, por Marcelo Rocha Monteiro - Procurador de Justiça no Estado do Rio de Janeiro
A matéria de ontem (16.06.2021) da Folha de S.Paulo, divulgada com destaque na home page do site UOL, servirá no futuro como tema de aula nas faculdades de Comunicação.
Aula de como NÃO fazer jornalismo.
Observem a manchete em letras garrafais:
"MOTOCIATA COM BOLSONARO TEVE 6.661 REGISTROS DE VEÍCULOS, SEGUNDO PEDÁGIO"
Logo abaixo: "Dado registrado enfraquece a narrativa bolsonarista".
Para qualquer um que tenha assistido, por exemplo, a filmagem do evento feita pelo helicóptero da GloboNews (que não é exatamente uma emissora bolsonarista, digamos assim...), o número divulgado pelo grupo Folha-UOL é espantosamente baixo.
Só que, para descobrir a razão para número tão modesto, você tem que ler a matéria até o oitavo parágrafo.
Depois de informar que "os dados das praças de pedágio (...) da concessionária que administra a rodovia são coletados pelo Sistema de Monitoramento de Informação de Pedágio (MIP) e foram concedidos pela Artesp (Agência de Transporte do Estado de SP)”, o ex-jornalismo da Folha, assim como quem não quer nada, acrescenta um "pequeníssimo" detalhe (atenção, amigo leitor!):
"Tais registros são coletados pela Artesp para auditoria dos valores de pedágio. A Artesp, NO ENTANTO, ressalta que COMO AS MOTOCICLETAS NÃO PAGAM PEDÁGIO (ora vejam só!), o sistema NÃO ESTÁ PROGRAMADO PARA COLETAR INFORMAÇÕES SOBRE PASSAGEM DE MOTOCICLETAS (ora vejam só novamente!!). Com isso, o VALOR real de veículos PODE SER MAIOR DO QUE O REGISTRADO."
(o repórter quis dizer "a QUANTIDADE real de veículos", mas o português é tão "bom" quanto o jornalismo...)
Em outras palavras: o número de 6.661 motocicletas, estampado em letras garrafais na manchete, não quer dizer ABSOLUTAMENTE NADA - porém você precisa ler além da manchete, até o oitavo parágrafo (coisa que a maioria não faz, até por falta de tempo), para descobrir o estelionato intelectual praticado pela Folha.
Motocicletas não pagam pedágio, mas o público paga para ter acesso a Folha, UOL e outros veículos da mídia. Paga para ter informação, e recebe essa farsa acima descrita; seria crime contra o consumidor?
É por isso que, cada vez mais, o público considera que a Folha é um jornal bom pra cachorro (menos a edição digital).
Marcelo Rocha Monteiro. Procurador de Justiça no Estado do Rio de Janeiro
Jornal da Cidade
PUBLICADAEMhttp://rota2014.blogspot.com/2021/06/um-jornal-bom-pra-cachorro-uma-aula-da.html
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