CARTA ABERTA AO EXMº SR. MINISTRO CELSO DE MELLO
Marcelo Rates Quaranta
Exmo. Sr. Ministro.
Em primeiro lugar quero dizer que não estou aqui para questionar a sua decisão quanto aos mensaleiros, cuja matéria de acusação foi amplamente discutida durante todo esse longo processo, e todas as oportunidades de defesa foram dadas, apesar de o Sr. achar que eles precisam de mais uma avaliação, claro agora que deverá ser feita por Ministros do naipe de Lewandowiski, Tofolli e Barroso, sabidamente emissários do atual governo.
Na verdade eu estou aqui pra questionar a MINHA decisão de ter tido filhos. Sim, Ministro... A sua decisão de hoje acabou por deixar-me numa situação embaraçosa em relação a eles, o que me faz pensar se realmente valeu a pena tê-los feito... pelo menos no Brasil.
Depois de hoje, como vou poder olhar nos olhos dos meus filhos e dizer-lhes para acreditar na Justiça? Com que moral vou afirmar que o crime não compensa, quando na verdade compensa sim! Os réus saem ricos e impunes, mesmo da mais alta Corte brasileira!
Com que cara vou pregar sobre retidão, caráter e honestidade, se todos os atributos contrários a isso, são abençoados por decisões judiciais, repito, até da mais alta Corte?
Sabe, Ministro, recentemente cheguei a implorar que um dos meus filhos abandonasse o curso de Direito e seguisse carreira na música. Nessa altura da vida, seria uma enorme vergonha e uma desilusão ainda maior vê-lo desfilando por um palco onde reina a mentira, e as versões se sobrepõem aos fatos. Na música ele pode dizer o que quiser, pois será apenas uma fantasia sem a obrigação da verdade. Já no Direito, uma verdade fantasiada, para não usar o termo MENTIRA.
Mas acho que já tenho uma solução: Estimularei meus filhos a desviar dinheiro público, a mentir para o povo e também a negar tudo sempre. Ganharão tanto dinheiro, que aquilo que chamam de Justiça não os alcançará, já que seus braços só agarram os pobres que não podem correr.
Agora fiquei numa situação ainda pior. Outro irá jurar a bandeira, mas fica a dúvida sobre quantas estrelas haverá nessa bandeira. Acredito que uma só, e branca sobre um fundo vermelho, já que com o fim da última fronteira entre a decência e a improbidade, acredito que nossa nação será outra, e não mais aquela que terminava o hino com "Pátria Amada Brasil".
Ministro, eu não sei como encarar meus filhos, mas ainda posso encarar o povo e deitar minha cabeça no travesseiro em paz com minha consciência. Imagino que sua situação seja ainda mais delicada que a minha, pela sua veemente defesa ao Direito de mensaleiros tornarem o Supremo algo não tão supremo.
Termino agradecendo pelo senhor me mostrar claramente que o nosso país, dos filhos deste solo é mãe gentil... Mas tão gentil que chega a ser irresponsável e inconsequente.
"Pátria" "amada" Brasil.
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