Percival Puggina
Completou-se, na manhã de quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014, mais uma página na história da construção da hegemonia petista. Ela desenha para o Brasil um estado totalitário, à margem da democracia constitucional. Confirmou-se a formação de uma bancada governista dentro do Supremo Tribunal Federal, situação que passamos a partilhar com os países do eixo bolivariano que, há mais tempo, abandonaram o princípio da independência dos poderes. O STF, apesar de todos os seus pesares, ainda era um último recurso contra o arbítrio. Varreu-se, agora, a linha divisória que nos separava do mundo das trevas onde reina, todo poderoso, o partido que hegemonizou a política nacional. Cerrou-se a porta onde poderíamos bater para conter o braço longo do Estado em suas ingerências na vida privada e o uso abusivo do aparelho estatal. O petismo, que governa a República, que chefia e partidariza o Estado, que mantém a soldo a maioria parlamentar, capturou também o STF para seu aprisco.
O
modelo institucional brasileiro, tão mal concebido, tão fácil de ser
empalmado por quem tenha vocação totalitária, prevê que os membros dos
tribunais superiores sejam indicados à aprovação parlamentar pelo chefe do
respectivo poder executivo. Assim, quem indica os ministros do STF é a pessoa
que preside a República. Essa norma, esculpida na Constituição, pressupunha o
natural rodízio dos partidos no mais elevado escalão do poder nacional. Não
cogitaram, os constituintes, a possibilidade de um mesmo partido exercer a
presidência durante sucessivos mandatos, por 12 ou, mesmo, 16 anos. Pensaram
que a gangorra das maiorias e o rodízio dos governantes permitiriam a
renovação do STF, preservando conveniente pluralidade. No entanto, a
solidificação de uma hegemonia no governo da República foi transformando a
Corte em colegiado a ele subalterno.
Quando
Joaquim Barbosa, com a habitual sem cerimônia, afirmou ao novato Roberto
Barroso que seu voto tinha todo jeito de ter vindo pronto quando chegou ao
STF no ano passado, ele estava fazendo a leitura de um período muito triste
da história do Brasil. O Supremo encolhendo como poder e sendo composto como
mesa de banquete nos regabofes palacianos.
Diante
desse cenário é importante levar em conta que a eleição do dia 5 de outubro
não será como outras quaisquer. O que estará em disputa quase definitiva não
é uma simples escolha entre dois ou mais nomes. Nosso país estará decidindo
se quer ser uma republiqueta bolivariana ou uma nação respeitável, alinhada
com as democracias do planeta. Impossível recusar esta verdade bem simples:
não é entre tais democracias que o partido hoje hegemônico em nosso país
gosta de estar. Seus dirigentes não escondem seu apreço pelas piores
companhias, nem seus afetos pelos ditadores e demagogos que infernizam nações
vizinhas, alinhadas com as confabulações do famigerado Foro de São Paulo. Em
5 de outubro estaremos fazendo uma escolha praticamente definitiva sobre o
tipo de civilização em que queremos nos desenvolver como nação, que tipo de
ambiente cultural queremos integrar, que tipo de direitos queremos exercer e
de deveres aceitamos cumprir. Isso é bem mais do que eleger um governante.





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