Jornalista Andrade Junior

domingo, 2 de maio de 2021

"De Witzel a Renan",

  escreve J.R. Guzzo Renan é levado mais a sério, no papel de magistrado, que o Rei Salomão. Assim ficou o Brasil

Pode uma coisa dessas? Não só pode, neste Brasil de hoje, como está sendo considerada um momento de notável importância na história nacional. 

Renan, um dos senadores que têm mais encrenca que qualquer outro político brasileiro com o Código Penal, responde a um caminhão de processos na Justiça e há 30 anos vem se utilizando das “imunidades parlamentares” como principal recurso para manter-se fora da cadeia. 

Pois então: com tudo isso nas costas, ele passou agora a ser julgador. 

Witzel, ou Maluf, ou Geddel Vieira Lima – aquele que tinha R$ 50 milhões em dinheiro vivo num apartamento da Bahia – ou qualquer outro colosso nessa área, seriam tidos como uma piada se fossem encarregados de investigar alguma coisa. 

Mas Renan é levado mais a sério, no papel de magistrado, que o próprio Rei Salomão. 

É assim que ficou o Brasil.

Renan saiu da sua vida habitual, e se tornou um dos heróis da luta pela moralidade pública neste País, por um motivo mais decisivo que qualquer outro: “reinventou” a si próprio, como se diz nos manuais de autoajuda, e assumiu a “persona” de um marechal de campo da esquerda brasileira. 

Mais: convenceu todo o ecossistema político do Brasil de que é, hoje, o cabeça de chave nas lutas populares da “resistência” contra o presidente Jair Bolsonaro. 

Por conta disso, e automaticamente, passou a ser tratado como um estadista de primeira classe – um Churchill de Alagoas, que está arriscando a própria vida para salvar o País da direita, do “negacionismo” e do genocídio.

É este, claramente, o elixir universal da política brasileira de hoje: fique contra Bolsonaro e, cinco minutos depois, você paga todos os seus pecados, anula qualquer vício de sua vida anterior e ainda ganha uma indulgência plenária, daquelas que a Igreja dava antigamente e colocavam o cidadão direto no Céu, sem escalas. 

O próprio Witzel, aliás, está tentando ir um pouco por aí; também descobriu que falar mal do presidente da República dá lucro na hora. 

Já começa a ser chamado de “ex-governador do Rio de Janeiro” – só isso, “ex-governador”, sem maiores detalhes. 

Daqui a pouco pode estar nas mesas-redondas do horário nobre da televisão, ao lado dos cientistas políticos, etc. etc. discursando sobre como consertar o Brasil. 

Com sorte, e se não perder o foco em Bolsonaro, ainda pode virar um novo Renan.

As pessoas pararam de prestar atenção no que dizem, ou no que pensam. 

Na verdade, pararam de pensar. 

É o ambiente ideal para os Renans.

O Estado de São Paulo















publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2021/05/de-witzel-renan-escreve-jr-guzzo.html


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