Stephen Kanitz
Todos os analistas trabalham com a hipótese de que Lula não desistirá de sua candidatura, que sempre é uma possibilidade, e este artigo simplesmente mostra que as possibilidades são muito maiores do que muitos imaginam.
E candidato que não levar em conta essa possibilidade e não se preparar, já perdeu a eleição.
Eu mantenho esta hipótese, certamente polêmica, com base nessas observações:
Em dezembro de 2001 estive com Lula por três horas, tempo para discutir muita coisa.
Foi numa reunião com Antoninho Trevisan, Guilherme Leal, Luiz Cezar Fernandes e Walter Appel que poderão confirmar o que vou dizer.
Lula queria saber a nossa opinião sobre as suas reais possibilidades de ganhar a eleição naquele momento duvidoso, dada a vantagem de 56% na época da Roseana Sarney, e o que seria prioritário resolver no seu governo.
Achei estranho que Lula gastou os primeiros 15 minutos contando como fora difícil perder três pleitos presidenciais, e que ele não aguentaria perder uma quarta vez.
Várias pessoas do PT me disseram que Lula entrou em leve depressão, mais do que natural.
“Eu só vou me candidatar se tiver certeza de que irei ganhar”, nos disse com convicção. Ninguém diz isso quando procura apoiadores.
Se ele sentia esse temor em 2001, imagine agora em 2022, com seu novo passado.
E algo que reforça essa tese é que Lula está hoje dizendo para seus correligionários. “Eu só vou me candidatar se tiver certeza de que irei ganhar.”
Isso significa que se sua vantagem nas prévias for de 52%, a margem de erro, Lula não se candidata.
Ele está 20 anos mais velho, e uma derrota agora seria o seu fim, enquanto as três derrotas anteriores não foram.
Lula se considera um vencedor, que saiu da pobreza e se tornou Presidente. Ele não vai querer terminar a vida com uma derrota.
Lula sabe que está sendo pressionado porque o PT nunca soube criar um sucessor ou possíveis sucessores. Colocaram todas as fichas no Lula, logo logo com 80 anos.
2022 será bem diferente do que 2002.
Ele hoje tem índice de rejeição bem maior, tem muita coisa a explicar.
Bolsonaro está perdendo votos em São Paulo, mas está ganhando no Nordeste devido a todos os auxílios dados.
O apoio que Lula recebeu de FHC em 2002 não será o mesmo que FHC prometeu dar em 2022.
O PT está com muito menos prefeituras do que em 2002.
Lula não está conseguindo se consolidar como o único candidato da Esquerda, e pior, se fala de uma terceira via para concorrer com Bolsonaro.
Se Lula tinha medo de perder em 2002, hoje as possibilidades de isso acontecer são bem maiores.
Mais importante, o PIB estará a 5% ao ano ou mais em 2022, e facilmente pode repetir 5% em 2021 com agricultura, construção civil, sem contar com turismo, restaurantes e hotéis que representam 10% do PIB e estão hoje operando a 50% de capacidade.
“It is the economy, stupid”, diz a maioria dos especialistas americanos. É isso que determina uma eleição.
Sem contar que o fim do Covid melhorará o bom humor da nação, que hoje culpa Bolsonaro.
A motivação do Lula hoje também é outra.
Ser Presidente não mais o encanta, especialmente para tocar um país quebrado precisando de inúmeras reformas que seu Partido é contra.
O grande objetivo de Lula agora é limpar seu nome sujo, não governar o Brasil pela terceira vez.
Se ele perder as eleições ele será julgado culpado pelo povo, o que é a sentença máxima.
Se ele não for candidato, ele evita se colocar em julgamento.
Lula poderá não considerar estas colocações, e muita água irá rolar até 2022.
Minha aposta é que ele vai cozinhando até o ano que vem e depois desiste.
Se Lula perder, aí sim será julgado culpado, a última coisa que ele quer.
*Publicado originalmente, em https://blog.kanitz.com.br/lula-podera-desisitir/,
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