Percival Puggina
“Bets” é o novo nome do jogo. Todos sabem que o jogo só enriquece a empresa que o promove. A casa sempre ganha e o apostador, primeiro perde; depois, na tentativa infrutífera de recuperar o que perdeu, se endivida. Mesmo assim, continua jogando porque, em pouco tempo, o corpo do jogador passa a exigir doses crescentes daqueles hormônios que valem mais do que o dinheiro perdido.
Escandalizou-se o governo ao saber que, aos bilhões, a grana do Salário Família estava indo para as bets. Aborreceram-se bem menos os meios de comunicação que recebiam afetuosamente o dinheiro dos anúncios. Espantaram-se os defensores da liberdade sem freios. Alarmaram-se os empreendedores, os produtores de bens e serviços que sentiram a queda da demanda por redução de recursos antes disponíveis à subsistência das pessoas.
Quem poderia antever algo tão inusitado quanto seres humanos presumivelmente racionais abrindo mão do alimento pelos prazeres de um vício, não é mesmo? Até parece que nunca viram um dependente químico vender a comida da geladeira e a geladeira para adquirir a dose urgente de uma droga qualquer. Onde foi parar a liberdade? A utopia, sabe-se, é outra droga!
Males existem e evitá-los é conduta sábia. Com muitos, somos obrigados a aprender a conviver porque se arraigaram no ambiente social. Burrice é buscar males que não temos, abrir-lhes as portas, dar-lhes espaços publicitários, entremeá-los com atividades esportivas e esperar que o estrago causado não seja percebido.
O jogo de azar é uma atividade econômica predatória. Drena os recursos que a sociedade produz e que, em mãos prudentes, seriam orientados para seu consumo e bem estar. E o que entrega o jogo aos imprudentes? Emoções enfermiças, desarranjos psicológicos, frustração e miséria.
Nem a vida é um modo de jogar, nem o jogo é um modo de viver. Disse alguém: "Apresenta-me um jogador e eu te apresentarei um perdedor”.
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