por Cláudia Morais Piovezan
Há algumas semanas, eu recebi uma mensagem totalmente inesperada. Percival Puggina, escritor e colunista gaúcho, com quem tenho vários amigos em comum, mandou-me uma mensagem dizendo que gostaria de me mandar um exemplar do seu livro, A Tragédia da Utopia, que está sendo relançado pela Editora Armada. Aliás, nesta noite de 09 de julho de 2019, a 2ª edição será lançada oficialmente em Porto Alegre.
Alguns dias depois de responder a mensagem, eu recebi o livro em casa e comecei a leitura na mesma noite e, entre a leitura de outros livros e tantas outras atividades, consegui terminar a leitura no último sábado e não posso deixar de comentá-lo porque é muito bom!!
As primeiras páginas do livro parecem poesia. A forma como Puggina escreve a primeira página me lembrou Ortega Y Gasset, ambos descrevem a dura realidade com beleza, leveza e muita com profundidade: “Um dia, o mar vencerá o muro”, eis uma das primeiras belas frases, analogia que ele usou por imaginar, ao ver as ondas se quebrando na murada da Baia de Havana, que, inevitavelmente, um dia o destino dará conta da ditadura dos Castro.
Puggina, assim como Dalrymple fez e relatou em seu livro Viagens aos Confins do Comunismo, embrenhou-se na capital cubana, após ler dezenas de livros e dedicar cerca de 10 anos da vida a estudar e pesquisar aquele país e a sua história, pelo menos desde o século XIX.
Não satisfeito apenas com o conteúdo dos livros, dos estudos e dos relatos de pessoas que lá estiveram, resolveu pôr os pés na ilha para ver com os próprios olhos se toda a propaganda disseminada em nosso país, sobre as maravilhas do socialismo cubano, pelos intelectuais e políticos era verdadeira ou se não passavam de um mito criado para enganar os incautos.
Um a um, Puggina vai derrubando esses mitos sobre a qualidade da saúde e da educação pública, sobre a igualdade entre os cubanos, sobre a democracia exercida por eleições. Retirando camada a camada, a tragédia daquele país vai se desvelando sob as nossas vistas. As páginas de Puggina vão se entrelaçando com as páginas de Dalrymple e de tantos outros que já escreveram sobre a ditadura cubana e seus “herois”.
Em 2013, eu li o livro Fidel, o Tirano mais amado do mundo, do cubano Humberto Fontova, que descreve, entre outras coisas, como a classe falante americana, políticos de esquerda, imprensa, artistas, bajulavam o tirano Fidel Castro e com isso enganavam todo mundo, disseminando a ideia de que algo bom pode existir em regimes totalitários que, tanto na realidade quanto na ficção, têm muito em comum. Neste aspecto, Puggina, por exemplo, demonstra a pobreza cultural e artística de Cuba quando descreve as livrarias e sebos que ali encontrou. E como não lembrar das obras distópicas Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e Farenheit 451, de Ray Bradbury, nos quais os livros e obras de arte são absolutamente proibidos e destruídos?
O efeito dolorido que o livro teve em mim foi me fazer lembrar de um hoje distante amigo que há alguns anos comentou, entusiasmado, que precisava visitar Cuba com uma certa urgência, pois Obama estava se aproximando de Fidel e assim que o concerto entre eles se consumasse, Cuba nunca mais seria a mesma. Passei vários dias refletindo sobre o porquê dessa lembrança ter me incomodado. Conclui que o meu incômodo se deu porque percebi que meu amigo falava de Cuba, mesmo sem ainda conhecê-la, já com uma certa nostalgia, como se eventuais mudanças decorrentes de uma aproximação de Cuba com os Estados Unidos pudessem estragar tudo que há de “bom e bonito” na ilha que sempre será dos Castro, enquanto o mar não não vencer o muro.
Na verdade, fiquei triste por lembrar que já convivi com pessoas que acreditam que o socialismo fez algo muito bom aos cubanos e que o Brasil está cheio delas.
Na verdade, fiquei triste por lembrar que já convivi com pessoas que acreditam que o socialismo fez algo muito bom aos cubanos e que o Brasil está cheio delas.
Felizmente, para o contraponto, temos o incrível Percival Puggina que nos joga um balde de realidade na cara, diariamente, em seu blog e em seus vídeos e que agora nos presenteia com o relançamento dessa obra fundamental para nos manter alertas sobre os constantes perigos que nos rondam.
Muito sucesso ao livro e vida longa ao querido Percival Puggina.
*A autora é Promotora de Justiça em Londrina
**Publicado originalmente em https://mciradio.com.br/a-tragedia-da-utopia/?
**Publicado originalmente em https://mciradio.com.br/a-tragedia-da-utopia/?
EXTRAÍDADEPUGGINA.ORG
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