Ele passou a ser chamado de ‘emendas do relator’, no linguajar oficial dos jornalistas, depois da eleição de Lula
J.R. Guzzo
Menos de uma semana depois de ter sido declarado vencedor das eleições presidenciais de 30 de outubro, e ainda a dois meses da posse, o ex e novo presidente Lula já entregou a primeira grande realização do seu governo — acabou com o “Orçamento secreto”. Todos se lembram dele. Como a saúva e outras maldições nacionais, o “Orçamento secreto” era um dos maiores problemas do Brasil. Há dois anos, ele apareceu em toda a imprensa brasileira como um grave crime contra “a democracia” por parte do governo Bolsonaro — segundo se repete desde então, o presidente teria dado aos deputados, em troca de apoio, o poder de gastar verbas orçamentárias por sua conta, quando e naquilo que lhes desse na telha. Durante a campanha eleitoral, foi um dos argumentos mais enfurecidos da campanha do PT— Lula tinha de ser eleito, diziam, para salvar o povo do “Orçamento secreto”. Bastou passar a eleição e o Brasil, segundo informa a mídia, foi salvo por Lula: o Orçamento secreto sumiu. Quer dizer, ele continua a existir exatamente como era antes — mas agora se chama “emendas do relator”, na linguagem oficial dos jornalistas. Caso resolvido.
O “Orçamento secreto” nunca foi Orçamento, nem secreto e nem criado pelo presidente Bolsonaro — foi apenas uma das maiores fraudes já executadas na vida política do Brasil com o objetivo de criar um crime que não existiu e jogar a culpa em quem não o cometeu. Agora, como não serve mais para acusar o presidente, o tal Orçamento sumiu do mapa — continua intacto, para ser desfrutado pelos políticos, a começar pelos do PT, mas mudou de nome. Os fatos são muito claros. Cerca de dois anos atrás o Congresso aprovou uma lei que inclui no Orçamento despesas para financiar projetos de parlamentares — da compra de ambulâncias à reforma da escola municipal. É lei; não foi um decreto do presidente. A única coisa que se pode fazer a respeito é cumprir o que foi legalmente estabelecido — até porque o STF autorizou a aplicação da lei, depois de ter tentado anular a sua entrada em vigor e recuado por razões de seu interesse político. É isso, e só isso, que sempre existiu. Agora vai continuar existindo, mas a mídia, a esquerda e o PT vão chamar a coisa de “emendas do relator”. Era, até a eleição, uma monstruosidade de lesa-pátria. Agora, com novo nome, é apenas um elemento da paisagem.
Esta é apenas a cena de abertura da monumental trapaça que vem por aí. O papel que o cidadão vai ter nela já está definido — é o papel do otário.
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