Eu vi nascer o mensalão
Era sábado do começo de 2003 no restaurante Piantella, o melhor de
Brasília. Lula havia ganho as eleições presidenciais de 2002 contra José
Serra e estava em Porto Alegre, com José Dirceu e a cúpula do PT,
discutindo com o PT gaúcho a formação do novo governo.
Como fazíamos quase todas as tardes de sextas e sábados, um grupo de
jornalistas almoçávamos a um canto, conversando sobre política e o
pais. De repente, entram nervosos, aflitos, os deputados Moreira Franco,
Gedel Vieira Lima, Henrique Alves, da direção nacional do PMDB, e
começam a discutir baixinho, quase cochichando. Em poucos instantes,
chega o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Nem
almoçaram. Beberam pouca coisa, deram telefonemas, saíram rápido. ...
Nada falaram. Acontecera alguma coisa grave. Deviam voltar logo. Só um
voltou e contou a bomba política do fim de semana. Antes de viajar para o
Rio Grande do Sul, Lula encarregara José Dirceu, coordenador da equipe
de transição e já convidado para Chefe da Casa Civil, de negociar com o
PMDB o apoio a seu governo, em troca dos ministérios de Minas e Energia,
Justiça e Previdência, que seriam entregues a senadores e deputados
indicados pelo partido.
Lula já havia dito ao PT que eles não podiam esquecer a lição da
derrubada de Collor pelo impeachment, que o senador Amir Lando, do PMDB
de Rondonia, relator da CPI de PC Farias, havia definido como uma
“quartelada parlamentar”. No Brasil, para governar era preciso ter
sempre maioria no Congresso. O PT tinha que fazer as concessões
necessárias.
O primeiro a ser chamado foi o PMDB, o maior partido da Câmara e do
Senado. Lula mandou José Dirceu acertar com o PMDB. Combinaram os três
ministérios e ficaram todos felizes. Em Porto Alegre, na primeira noite,
Lula encontrou a gula voraz do PT gaúcho, que exigia os ministérios de
Minas e Energia, da Justiça e da Previdência. Lula cedeu. Chamou Dirceu e
deu ordem para desmanchar o acordo com o PMDB.
Dirceu perguntou como iriam conseguir maioria no Congresso.
- Compra os pequenos partidos, disse Lula a Dirceu. – Fica mais barato.
Dilma virou ministra de Minas e Energia, Tarso Genro da Justiça e Olivio Dutra das Cidades. E assim nasceu o Mensalão.
O advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, o brilhante Luiz Francisco Correa Barboza, disse ao Globo:
-“Não só Lula sabia do Mensalão como ordenou toda essa lambança. Não é
possível acusar os empregados e deixar o patrão de fora”.
No dia 12 de agosto de 2005, em um pronunciamento, pela TV, a todo o povo brasileiro, Lula pediu “desculpas pelo escândalo”.
Lula é um “cappo”. Os companheiros do partido e governo no banco dos
réus e ele, só ele, de fora. Logo ele que é o grande réu, “o réu”.
Dirceu, Roberto Jeferson, Genoino, Delúbio, Silvinho, Marcos Valério,
Gushiken, João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto, Professor Luizinho, a
malta toda, como disse o Procurador Geral da República, era uma
“organização criminosa”, uma “quadrilha” chefiada pelo Dirceu. Mas sob o
comando do chefão, Lula.
Quem tinha de estar no banco da frente era ele, “o réu”. Desde 2003,
todo ano relembro essa historia. Lula começou dizendo que “não sabia de
nada”. Depois, passou para: “Fui traído pelas costas”. E, finalmente, a
tese oficial dele e do PT : – “O Mensalão foi uma farsa”.
E Lula arranja ajudantes na desfaçatez para agredir o Supremo. Um
gaúcho baixotinho, que ninguém sabe quem era e de onde veio e virou
presidente da Câmara dos Deputados, esta semana cuspiu no Supremo:
- “O Mensalão é uma falácia”. Ele não sabe o que é falácia. Mas cadeia
ele sabe. Quando for visitar Dirceu, Genoino, Valério, seus
companheiros, na cadeia, vai aprender.
Fonte: Sebastião Nery - Blog da Tribuna -
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