ISAIAS LOBÃO
Introdução
Muitos defensores da liberdade, com toda razão, demonstram um alerta constante e preocupante diante da dominância exercida pela Escola de Frankfurt e pelas doutrinas de Antonio Gramsci. A inquietação diante da ideologia de gênero, da interseccionalidade, do pensamento “woke” e da Teoria Crítica Racial é justificada e compreensível. Esses fenômenos representam um ataque direto aos fundamentos da ordem social e econômica, sendo testemunho de uma revolução cultural que visa a corroer as bases da civilização ocidental.
A crescente publicação de obras críticas e os debates acalorados sobre esses temas indicam um esforço coletivo para resistir a essas influências nefastas. No entanto, em uma conversa perspicaz com meu estimado amigo Alex Catharino, ele destacou a importância de adotarmos uma visão mais abrangente e precisa sobre o cenário político no Brasil. Segundo ele, o Partido dos Trabalhadores (PT), embora não se alinhe diretamente com os movimentos culturais revolucionários, emprega uma abordagem igualmente insidiosa. Catharino observou que o PT não é um partido gramsciniano, mas sim althusseriano. Em outras palavras, o partido não se preocupa com a pureza ideológica marxista no plano cultural, mas sim com uma forma de domínio althusseriano sobre as instituições. Seu objetivo é a conquista e manutenção do poder por meio de estratégias pragmáticas e alianças oportunistas, desconsiderando qualquer coerência ideológica em favor de uma hegemonia pragmática.
É notável a disposição do PT de formar alianças com figuras e oligarquias da velha guarda, como José Sarney e Renan Calheiros. Esses acordos não revelam uma adesão ao marxismo cultural per se, mas sim uma astuta manipulação das estruturas de poder estabelecidas para garantir a perpetuação de sua influência e controle. Assim, enquanto enfrentamos o avanço das ideias de esquerda na cultura em outras frentes, não devemos subestimar a ameaça representada por estratégias políticas que buscam uma dominação pragmática das instituições disfarçada de compromisso ideológico superficial.
Aparelhos ideológicos do estado
Louis Althusser (1918-1990), filósofo francês de origem argelina, lançou uma luz penetrante sobre o caráter insidioso da dominação política com sua teoria dos aparelhos ideológicos do estado. De maneira incisiva, Althusser revela que a elite dominante, para garantir e perpetuar seu controle sobre a sociedade, institui mecanismos destinados a assegurar a reprodução das condições materiais, ideológicas e políticas que sustentam a exploração. Em termos mais claros, o estado se divide em dois grandes segmentos: os aparelhos repressivos e os aparelhos ideológicos, ambos servindo para subjugar e controlar a classe dominada.
Os aparelhos repressivos do estado compreendem o governo, a administração pública, o exército, a polícia, os tribunais e as prisões. Esses órgãos utilizam a força e a coerção para manter a ordem e garantir a submissão dos cidadãos. Contudo, a manutenção da ordem e da obediência não se limita ao uso da força bruta. Ela é igualmente sustentada pelos aparelhos ideológicos do estado, que incluem instituições como escolas, igrejas, famílias, sistemas jurídicos, política, sindicatos, cultura e mídia. Esses aparelhos ideológicos desempenham um papel essencial não apenas na disseminação da ideologia oficial do estado, mas também na garantia de que a população não apenas aceite, mas ativamente perpetue o status quo.
Althusser argumenta que esses aparelhos ideológicos vão além de simples veículos de transmissão de ideologia; eles moldam ativamente a mentalidade da população. Ao submeter os indivíduos a um processo sistemático de socialização ideológica, esses aparelhos asseguram que os cidadãos não apenas aceitem, mas defendam vigorosamente a ordem vigente. Esse processo de condicionamento ideológico é crucial para a manutenção e consolidação do poder da elite dominante ao longo das gerações. Os aparelhos ideológicos, assim, funcionam como mecanismos sofisticados de controle social, estruturando e operacionalizando suas doutrinas através de uma rede complexa de discursos e práticas que sustentam o sistema vigente.
Vários exemplos ilustram de forma incisiva como os aparelhos ideológicos do estado operam para consolidar o controle e a dominação. No sistema educacional, as escolas, longe de serem instituições voltadas para o verdadeiro aprendizado e desenvolvimento do verdadeiro senso crítico, se transformam em agências de doutrinação política. Em vez de promover o pensamento independente, as escolas inculcam uma visão de mundo alinhada com a ideologia dominante. A educação, que deveria ser um espaço para a exploração do conhecimento e o questionamento, torna-se um veículo para a disseminação de uma narrativa única e uniforme que serve aos interesses da elite no poder.
No campo do ativismo judicial, observamos uma clara usurpação das funções legislativas que deveriam ser exercidas pelo Congresso Nacional. Os tribunais, em vez de se limitarem à interpretação da lei, frequentemente se imiscuem na criação de políticas e leis, desafiando a separação dos poderes e impondo uma agenda ideológica que reflete os interesses de uma minoria influente. Essa usurpação concentra ainda mais poder nas mãos de uma elite judiciária que age de forma arbitrária e sem responsabilidade direta perante a população.
A mídia, por sua vez, desempenha um papel crucial nesse esquema de controle. Ao distorcer informações e manipular a narrativa, a mídia não apenas desqualifica os adversários do governo, mas também promove uma visão tendenciosa que favorece os interesses do poder estabelecido. Essa distorção da verdade é um instrumento de controle social, moldando a opinião pública e reforçando a hegemonia ideológica dos grupos no poder.
No domínio da religião, o panorama é igualmente preocupante. Muitas instituições religiosas, em sua busca por influência e poder, acabam se rendendo aos encantos da elite dominante em troca de benefícios e concessões. Esse alinhamento, em vez de promover uma moralidade independente e crítica, se transforma em uma troca de favores, onde a integridade e a ética são sacrificadas em prol de migalhas de poder e prestígio.
Esses exemplos revelam como a interseção de diferentes aparelhos ideológicos cria um sistema integrado de controle e dominação. O estado, ao empregar esses mecanismos, não só assegura a manutenção da ordem vigente, mas também reforça e perpetua a ideologia dominante. Em suma, ao compreender a interação entre os aparelhos repressivos e ideológicos, torna-se evidente como o estado manipula para garantir sua própria perpetuação e o domínio contínuo sobre a sociedade. Essa perspectiva não só expõe o caráter autoritário do estado, mas também ilumina a necessidade urgente de questionar e desafiar essas estruturas de poder que moldam e restringem a liberdade individual.
Conclusão
O exame dos aparelhos ideológicos e repressivos do estado revela um panorama sombrio de manipulação e controle. Ao entender como a educação, a mídia, a religião e o ativismo judicial são usados para reforçar a dominação e a ideologia dominante, torna-se imperativo reconhecer e combater essas formas sutis de opressão. A manipulação ideológica não interessa somente aos acadêmicos, mas é uma realidade palpável que afeta a liberdade e a autonomia dos indivíduos. A resistência a esse sistema requer uma consciência crítica e um engajamento vigoroso na defesa dos princípios de liberdade e autonomia. Só assim poderemos aspirar a uma sociedade onde a verdade não seja distorcida, o poder não seja monopolizado e a liberdade não seja comprometida pela intrincada teia de controle que o estado e seus aliados ideológicos tecem sobre nós.
*Isaias Lobão é professor de História e Teologia. Casado com Talita, pai da Ana Clara e do Daniel. Presbiteriano. Gosta de pamonha de sal e de escutar músicas dos anos 1970. Visite seu site: http://isaiaslobao.com.br
PULBICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/os-aparelhos-ideologicos-de-estado/
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