Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 19 de maio de 2023

'A nova mentira dos ecoterroristas',

  por Ricardo Felício


Agora eles acusam a agricultura praticada no bioma de diminuir as chuvas nas Regiões Sul e Sudeste do país


Há pelo menos uns cinco anos, a cobiça dos ambientalistas pelo Cerrado se intensificou. Assim que eles observaram a enorme prosperidade que a região desse bioma apresentou para a agricultura, os ataques, munidos com pseudociência e mitos, tomaram uma proporção avassaladora. O objetivo é fazer de tudo para primeiramente inibir e, depois, derrubar todo o potencial que a área representa.

Na segunda semana de maio, o alvo foi o Cerrado. Segundo os “especialistas” ouvidos por reportagens propagadas pela imprensa velha, a água no Brasil acabaria por causa da produção agrícola nesse bioma. Na realidade, uma afirmação fraudulenta desse tipo mereceria ser enquadrada, no mínimo, como terrorismo. Ela propaga um medo infundado, objetivando cercear as forças produtivas da região, amedrontar o país, difamar o trabalho daqueles que batalham dia após dia, além de ajudar a promover mais projetos de lei insanos, num Brasil que já tem cerca de 66% de sua área bloqueada para atividades humanas. Isso sem mencionar o assassinato da ciência climática e geográfica.

Das atrocidades que devemos aturar dos “especialistas” que visam a pregar o discurso ideológico com afirmações que beiram o ridículo, temos a inclusão do “ecocídio” (palavra que nem existe no léxico) de que a vegetação do Cerrado controla o regime de chuvas, inclusive dos Estados do Sul do Brasil, e que isso traria um apagão elétrico.

Como se não bastasse o absurdo de que árvores da Amazônia fazem chover no Sudeste, agora querem nos fazer crer que a vegetação do Cerrado controla precipitações e rios do Sul do Brasil. A vegetação é dependente do clima e de seus elementos. A temperatura e os totais pluviométricos, em especial estes últimos, são os parâmetros mais determinantes para o tipo e a densidade da massa vegetal que envolve as regiões do globo. Isso é ciência consolidada, utilizada por meteorologistas e climatologistas consagrados há mais de um século, como Julius von Hann, Wladimir Köppen, Rudolf Geiger e Augustin Candolle, para os quais um dos traçadores atmosféricos utilizados para realizar as classificações climáticas foi a vegetação. Em outras palavras, a vegetação do bioma amazônico é daquele jeito por causa da predominância do seu clima. Da mesma forma, o Cerrado apresenta-se com as suas características peculiares porque o clima atuante sobre a sua área assim o permite.

O Cerrado também é conhecido como a Savana Brasileira. E, quando lembramos de savana, imaginamos as paisagens africanas. Árvores retorcidas e isoladas, vegetação mais arbustiva e muitas vezes capinal, formando um estrato herbáceo. Essa área representa cerca de 25% do Brasil (algo perto de 1,9 milhão de quilômetros quadrados) e se localiza majoritariamente no Centro-Oeste — suas áreas periféricas atingem outras regiões, como a Norte e a Nordeste, entre outras. Suas características climáticas são bastante interessantes e definem a paisagem e os aspectos não só da vegetação, mas também do solo.

Dentre os elementos que a classificam estão os totais pluviométricos. As chuvas podem alcançar 1.500 milímetros por ano, mas não são bem distribuídas. Em geral, entre maio e setembro temos a estação seca da estiagem, em que os totais pluviométricos caem muito. A falta de nebulosidade desse período faz com que a incidência de radiação solar seja bastante alta por meses, aumentando as temperaturas, mas, principalmente, reduzindo drasticamente a umidade. A radiação intensa aquece em demasia o solo, e, durante a noite, as madrugadas são muito frias pela perda radiativa rápida. Essa alta amplitude de temperaturas do período causa um intemperismo físico intenso no solo, deixando-o cada vez mais com a aparência de se esfarelar. 


O Cerrado representa cerca de 25% do Brasil (algo perto de 1,9 milhão de quilômetros quadrados) e se localiza majoritariamente no Centro-Oeste | Ilustração: Shutterstock

As chuvas começam por volta de outubro e podem se estender até abril. Isso permite classificar esse clima como tropical sazonal, ou seja, há estações bem definidas dentro do ano hidrológico. Só por esse motivo, cairiam por terra todas as afirmações esdrúxulas realizadas pelos “especialistas” que propuseram que a vegetação é determinante para provocar chuvas para abastecer os rios que chegam à Região Sul do Brasil, em especial à Bacia do Paraná. Pergunto-me como isso ocorreria. Os vegetais tirariam férias durante o período de estiagem? Ainda temos o fator da área que envolve esse segundo maior bioma do Brasil. Como se limita a oeste-noroeste pela exuberante Amazônia e a leste-nordeste por áreas mais secas pelo efeito da continentalidade (afastamento do mar), entre outros fatores, não existe uma homogeneidade na cobertura vegetal da região. 

Ainda dentro dos absurdos, vimos a afirmação de que a vegetação contribui para levar água para os aquíferos, o que não tem o menor fundamento. A vegetação é composta de árvores tortuosas, que possuem raízes profundas justamente para procurar água no subsolo em níveis bem baixos. Segundo o biólogo e professor Leomir Tesser, 99% da água absorvida pelas raízes é elevada pelos vasos lenhosos, onde a planta a perde por transpiração, formando uma espécie de bomba. Esses mesmos vasos lenhosos são bastante capilarizados para permitir que a água transporte os nutrientes do solo para o interior das células vegetais. Nas folhas, ocorre a fotossíntese. Na fase final, há liberação de uma parte bem pequena de água, e o oxigênio é refugado. Não existe um processo inverso, como afirmaram, bem como não há transformação dessa evaporação em precipitação. A diferença de escala entre o que vem de umidade pela atmosfera supera magistralmente o que é liberado pela pobre vegetação do Cerrado. 

De fato, se observarmos a quantidade de água absorvida pelo solo e pelas plantas, fica claro que quem abastece o aquífero são as chuvas, e não as plantas, tornando esse exemplo tão esdrúxulo como dizer que a evapotranspiração amazônica faz chover no Sudeste. Ademais, fica também muito clara a diferença entre a atividade agrícola, que é rasa em termos de uso do solo, e a vegetação nativa, que se aprofunda até pelo menos uns 7 metros. A primeira usa água de chuvas e irrigação, enquanto a segunda busca águas mais profundas, consumindo mais água e reduzindo a recarga dos aquíferos. Exatamente o contrário do que pregam.

Se não bastasse tudo o que apresentamos, os “especialistas” ainda afirmaram que as secas do Paraná foram causadas pela agricultura e pelo desmatamento do Cerrado. Como tal absurdo pôde acontecer no ano de 2021 e não se perpetuou como uma escalada de secas cada vez mais devastadoras? Simplesmente porque não é esse o mecanismo. O que tivemos foram três anos de La Niña consecutivos que, como um fenômeno global, atingiram a região, provocando pouca chuva na área que cobre o corredor noroeste-sudeste do Brasil, começando no Estado do Amazonas, seguindo por Rondônia, Mato Grosso do Sul e desembocando nos Estados do Sul e Sudeste. Essa é a carga principal que abastece as bacias do Paraná — e que segue também uma sazonalidade, com períodos de cheia e de estiagem. Nada a ver com árvores, vegetação ou uso da terra do Cerrado. Mito e fantasia atrelados à pseudociência para criar um medo de “apagão” energético injustificável.

É interessante relatar que os assuntos abordados aqui são ensinamentos que pertencem ao estudo secundário das escolas. É de estranhar que profissionais supostamente esclarecidos façam tais afirmações sem nenhum embasamento, contrariando conhecimentos fundamentais, apenas para levantar uma bandeira ideológica ambientalista. 

Esse terrorismo climático-ambiental sem fundamento precisa acabar, principalmente quando é propagado dentro das salas de aula, com material preparado por pessoas desqualificadas, que assustam as crianças e descarregam sua ideologia destrutiva na mente dos adolescentes, na tentativa única de cooptar adeptos para uma causa infernal. Ademais, observa-se que certos acadêmicos e ONGs não precisam produzir nada, pois recebem seu sustento do dinheiro público, cobrado de impostos pagos por quem mais produz neste país. Aqui fica o alerta da atalaia — a guerra pelo Cerrado está apenas começando. Que os interessados se preparem.


Revista Oeste
















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