por Rodrigo Constantino
No chá das cinco que foi a “sabatina” de Zanin para o STF, quase 60 senadores acharam prudente um presidente indicar seu próprio advogado e amigo para ser o guardião da nossa Constituição
Dezoito senadores. Eis o número de parlamentares da Casa “superior” do povo que demonstraram juízo, bom senso e compromisso patriota. No chá das cinco que foi a “sabatina” do advogado de Lula para o STF, somente 18 senadores votaram contra. Os demais, quase 60, acharam prudente um presidente indicar seu próprio advogado e amigo, sem o devido e notório currículo jurídico, para ser o guardião da nossa Constituição.
O editorial da Gazeta do Povo lamentou, logo na abertura do texto: “Uma das características que mais saltam aos olhos em qualquer governo petista é a depredação institucional que o partido realiza quando assume o poder”. O esgarçamento institucional, vale notar, acelerou muito, antes mesmo de o PT voltar ao comando do governo. A destruição de nossas instituições se deu para que Lula “voltasse à cena do crime”, como diria Alckmin antes de aderir ao time.
Para o PT, não há distinção entre partido, governo e Estado. Tudo é visto como uma só coisa, para que seu projeto de poder totalitário possa vingar. O cinismo do presidente beira a psicopatia: na campanha, ele condenou com veemência a ideia de indicar para o Supremo um amigo, alguém que seja escolhido por critérios pouco republicanos. Apenas tucanos alienados podem se surpreender com esse tipo de promiscuidade típica de republiquetas, de países tribais, onde clãs comandam tudo.
Diz o editorial da Gazeta: “Assim, o fato de o mesmo presidente que no passado indicara um ex-advogado do PT para a Suprema Corte repetir a dose, agora com seu advogado pessoal, só surpreende quem realmente quis ser surpreendido — temos, aqui, Lula sendo Lula, e nada pode ser mais previsível que isso. Triste, profundamente triste, é que o Senado tenha se rebaixado ao ponto de dar seu endosso a esse acinte”.
A esperança que muita gente depositou no Congresso “mais conservador” se mostra cada vez mais ingênua. À exceção de um ou outro parlamentar realmente independente e corajoso, a maioria é do grupo fisiológico, que só pensa em si mesmo, e não liga para o Brasil. Tivemos até senadores bolsonaristas tecendo elogios ao indicado de Lula! É duro manter esperanças num país desses.
O deputado Marcel van Hattem, uma das poucas vozes sérias da política nacional, desabafou sobre seus colegas do Senado: “Pior do que a aprovação foram os 58 votos a favor. Apenas 18 senadores se opuseram a que mais um amigo de Lula se tornasse ministro do Supremo. Parabéns a estes; vergonha da maioria de uma Casa que se verga ao PT e ao tribunal que já é seu puxadinho”.
Enquanto isso, os ativistas supremos, aqueles que têm sido responsáveis pela destruição total do STF, festejaram. Alexandre de Moraes escreveu: “Parabéns ao Ministro Cristiano Zanin pela merecida aprovação no Senado Federal. Tenho absoluta certeza de que o Brasil ganhara [sic] com sua atuação competente e corajosa em nossa Suprema Corte”. Se comemora assim aquele que comanda o inquérito ilegal que instaurou no país a censura prévia, persegue conservadores e trata jornalistas de direita como marginais perigosos sem qualquer crime cometido, então sabemos que lascou para o povo.
Gilmar Mendes, por sua vez, comentou: “O Dr. Cristiano Zanin é muito merecedor dessa aprovação. Distinto no trato e equilibrado em suas posições, antevejo uma brilhante trajetória no Supremo Tribunal Federal. Que seja muito bem-vindo!” Faltou só chorar de emoção entre um gole e outro de água, como já fizera quando elogiou Zanin, ainda advogado de Lula. Se Gilmar está festejando, então sabemos que bandidos em busca de habeas-corpus do Supremo também estão, pois Gilmar é recordista nesse tipo de “garantismo”, inclusive para apadrinhados.
Por falar nisso, no Brasil só Sergio Moro é um juiz suspeito. O restante jamais será, mesmo que esteja julgando o partido que já o empregou ou algum amigo próximo. Todos são livres para aceitar participar da farsa, fingir que o Brasil é um país sério, com leis, com Estado Democrático de Direito e uma Corte Constitucional que busca proteger nossa Carta Magna de forma imparcial. Mas esse tipo de teatro cobra um alto custo do povo.
Às vezes uma pequena minoria faz toda a diferença. Para inspirar os corajosos, uma das histórias mais contadas é aquela dos 300 de Esparta. Eles foram os guerreiros espartanos liderados por Leônidas, rei de Esparta, na batalha de Termópilas, travada contra o Império Persa por volta do ano 480 a.C. Foram para o sacrifício, sabendo da missão impossível, para ganhar tempo.
O número de soldados persas era muitíssimo superior ao número de soldados liderados por Leônidas (mesmo contando os contingentes das cidades aliadas). Percebendo isso, Xerxes enviou mensageiros ao rei Leônidas propondo que os espartanos e seus aliados se rendessem e entregassem as armas. Segundo a tradição, a mensagem de Xerxes foi: “Rende-te e entrega tuas armas!”. A resposta de Leônidas teria sido: “Vem buscá-las!”.
Como ficou claro na “sabatina” de Zanin, há pouca resistência ao projeto de poder deles. Mas a resistência de poucos corajosos pode fazer bastante diferença no resultado
Apesar da inferioridade numérica, os espartanos e seus aliados ofereceram uma dura resistência aos persas. A inferioridade numérica era compensada pela motivação: enquanto espartanos e aliados estavam defendendo suas cidades, lutando contra invasores, os comandantes persas recorriam a chicotes para obrigar suas tropas desmotivadas a lutar. Assim, inicialmente, os gregos estavam conseguindo repelir todos os ataques dos persas.
No entanto, um grego chamado Efialtes traiu Leônidas e ajudou Xerxes a encontrar um outro caminho no desfiladeiro das Termópilas. O traidor guiou os persas durante a noite através das montanhas. Desse modo, os persas surpreenderam os espartanos e seus aliados pela retaguarda. Leônidas e seus homens resistiram corajosamente, mas acabaram mortos na batalha desigual.
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