por Lucas Berlanza
'Lula não recebeu Maduro como chefe de Estado, mas como aliado ideológico', afirma Lucas Berlanza Corrêa
Grassa, nos setores que tradicionalmente se consideram como “formadores de opinião pública”, o emprego ilusionista da retórica para inebriar leitores e espectadores com uma falsa sensação de normalidade diante do absurdo e atacar espantalhos. É o que se vê na grande mídia, da parte de “analistas” que nada analisam, quando comentam a reação da oposição diante da visita do ditador venezuelano Nicolás Maduro ao Brasil.
Não apenas da oposição, aliás. Seria mais preciso dizer: reação de todos aqueles que são intelectualmente honestos e esposam princípios liberais-democráticos. Depois de tanto acenar para a importância da união latino-americana, o presidente Lula conseguiu, afinal, unir lideranças à esquerda e à direita na região contra seu discurso de que o autoritarismo do regime de Maduro seria apenas uma “narrativa”.
O problema é que os referidos “analistas” qualificam as críticas como “indignações seletivas”, argumentando que seria estupidez pretender que o governo brasileiro não mantivesse relações diplomáticas com a Venezuela. É verdade; a Venezuela faz fronteira com o Brasil e é um imperativo dos fatos que mantenhamos relações com o Estado venezuelano. Da mesma forma, as potências ocidentais, por mais que rechacem os fundamentos ditatoriais de sistemas políticos como o chinês e o russo, por exemplo, não podem se dar ao luxo de fingir que China e Rússia não fazem parte do mundo e não são potências nucleares.
Lula não está defendendo apenas a ditadura de Maduro. Ele está defendendo o seu próprio desamor pela liberdade
O que os “analistas” não ressaltam — e, que me perdoem por dizê-lo, não o fazem sem má intenção — é que Lula não se limitou a receber Maduro em nosso território, o que fez com salamaleques, pompa e circunstância, imediatamente após amesquinhar nossa respeitabilidade internacional com sua persistência em se vender como “pacificador” do conflito na Ucrânia, “empurrando” sempre para o mesmo nível a vítima e o agressor. Ele foi além: não recebeu Maduro como chefe de Estado e de governo de uma nação vizinha, mas como aliado ideológico.
LULA, MADURO, A DITADURA E AS ‘NARRATIVAS’
Ao ratificar a propaganda do regime venezuelano e pontificar que a ditadura venezuelana é uma narrativa, Lula alegou ainda que essa narrativa teria sido fabricada pelos “nossos adversários”. Ressalte-se o pronome possessivo: nossos adversários. Não só de Maduro; nossos. Não se trata tão-somente do respeito institucional que se impõe pelo pragmatismo das relações internacionais. Trata-se da camaradagem de parceiros ideológicos e aliados políticos. Trata-se do afago de quem, em outros tempos, patrocinou o regime chavista, política e economicamente, e manifesta com clareza sua disposição para fazê-lo novamente. Para fazê-lo, é claro, com o dinheiro dos brasileiros.
Esse “nossos” é um detalhe essencial. Lula não está defendendo apenas a ditadura de Maduro. Ele está defendendo o seu próprio desamor pela liberdade e o seu próprio desprezo pelos direitos humanos. Cabe a cada brasileiro decidir se está ou não incluído nesse pronome possessivo utilizado pelo seu presidente da República.
Lucas Berlanza Corrêa, presidente da diretoria executiva do Instituto Liberal
REVISTA OESTE
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