Rodrigo Constantino:
Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Barroso, Toffoli, Lewandowski: que Corte constitucional resiste a um time desses?
OBrasil é o país do futuro, disse Stefan Zweig décadas atrás. Para muitos fatalistas, essa seria uma previsão inalcançável, um alvo móvel, o futuro nunca se tornando o presente. Afinal, o Brasil não é para amadores, diz o brocardo. Nosso país nunca foi muito sério, eis a triste verdade. Nossa democracia nunca se estabeleceu com pilares sólidos. Nossa república permaneceu inacabada, sem o devido respeito à coisa pública. O Estado de Direito nunca passou de um slogan vazio. No Brasil, o crime compensa.
Aí veio a Lava Jato, operação que mandou para a cadeia políticos poderosos e grandes empresários. Com as manifestações populares a partir de 2014, o gigante despertou, o povo tomou as rédeas de seu destino, passou a se interessar mais por política. Com a facada de um esquerdista em Bolsonaro, o impensável aconteceu: um conservador “outsider”, que apesar de décadas como deputado nunca fez parte do clubinho, foi eleito presidente.
Um governo de direita, finalmente! Uma equipe técnica, ministérios alocados por critérios decentes, e o povo nas ruas clamando pela reforma previdenciária. Um espanto! Crítico do presidente no começo, acabei dando o braço a torcer e tive de reconhecer, em especial após aquela fatídica reunião ministerial se tornar pública, que ali havia patriotas com o sincero compromisso de melhorar o país. Bolsonaro tem muitos defeitos, mas era atacado de forma pérfida pela mídia por suas virtudes.
O sistema queria se livrar do estranho no ninho, daquele que fechou torneiras, dificultou a vida de quem estava acostumado com os esquemas de corrupção. Petistas, tucanos, empresários oportunistas, veículos de comunicação corrompidos, sindicalistas, artistas e acadêmicos com saudades de tetas estatais e socialistas no comando, todos se uniram para derrubar Bolsonaro. E veio a pandemia…
O gigante acordou. Mas o risco de o Brasil degringolar é muito alto. O retrocesso é inevitável. No longo prazo, mantenho algum otimismo
Era o pretexto para detonar Bolsonaro e explorar a situação contra o governo. A economia fica para depois. As mortes causadas pelo vírus chinês, que ocorriam no mundo todo, no Brasil eram responsabilidade do presidente. “Genocida”, berravam os canalhas. E a narrativa contou com o esforço homérico da velha imprensa, até seduzir e enganar uma classe alta alienada. Bolsonaro, claro, contou com sua dose de erros, principalmente na postura, o que ajudou no discurso dos adversários. Plantaram vento e colheram tempestade, exatamente como desejavam.
Mesmo assim, com pandemia, com todo o sistema unido contra ele, Bolsonaro tinha chances concretas de reeleição. O passo seguinte foi esgarçar de vez o duplo padrão e o autoritarismo. Soltaram Lula, tornaram-no elegível com malabarismos bizarros, usaram o TSE para protegê-lo de críticas, enquanto perseguiam Bolsonaro e seus apoiadores. Para “salvar a democracia” de uma ameaça fantasma que criaram, avançaram contra as instituições democráticas e delegaram poder abusivo a um ministro descontrolado. O “fiador da democracia”, aquele que agiu como um tirano.
Não obstante tudo isso, Bolsonaro quase venceu. E isso considerando o processo eleitoral opaco, sem transparência, sem auditoria possível. Nas urnas mais modernas, com mais possibilidade de fiscalização, Bolsonaro venceu. Mas tinham as urnas antigas. Tinha o Nordeste, a miséria a ser explorada pelos demagogos de sempre. Tinha Alexandre de Moraes. E, por pouco, o sistema declarou vitória do “ladrão que quer voltar à cena do crime”, como disse Alckmin antes de debandar para o lado dele. E tratou como criminoso quem ousasse questionar esse resultado.
Os patriotas passaram, então, a depositar toda a esperança nas Forças Armadas, esgotados os recursos pelas vias institucionais. Mas parece que as autoridades envolvidas julgaram que o remédio poderia ser pior do que a doença. Jamais saberemos. Eis, porém, o que sabemos: que o sistema é bruto, companheiro. E podre e carcomido. E muito poderoso. Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Barroso, Toffoli, Lewandowski: que Corte constitucional resiste a um time desses? Rodrigo Pacheco, Arthur Lira: que Congresso pode ser independente e patriota sob tais comandos? Globo, Folha de SP, UOL, Estadão: qual imprensa se mantém imparcial com tais lideranças?
Não quero concluir minha última coluna do ano em tom pessimista, derrotista. Mas tampouco permito que a esperança, sempre a última que morre, consiga turvar minha razão e se tornar a falsária da verdade. Sou realista, acima de tudo. Reconheço que muita coisa mudou, que não dá para colocar o gênio de volta na garrafa. O gigante acordou. Mas o risco de o Brasil degringolar é muito alto. O retrocesso é inevitável. No longo prazo, mantenho algum otimismo.
Os próximos meses, contudo, serão para lá de desafiadores. Tempos sombrios nos aguardam. Temos de recolher os cacos, aprender algumas lições importantes, e criar uma resistência robusta contra os corruptos, os socialistas. O objetivo será impedir um avanço muito grande, quiçá definitivo, dos verdadeiros golpistas que ameaçam nossa democracia e atentam contra nossas liberdades. O Brasil estava de fato mudando. Mas era óbvio que o império reagiria. Aquele Brasil de Paulo Guedes e gente séria, preparada e patriota colocando nosso país nos eixos foi apenas um sonho. Pareceu bem real, mas durou pouco. Agora vem o pesadelo, um filme de terror em câmera lenta. Estejamos preparados. Que venha 2023!
Revista Oeste
PUBLICADAEMhttp://rota2014.blogspot.com/2022/12/rodrigo-constantino-foi-apenas-um-sonho.html
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