com “luta” está no DNA da esquerda; as duas palavras são o espermatozoide e o óvulo da revolução.

Conservadores e liberais não usam essa expressão. Ao menos, nunca me deparei com ela sendo utilizada fora da cartilha esquerdista. Sempre a vi como incitação à luta ou como rota de fuga para a desonestidade intelectual justificando meios viciosos com a suposta virtude dos fins.

Perdi a conta das vezes em que ao apontar e advertir o interlocutor por suas contradições, falácias, mistificações, ou agressividade verbal, ouvi como explicação: “É a luta política, Puggina”. Isso é dito como salvo-conduto para impropriedades ou como proveitoso passaporte retórico que credencia o portador a se conduzir como um James Bond, um 007 em relação à verdade ou à reputação alheia, a serviço de sua majestade – a revolução proletária.

Esse aparentemente simples dado da realidade explica muitos dos acontecimentos brasileiros dos últimos anos. Políticos, cidadãos ocupantes de posições de representação e relevo social, titulares de nobres funções de Estado, fizeram coisas que lhes seriam inconcebíveis, contradisseram as próprias palavras ditas e escritas, afrontaram as respectivas biografias, puxaram intocáveis cordéis por exigência da “luta política”. Ou da política transformada em caricatura de si mesma, com danos à democracia, ao estado de direito e à liberdade dos cidadãos.

Enquanto esse modo “vale tudo” de fazer política não for percebido e rejeitado pela sociedade, ou seja, por quem está nas galerias e vota, o palco da disputa pelo poder continuará sendo o preferido das tragédias sociais.  Como afirmei no parágrafo inicial desta crônica, ao falar sobre as “raras e brilhantes exceções”, já conheci gente melhor.















PUBLICADAEMhttps://puggina.org/artigo/cuide-se-de-quem-fala-em-%E2%80%9Cluta-politica%E2%80%9D__17903

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