por Brendan O'Neill, da Spiked
O ativismo trans se tornou quase uma caça às bruxas para mulheres desobedientes
Imagine se políticos britânicos conhecidos fossem fotografados em uma manifestação em que alguém estivesse segurando um cartaz dizendo “Cortem as cabeças de pessoas de cor”. Uma manifestação em que houvesse expressões explícitas e horríveis de violento desprezo por pessoas negras que supostamente têm opiniões erradas. Uma manifestação em que fosse dito que pessoas dessas minorias étnicas não deveriam ser apenas executadas, mas comidas também. “Eu como pessoas de cor” estaria em um dos cartazes. Haveria um furor, e com razão. É improvável que esses políticos mantivessem o cargo por muito tempo.
Bem, o equivalente sexista desse cenário de fato aconteceu em Glasgow, no último sábado. Políticas foram vistas diante de cartazes de protesto que fantasiavam sobre atos de violência preconceituosa, não em relação a negros desobedientes, mas em relação a mulheres moralmente desobedientes. TERFs, que é como elas como são conhecidas na sigla em inglês, significa “trans-exclusionary radical feminist” — ou feminista radical transexcludente —, mas na verdade quer dizer bruxa, vadia, megera, gagá. Qualquer um que já tenha visto ativistas trans radicais dispararem o termo “TERF” não tem dúvidas sobre a ameaça misógina que está por trás desse xingamento de quatro letras. No entanto, apesar de haver preocupações sobre o que aconteceu em Glasgow, não houve a reação que seria de se esperar.
As figuras presentes incluíram Kirsten Oswald e Kaukab Stewart, respectivamente do Parlamento britânico e do Parlamento escocês, membros do Partido Nacional Escocês. Elas estavam em um ato pró-trans em que as pessoas estavam manifestando apoio ao projeto de lei de reconhecimento de gênero de Nicola Sturgeon e indignação à decisão do governo de Westminster de bloqueá-lo. Oswald e Stewart foram fotografadas com sorrisos largos enquanto um homem atrás delas brandia um cartaz dizendo “Decapitem as TERFs”. Outro dizia “Eu como TERFs e conservadores”. JK Rowling resumiu essa cena perturbadora com sua típica concisão: “Políticas maravilhosamente gentis e progressistas posando orgulhosas diante de cartazes pedindo que mulheres sejam decapitadas e comidas”.
A few of Scotland’s wonderfully progressive and kind politicians, posing proudly in front of banners calling for women to be decapitated and eaten. pic.twitter.com/satQhRojbA
— J.K. Rowling (@jk_rowling) January 21, 2023
Oswald e Stewart afirmam não ter visto os cartazes (talvez “uma nova forma de cegueira temporária tenha surgido entre a classe política escocesa”, comentou Rowling). Elas afirmam odiar o que os cartazes diziam. Tudo bem. Vamos dar às duas o benefício da dúvida. Com certeza não vamos cancelá-las, ainda que o cancelamento seja, inquestionavelmente, o destino que recairia sobre o político que fosse fotografado ao lado de um cartaz que dissesse “Decapitem as pessoas de cor”. Já temos cancelamento suficiente.
Mas existe uma pergunta muito importante que Oswald, Stewart e os demais apoiadores de Sturgeon naquele ato de Glasgow precisam responder: vocês podem não ter visto os cartazes, mas ninguém notou a febre de ódio contra as mulheres que se tornou uma característica crucial da ideologia transgênero? Ninguém percebeu a bile misógina vertendo não só da manifestação em Glasgow de que vocês participaram alegremente, mas também de boa parte do lobby trans? Como vocês podem não saber que, apesar de “Decapitem as TERFs” ser novidade, houve muitas explosões de fúria com toques de violência direcionados às TERFs nos últimos anos, tanto na internet quanto fora dela? Não ver dois cartazes cheios de ódio é meio que perdoável; não enxergar que o ativismo trans agora parece consistir de pouco mais que homens furiosos gritando “bruxa” para mulheres que cometeram a temeridade de discordar deles, não.
A ideia fundamental do movimento trans contemporâneo — de que “mulheres trans são mulheres” — é em si misógina
Precisamos falar sobre o ódio pelas TERFs. Ele está fora de controle. É a forma mais veemente de preconceito no Reino Unido neste momento. Nos últimos dias, não só vimos homens com ilusões de gênero em Glasgow dizendo “Decapitem as TERFs”, mas também vimos a revista Reduxx revelar a identidade de um ativista trans escocês — um homem — que escreveu tuítes violentos e horríveis sobre alguém avançar com o carro em uma reunião de mulheres críticas da teoria de gênero organizada por Kellie-Jay Keen, para talvez vermos as TERFs “explodindo como sacos de lixo cheios de feijões assados no seu para-brisa”. O mesmo jihadista de gênero falou em matar Rosie Duffield com uma arma e JK Rowling com um martelo.
Um pouco abaixo na escala mental anti-TERF, também temos uma vereadora do Partido Nacional Escocês em Dundee colocando o feminismo radical na mesma conta que o nazismo. Em um ato pró-trans, ela disse que precisamos nos posicionar contra o “ódio” (diga isso para os seus camaradas!) porque “vi em primeira mão quando viajei… para um lugar chamado Auschwitz”. Usar as atrocidades do Holocausto para demonizar mulheres por simplesmente não quererem homens em seus refúgios, esportes e vestiários? Todo dia vemos um novo fundo do poço nesse lobby. Alguns meses atrás foi relevado que o secretário de igualdade do Partido Nacional Escocês, que foi fotografado com Sturgeon, tinha escrito tuítes dizendo que queria “quebrar a cara de algumas TERFs”. Em 2021, um pesquisador do mesmo partido foi suspenso de Westminster quando foi revelado que ele havia compartilhado um tuíte defendendo a violência armada contra feministas radicais.
Um partido político que abriga homens que sonham em agredir mulheres, cujos representantes eleitos são vistos ao lado de placas que pedem a decapitação de mulheres, cujos vereadores comparam mulheres que defendem os direitos de seu sexo com as pessoas que supervisionaram o massacre em escala industrial dos judeus da Europa tem um problema muito sério, não tem? “BRUXA, BRUXA, BRUXA!”, uma ativista trans gritou para uma feminista radical em uma manifestação em Edimburgo, em 2021, resumindo a confusão sexista que a Escócia se tornou sob a tirania de gênero de Nicola Sturgeon. No ano passado, Sturgeon publicou um pedido público de desculpas pelos julgamentos das bruxas que abalaram a Escócia entre os séculos 16 e 18. Mas quando vai se desculpar pela caça às bruxas modernas que ela mesma claramente ajudou a facilitar?
O ódio sexista é uma realidade cotidiana para as mulheres que questionam a ideia de que é possível mudar de sexo. Veja os trechos em que multidões de homens mascarados gritando “escória maldita” e “lixo” para Kellie-Jay Keen e suas amigas TERFs. Veja as ameaças de estupro e morte que JK Rowling recebe toda semana. “Você é a próxima”, um delinquente disse quando ela expressou tristeza pelo ataque a Salman Rushdie. Ou a intimidação de baixíssimo nível que ocorre em praticamente toda reunião das TERFs. Vai sempre haver grupos de homens do lado de fora de encontros das feministas radicais; homens horrorizados diante da ideia de mulheres conversando entre si sobre seus direitos; homens que têm a crença ridícula de que sentir sua “feminilidade” e usar batom faz deles mulheres também. Mulheres melhores, na verdade. Como tuitou India Willoughby no fim de semana, “Sou mais mulher do que JK Rowling algum dia vai ser”. Isso também é misoginia. A ideia de que um homem — sim, India é um homem — vive a feminilidade melhor que as mulheres é prova da visão depreciativa das mulheres que é cultivada pela seita trans.
I’m more of a woman than JK Rowling will ever be. https://t.co/QuzqhtqzdP
— India Willoughby (@IndiaWilloughby) January 22, 2023
Qualquer movimento que atraia tantas pessoas intolerantes realmente precisa se repensar. Qualquer ativista que ajude a trazer de volta a moda de chamar mulheres de bruxas realmente precisa fazer uma séria reflexão. Porque a questão é: ainda que sejam exceções no culto trans que chamam mulheres de bruxas, fazem ameaças de morte e gritam “chupe meu pau de mulher”, essas grosserias só expressam com mais desprezo e ferocidade a misoginia que é inerente ao ativismo trans moderno.
A ideia fundamental do movimento trans contemporâneo — de que “mulheres trans são mulheres” — é em si misógina. Sua redução da condição da mulher de um fenômeno biológico, social, relacional a uma roupa que qualquer um pode vestir, até mesmo pessoas que têm pênis, é profundamente sexista. Ela desumaniza as mulheres. E nega a especificidade de suas experiências. Ela torna a condição da mulher uma sensação, algo trivial. Então, sim, ao dizer que para se tornar uma mulher basta passar três meses usando um vestido, Sturgeon está contribuindo com a misoginia que alimenta a ideologia de gênero do século 21.
O mantra “mulheres trans são mulheres” fundamenta a volta do pensamento misógino. Existe um rastro visível desse grito mainstream para os gritos nas margens de “puta” para qualquer mulher que afirme que mulheres trans não são mulheres, que ser mulher é mais do que uma sensação e uma imagem. O ódio violento pelas TERFs talvez venha basicamente de indivíduos instáveis on-line, mas ele expressa o sexismo e a intolerância que são a chave fundamental do ativismo trans de modo mais amplo, e em especial sua crença de que um homem pode ser uma mulher. Precisamos de uma reação firme contra o ódio pelas TERFs e em defesa do que está sendo ameaçado por essa nova caça às bruxas — os direitos das mulheres, a liberdade de expressão e a verdade científica.
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show.
Ele está no Instagram: @burntoakboy
Revista Oeste
PUBLICADAEMhttp://rota2014.blogspot.com/2023/02/os-jihadistas-de-genero-estao.html
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