Divulgaçã da Carta Aberta
- Cel Balbi -
Ao jornal O Globo e às Organizações Globo
Prezados senhores! Tenho 65
anos de idade e desde que me entendo por gente aprendi a ler jornal.
Frequentava a Biblioteca Municipal da minha cidade ou utilizava a sala
dos grêmios estudantis para fazê-lo. Até que, muitos anos passados, pude
manter uma assinatura regular.
Penso não ser muita pretensão
de minha parte escrever-lhes esta carta aberta, com a finalidade de
externar meu ponto de vista a respeito de assunto veiculado pelo jornal.
Ao receber a edição do dia 9 de fevereiro, vi, logo destacada, a
manchete 40 anos da Ponte, ilustrada por uma bela foto daquela que se
tornou um símbolo mundialmente reconhecido do Rio de Janeiro e do
Brasil.
Entretanto, ao ler o subtítulo
e a legenda, confesso que um misto de decepção e porque não dizer,
raiva começou a me assaltar. Utilizando-se dos chavões comuns das
esquerdas derrotadas e que hoje posam como politicamente corretas, de
acordo com a doutrina gramscista em plena aplicação na vida nacional,
pareceu-me que, muito mais importante do que ressaltar a importância da
obra realizada, a reportagem buscava contribuir para denegrir um período
de 21 anos da história brasileira.
Entre os anos de 1964 e 1985 o
Brasil passou, inicialmente, em março, prestes a celebrar 50 anos, por
uma reação democrática exitosa que implantou um regime de exceção. Os
termos que aqui utilizo, e já o faço a algum tempo, em substituição aos
termos revolução cívico-militar ou contragolpe, ditadura militar, regime
militar ou linha dura ou qualquer outro, eu os apreendi com o ilustre
jurista constitucionalista Dr Ives Gandra da Silva Martins. Sugiro que o
entreviste, quando então ele poderá lhes explicar, à luz da
jurisprudência e da história, da qual foi partícipe, o porque da
utilização desta terminologia. Reação democrática de março de 1964, que
defenestrou o desgoverno Jango e regime de exceção.
O Brasil de Vargas, o Brasil
de JK e o Brasil do regime de exceção teve planos, teve metas. SALTE,
Plano de Metas e Plano Nacional de Desenvolvimento foram os seus nomes.
Cada um dos governos aqui citados procurou cumpri-los da melhor maneira
possível. Todos eles tiveram como foco principal estabelecer e melhorar a
deficiente infraestrutura do país.
Castelo Branco, ao assumir o
governo, reuniu uma equipe de pessoas com destaque na vida nacional para
colocar ordem à casa Brasil, deixada à matroca pelo desgoverno Jango.
Para não cansar citaria os nomes de Otávio Bulhões, Roberto Campos,
Leitão da Cunha, Arnaldo Sussekind, Pedro Aleixo, Juarez Távora, Juracy
Magalhães entre outros. Cumprido o desiderato e eleito seu sucessor,
coube a este, Marechal Costa e Silva, elaborar um Plano Estratégico de
Desenvolvimento que antecedeu os Planos Nacionais de Desenvolvimento.
Graças a este planejamento,
elaborado e cumprido na medida do possível pelos sucessivos presidentes
do regime de exceção, é possível o Brasil de hoje usufruir um grande
legado, para usar uma palavra da moda, em todos os campos, inclusive o
social. Querem um exemplo? O Funrural! Querem outro? O Estatuto da
Terra! Poderia citar inúmeros, mas os senhores podem pesquisar, se assim
o desejarem. É neste contexto que se insere a construção da "ponte da
ditadura"! Ou, a construção de um marco da engenharia! Dentro do
planejamento viário realizado, com o Brasil sendo cortado em grandes
rodovias longitudinais, transversais e radiais, sucessivamente
numeradas, uma das mais importantes era justamente a rodovia 101 que
corre paralela ao nosso litoral, desde Chuí até Touros. Desta ligação
faz parte a ponte ligando o Rio de Janeiro e Niterói.
Faço uma pausa para abordar o
trabalho do Ministério Público Federal e a chamada justiça ou direito de
transição. Trata-se de um grupo de procuradores que busca um holofote
politicamente correto, onde quer que ele se encontre. Seu alvo principal
tem sido atazanar a vida de agentes do estado que lutaram a guerra
interna de 1968 a 1974. E venceram, derrotaram aqueles que pretendiam
implantar a ditadura do proletariado. Ditadura sim, Cuba sempre lhes
serviu de modelo para o regime que queriam viver no Brasil e o que
acontece desde 1959 na ilha dos Castro não permite a ninguém se enganar.
O Globo aqui seria transformado no Granma. Eis que agora surge um novo
alvo. Viram que foram bem sucedidas algumas substituições em escolas de
nomes de presidentes durante o regime de exceção. E, pegando carona na
onda, associada ao fato de celebrar os 40 anos da ponte e os 50 anos da
reação democrática de março, ajuizaram a ação para a mudança do nome.
Diga-se de passagem, até hoje juiz algum permitiu que estas ações
impetradas prosperassem.
Fico pasmo ao ler as ilações
da matéria, 40 anos de uma marco da engenharia, com a Comissão da
Verdade, com o desaparecimento e morte de pessoas nos anos mais
sangrentos, número absolutamente inventado, com suspeitas de
superfaturamento, ouvindo um permanente consultor do jornal, Carlos
Fico. Toda e qualquer matéria do jornal apresenta a opinião deste
professor de história. E as opiniões dele sempre vem a calhar com a
abordagem dos articulistas e a pauta traçada: critique os governos do
regime de exceção.
Menos mal que permitiram ao
neto do Coronel Andreazza apresentar uma defesa, inimaginável, pela obra
do seu avô. Como alguém já citou, "no Brasil até o passado é incerto".
Toda e qualquer evolução
tecnológica provoca avanços. Trata-se de uma falácia afirmar que a
Revolução Industrial ou o aperfeiçoamento do agronegócio trouxe
desemprego. Num primeiro momento sim, mas imediatamente após são criados
mais e melhores oportunidades de trabalho. Assim, soa quase ridículo
citar a perda de emprego dos marítimos pela desativação das sete
embarcações que faziam a travessia. Com certeza logo obtiveram melhores
empregos. Como já afirmou Luis Inácio, foi a melhor época de emprego no
país, a gente saía de uma fábrica e já estava empregado em outra, com
melhor salário. Mas, por favor, falar em milagre econômico soa como
autoelogio, não é verdade?
Feita a licitação, venceu o
consórcio que ofereceu o menor preço no menor prazo. Como a obra não
deslanchava, o governo fatiou o projeto entregando parte ao consórcio
segundo colocado. Não houve entendimento, quando então o governo
desapropriou e encampou a obra, através de uma empresa pública que
cumpriu a meta. A reportagem chama este episódio de golpe da linha dura.
Mal comparando, corresponderia nos dias atuais o governo encampar a
obra paralisada da transposição do Rio Francisco. Alguém no governo
federal se habilita? Além de assumir a obra, o próprio ministro e o seu
lugar tenente, Coronel Guedes e suas famílias foram morar no canteiro de
obras. Vocês imaginam algum ministro atual indo residir no canteiro de
alguma obra Brasil afora? As autoridades, nos dias atuais, mal dão um
rolezinho de helicóptero, com o fotógrafo oficial a bordo, para ficar
bem com os eleitores. Quando muito fazem um rápido pouso em local
previamente escolhido, para fazer uma série de promessas, verbas, casas,
prevenção para o próximo desastre, que nunca são cumpridas.
O Coronel João Carlos Guedes
passa a ser estereotipado como aquele sargentão de filme americano. Por
impor disciplina, metas, cumprimento de cronograma e outras coisas
fundamentais para o sucesso de qualquer empreitada, ou será que nas
Organizações Globo as coisas não funcionam assim, é citado como durão,
de mal bofes e conservador. Céus, quantos defeitos! Conservador é citado
como defeito ou virtude? Para gerir uma obra que contava com dez mil
trabalhadores e 200 engenheiros, apoiados numa cidade para tal erigida,
mais uma série de desafios tecnológicos para a época, a figura do
coronel pareceu-me fundamental. E, os engenheiros que com ele
trabalharam fazem justiça a sua figura. "Se fosse hoje, a obra seria
impossível. Havia hierarquia, mas tínhamos liberdade para trabalhar."
A pretensa influência militar
no projeto chega a ser risível. Se havia a necessidade de que a altura
do vão fosse de 72 metros por exigência da Aeronáutica e para a Marinha
60 metros seriam suficientes, lógico que se atendeu à FAB. Qual a
disputa? E o abrigo de 100 a 200 mil pessoas, em caso de catástrofe, nos
caixões metálicos do vão central, deve ser atribuído a algum cineasta
criativo!
Outra abordagem facciosa da
reportagem diz respeito ao número de mortos em acidentes de trabalho. Ao
relatar que o número oficial é o de 33 mortos, faz ilações com um
suposto número de 400 e o que é pior, enterrados, concretados nos
pilares, fato sobejamente desmentido. Os repórteres só conseguiram
levantar 18 mortos, ou seja, nem encontraram o número oficial atribuído.
Ressalte-se que as exigências de prevenção de acidentes de trabalho na
época não eram as hoje estabelecidas.
TERCEIRA MAIOR PONTE DO
PLANETA QUANDO INAUGURADA, com quase 14 quilômetros, a Rio-Niterói
enfrentou DESAFIOS DE ENGENHARIA, o maior deles, ASSEGURAR 300 METROS DE
CANAL NAVEGÁVEL NO VÃO CENTRAL (canal principal). Esta frase,
senhores, deveria ganhar destaque na reportagem e não estar escondida na
quarta página. Acrescentando- se que, o pessoal responsável pela
manutenção da mesma assegura que o vão chega aos 40 anos sólido e
seguro. O Engenhão, por exemplo, lhes traz alguma ideia de comparação? E
mais, planejada para uma capacidade máxima de 50 mil carros, mercê de
adaptações suporta hoje 150 mil veículos. E a gestão de 10 mil
trabalhadores na cidade do Fundão erigida com esta finalidade. Este foi o
desafio vencido por brasileiros, militares e civis, não para enaltecer
este ou aquele governante, governo ou regime, mas porque era fundamental
para o Brasil. Cumpriram a missão! Empregaram bem os recursos que a
nação lhes havia destinado, mercê dos seus impostos! E hoje? Onde e como
estão sendo aplicados ? Estão beneficiando quem? Cadê a transposição do
Rio São Francisco? Cadê a Ferrovia Norte-Sul? Cadê os portos e
aeroportos? Cadê as rodovias?
Ao abordar as história das
vidas de pessoas que, de uma forma ou de outra, marcaram a trajetória em
função da Ponte, mais uma vez faz questão de destacar que ela é uma
obra da ditadura. Felizmente a família do engenheiro morto no que foi o
primeiro e talvez mais trágico acidente, quando faleceram 8
trabalhadores, recebeu as indenizações que lhe eram devidas, mesmo que
20 anos depois. 120 vítimas dos terroristas, bandidos, sequestradores
que desencadearam a guerra interna de 1968 a 1974 nunca receberam
indenização alguma.
Para concluir, na edição do
dia 11 de fevereiro, a matéria apresenta a nota informativa do
Ministério Público Federal sobre a mudança do nome da Ponte Rio-Niterói e
traz artigo de autoria de Carlos Andreazza, neto do Ministro Mário
Andreazza, que serviu aos governos Costa e Silva, que não viu a obra
concluída, e Médici. Ressalto o seguinte trecho: "a esses revisores da
história - tapados pela mistificação, obstruídos pela doutrina do
justiçamento da memória, cegos aos fatos - não ocorre examinar,
portanto, que sem este homem, sem Artur da Costa e Silva, não haveria
ponte, tão simples quanto isso...". E ele relembra ainda que o maior
ditador que o Brasil já teve, o mais longevo, "cruel, vil, perseguidor,
golpista, torturador, no entanto nomeia de goleiro a fundação." E eu
ousaria acrescentar escolas, vias, hospitais e até cidades. Espero,
pois, que o MPF inicie, desde já, os processos para abjurar o nome de
Getúlio Vargas, o "pai dos pobres"! Vai ser trabalhoso!
Finalmente, na época oportuna
já havia me manifestado com surpresa e indignação, quando as
Organizações Globo decidiram fazer um mea culpa e abjurar o apoio dado à
reação democrática de março de 1964 e ao regime de exceção que se
seguiu. Os editoriais históricos de 1964 e 1984, quando a reação
democrática completou 20 anos, entretanto, manterão imaculada a imagem
de Roberto Marinho. Democrata convicto, por certo não aprovaria a
decisão tomada por seus sucessores, decisão esta que explica em parte a
linha editorial tomada por seus diferentes veículos, da qual a
reportagem veiculada sobre a Ponte Presidente Costa e Silva me parece
servir como exemplo. Marco da Engenharia completa 40 anos.
Marco Antonio Esteves Balbi





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