J.R. Guzzo:
TREM ABANDONADOParece que está se tornando um hábito, quando a campanha eleitoral chega mais perto.
Tempos atrás, necessitado de uma imagem de “homem de centro” (ele sempre está atrás de uma imagem de “homem de centro”), o ex-presidente Lula fez o impensável: foi à casa do ex-governador paulista Paulo Maluf e ali, na frente de testemunhas e do seu então candidato à prefeitura, praticou o beija-mão completo do monstro mais horrível que o PT e a esquerda brasileira tinham criado na época.
Lula apertou a mão de Maluf, deu abraço, tirou foto, como se não tivesse passado anos a fio dizendo sobre o novo amigo as piores coisas que alguém poderia dizer a um adversário.
Lula repete a dose agora, mas com Fernando Henrique. O petista é candidato de novo à presidência da República, e seu instinto, mais as lembranças das lições de marketing que teve no passado, o conduzem a vender outra vez a imagem de político “moderado”.
Quem melhor que Fernando Henrique, nesse mundinho da elite, para lhe dar uma certidão de centrista, civilizado e bondoso para todos os que estão com a vida ganha? Lá se foi Lula, então, apertar a mão, trocar altas ideias e aparecer na foto com um dos políticos brasileiros que mais desprezou, insultou e cuspiu em cima durante toda a sua carreira.
Levou, até mesmo, a promessa de que FHC vai votar nele no segundo turno.
Ficou tudo extremamente barato para Lula.
Não foi preciso, para embarcar FHC no seu bonde, retirar uma única sílaba da ofensa mais perversa que fez ao novo aliado — a de que recebeu dele uma “herança maldita”, na passagem da presidência em 2002.
Também não há informação de que tenha feito qualquer reparo à principal palavra e ordem do PT durante o governo do ex-inimigo: “Fora FHC”.
Foram esquecidos, na mesma balada, as sucessivas exigências de impeachment feitas contra ele, sua demonização como líder da “direita” brasileira e mais do mesmo.
Se o próprio FHC engole tudo isso quieto e declara o seu apoio público a Lula, o que se pode fazer?
Fernando Henrique está dizendo — quando se deixa de lado o discursório marca barbante que acompanha a explicação dessas “estratégias” — o seguinte: vai votar para presidente da República num político condenado legalmente como ladrão pela Justiça brasileira, em terceira e última instância, e pelas sentenças de nove magistrados diferentes.
É isso, em português claro; o resto é conversa. Obviamente, quando as coisas ficam assim, o melhor é não perguntar nada.
Com Gazeta do Povo
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