Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

O que se vê e o que não se vê

 FERNANDOCARREIRO/INSTITUTOLIBERAL


Nascido em 1801, Claude Frédéric Bastiat foi um economista, escritor e jornalista que fez grandes contribuições para o avanço dos princípios libertários. Sua influência é especialmente evidente nos campos de Escolha Pública, comércio internacional, direito e economia. Seu trabalho continua a inspirar estudiosos a melhorar nossa compreensão de como os estados e as economias funcionam. Praticamente todos os livros e ensaios de Bastiat foram escritos nos últimos seis anos de sua vida, entre 1844 e 1850. Antes disso, ele vivia isolado em sua terra natal, no sudoeste da França. Lá, ele se dedicava à administração de sua propriedade e ao estudo da economia política, especialmente aos trabalhos de pensadores como Adam Smith e Jean-Baptiste Say.


Em 1844, inspirado pelo sucesso da Anti-Corn Law League, Bastiat juntou-se aos economistas liberais clássicos franceses com um artigo dedicado à “influência das tarifas inglesas e francesas”. Lá, ele argumentou que o fim das tarifas protecionistas, conhecidas como “Corn Laws”, estimularia o desenvolvimento na Inglaterra. Esse desenvolvimento chegaria a tal ponto que ultrapassaria a França até então dominante — a menos que os franceses também abolissem suas tarifas. Frédéric Bastiat produziu uma série de artigos, panfletos e livros defendendo o livre comércio e o laissez-faire. Pouco antes de sua morte, ele escreveu Harmonias Econômicas, sua (inacabada) Magnum opus. Além disso, escreveu dois de seus ensaios mais importantes, A Lei e O que se vê e o que não se vê. Muitos dos escritos de Bastiat foram traduzidos para várias línguas estrangeiras e inspiraram movimentos liberais clássicos em toda a Europa e nos Estados Unidos. O livro é formado por 12 histórias e, ao longo de suas 54 páginas, o autor desenha as mais diferentes situações e critica as análises superficiais focadas no curto prazo em detrimento do longo prazo. “A Janela Quebrada”, “A Dispersão das Tropas”, “Impostos”, “Teatro e Belas Artes”, “Obras Públicas”, “Intermediários”, “Restrições”, “Maquinário”, “Crédito”, “Argélia”, “Simplicidade e Luxúria” e por fim “Direito ao Trabalho, Direito ao Lucro” são as histórias contadas.


O autor inicia a obra com uma introdução a respeito do que é esse “o que se vê e o que não se vê” e faz um paralelo entre o bom e o mau economista. Para ele, “um leva em conta apenas o efeito visível; o outro leva em conta os efeitos visíveis e também aqueles efeitos que são necessários prever”.


Com “A Janela Quebrada”, é-nos apresentada a história de um vendedor que, por força de um acidente provocado pelo seu amado filho, tem sua janela quebrada. A partir daí, entra em cena o segundo personagem dessa história, o vidraceiro que vê seu negócio se “movimentar” face a necessidade do vendedor de reparar a janela quebrada. O primeiro pano de fundo dessa história todos veem que é isso – e não tem nada de errado: o vidraceiro tendo trabalho a fazer; mas o que a grande maioria vai deixar passar é o que o vendedor deixou de fazer ao empregar o dinheiro que estava guardado e não era para esse fim.


No exemplo, o autor cita o fato de o vendedor usar o mesmo dinheiro (seis francos) para trocar seu sapato que já estava gasto ou talvez adicionar um novo livro à sua biblioteca e com isso fazer movimentar o dinheiro de uma outra forma. Vemos aqui os exemplos do que é visto (o mercado do vidraceiro) e o que é não é visto (o mercado do sapateiro ou do bibliotecário).


Em “Simplicidade e Luxúria”, vemos a história de dois irmãos que, ao receber herança de um pai (cada um recebe uma de 50.000 francos), tomam caminhos distintos quanto a como fazer uso de tal valor. Enquanto um (Mondor) faz usos visíveis como filantropia, renovação de móveis seguidas vezes ao ano, muda equipagens mensalmente e com isso alcança a benção de seu povo, pois essa renda circula no mercado, o outro, Aristus, adota um plano de vida diferente do seu irmão: vive uma vida moderada, pois consideras as despesas, pensa nas perspectivas de seus filhos. Aristus economiza.


Na sequência da história, o autor mostra de forma detalhada que o modo de vida de Aristus não é assim tão malévolo e que, tal como seu irmão, sua renda também é movimentada no mercado do seu povo, mas de uma forma planejada e sistemática – isso é o que não é visto, pois não tem a pompa do modo de uso da renda do seu irmão Mondor.


Como as duas histórias acima, o autor também nos presenteia com outras dez, exemplificando como somos levados – intencionalmente ou não – a enxergar somente o primeiro plano da situação, quando o correto é alargarmos nosso olhar e tirarmos uma fotografia mais ampla, do todo. Quando fazemos isso, conseguimos ter um poder de discernimento maior sobre os mais variados assuntos e assim tecermos opiniões mais inteligente.


Quando ouvimos dizer, por exemplo, que o pesticida é algo ruim para o ser humano e a natureza, podemos (isso é o visível) trazer à tona que o criador do pesticida foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz por salvar milhões de pessoas da fome com seu invento. Passando pela linha do tempo até chegar em tempos mais próximo dos dias atuais, trago-lhes à memória o caso ocorrido na cidade de Maricá-RJ, que disponibilizou em 2014 tarifa zero para a população de sua cidade numa quantidade limitada de linhas de ônibus coletivo, chegando em 2024 a todo o transporte coletivo. O que se vê é a boa ação do munícipio para com seus cidadãos, com o oferecimento de forma gratuita de um serviço outrora pago, afinal, segundo levantamento da própria prefeitura, só no ano de 2023, a população economizou cerca de 160 milhões de reais (considerando custo médio da passagem e a quantidade média de usuários do transporte coletivo). Mas o que não se vê pode ser: 1 – de onde virá o dinheiro para o pagamento dessa passagem? Afinal a empresa que fornece serviço de transporte coletivo continuará a ter que receber pelo serviço; 2 – com a gratuidade do serviço, ele tenderá a ter um aumento da procura e, com isso, mais superlotação, mais atrasos.


A verdade é que todos os dias são colocadas diante de nós situações como as descritas acima com aquilo que é visível e aquilo que não é visível. Muitas das vezes, deixamos passar aquilo que não é visível e perdemos a oportunidade de falarmos ou discutirmos mais profundamente sobre o tema. Em outras oportunidades, a correria do mundo moderno nos leva avaliarmos apenas a superficialidade da história, do artigo, do assunto, da reportagem, enfim, o meio não importa. O que importa é que corremos o risco de sermos rasos quando decidimos ou somos levados a olhar para apenas o que é visível.


Não existe um mais importante que o outro (o que se vê ou o que não se vê), os dois são importantes, e cabe a cada um de nós atentarmos para todas as nuances das histórias e situações que são colocadas diante de nós, seja na economia, política, no social, na educação etc. Olhemos sempre para essas duas faces e assim alcançaremos a profundidade em qualquer assunto. Podemos até não nos tornar especialistas, mas nunca seremos rasos.


*Fernando Carreiro Almeida Soares é Agile Master (AM), Pós-Graduado em MBA Executivo em Tecnologia da Informação – Liderança, Governança e Negócios, Qualifier do IFL – Instituto de Formação de Líderes Goiânia. Seu e-mail para contato é fernandocarreiro@outlook.com. Está no Instagram como @fernandocarreiroas









PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/pensadores/o-que-se-ve-e-o-que-nao-se-ve-3/

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